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Prédios na Avenida Paulista, em São Paulo: pesquisa mostra que a maioria dos empresários considera a democracia a melhor forma de governo e defende a necessidade de eleições livres.
Prédios na Avenida Paulista, em São Paulo: pesquisa mostra que a maioria dos empresários considera a democracia a melhor forma de governo e defende a necessidade de eleições livres.| Foto: Unsplash

A ampla maioria do empresariado brasileiro considera a democracia a melhor forma de governo e defende a necessidade de eleições livres. As conclusões são resultado de uma pesquisa realizada pela Fundação Tide Setubal e o Instituto Sivis com o objetivo de investigar o grau de comprometimento do segmento empresarial com a democracia brasileira a partir da caracterização dos principais valores, atitudes e comportamentos políticos dessa esfera da sociedade.

No total, a pesquisa Valores Democráticos no Empresariado Brasileiro ouviu 417 empresários entre os dias 20 de maio de 8 de julho. A amostragem seguiu três variáveis para caracterização das empresas: região do país (Sudeste, Sul, Nordeste e Centro-Oeste/Norte), setor (serviços, comércio e indústria) e porte (pequena, média e grande).

Conforme o levantamento, 91% dos empresários ouvidos concorda que, “apesar de ter alguns problemas”, a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo. Fatia ainda maior do empresariado, de 98%, avalia ser importante que haja eleições livres e justas no país para que eles e seus negócios prosperem.

"Isso nos diz que esse segmento está bastante comprometido com a democracia, até mais do que esperávamos, e nos dá alguma esperança. Sobretudo porque a gente tem que visto que a ideia de que a democracia é importante para os negócios está se tornando cada vez mais clara. A democracia garante o império da lei, garante uma previsibilidade, uma estabilidade política e econômica que o empresariado tende a valorizar", observa o pesquisador Diego Moraes, do Instituto Sivis, um dos responsáveis pelo estudo.

O estudo revelou ainda que a maioria do empresariado brasileiro se mostra aberta ao debate: 83,7% consideram “aceitável” ou “muito aceitável” a existência da divergência e 74,1% dizem estar dispostos ou muito dispostos a mudar de opinião quando confrontados com argumentos convincentes apresentados por adversários políticos.

A maior parcela dos ouvidos também se mostrou avessa a relativizações. Perguntados se “em tempos difíceis, a mídia não deveria divulgar notícias que prejudiquem o governo ou os políticos que estiverem tentando melhorar a situação do país, mesmo que tais notícias sejam verdadeiras”, 65,1% disseram discordar.

Maioria do empresariado se vê como corresponsável pelas soluções

Os empresários também foram questionados sobre posicionamentos relacionados à cidadania. Nesse aspecto, 81,5% concordaram, total ou parcialmente, que eles também são responsáveis pela solução dos problemas sociais do país. Para Moraes, do Sivis, chama a atenção o crescimento progressivo daqueles que têm essa percepção de responsabilidade social, em paralelo ao porte das companhias.

"Quando esse dado é desagregado por porte das empresas, torna perceptível que as grandes companhias estão vendo muito fortemente como elas impactam as suas comunidades, em que medida elas têm um papel de formar cidadãos e ter dentro dos seus quadros mais tolerância, mas diversidade, mais confiança", avalia o pesquisador.

Nas pequenas empresas 79,6% concordam total ou parcialmente que são corresponsáveis pela solução dos problemas do país, número que sobe para 85,4% nas médias e avança ainda mais, a 94,7%, entre os empresários que comandam negócios grandes.

Ainda segundo Diego Moraes, o avanço da cultura ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança) tem demonstrado que existe uma série de variáveis relacionadas com uma cultura democrática das quais as empresas também podem se valer para melhorar sua performance.

"A gente sabe que tem muita água suja nessa questão do ESG, são muitas visões por vezes contraditórias, mas tem muita empresa trabalhando de uma maneira mais séria com relação a impacto social, impacto ambiental. [Além disso], com equipes mais pautadas em colaboração, tolerância, confiança, normalmente as empresas desempenham melhor", completa.

Homens são mais interessados em política; jovens estão mais satisfeitos com a democracia

Num recorte por gênero, os homens se consideram mais conhecedores e interessados em política do que as mulheres: 89% dos empresários do sexo masculino disseram acreditar que entendem bem os assuntos contra 68% das empresárias do sexo feminino. Já os homens interessados em política são 68%, contra 39% das mulheres empresárias.

A divisão referente à formação indica que os empresários mais escolarizados demonstram interesse substancialmente maior por política em comparação aos menos escolarizados. São 72,7% com muito interesse entre aqueles que têm ao menos pós-graduação, ante 59,8% entre os que têm até o ensino superior incompleto. A escolaridade mais alta também se reflete em maior propensão a rejeitar relativizações da democracia: 77,3% contra 61%.

Quando a avaliação se dá por faixa etária, 63,8% dos empresários idosos se consideram interessados pela política, contra 48% dos jovens. Além disso, a insatisfação com a democracia brasileira também foi mais alta entre os de mais idade: 67%, contra 45% dos jovens empresários.

Por fim, no campo dos valores, 82,5% dos empresários ouvidos reconheceram totalmente ou em parte que “ninguém deve ser sujeito à tortura, independentemente das circunstâncias” e 79,6% concordam com a noção de que pessoas aprisionadas também são merecedoras de respeito e dignidade.

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