Nas eleições para presidente, o PL de Jair Bolsonaro e o PT de Luiz Inácio Lula da Silva estão em lados opostos. Mas, em pelo menos um estado, a rivalidade entre um e outro não é necessariamente verdadeira. No Amapá, ambos estão na mesma coligação na disputa pelo governo estadual.
Candidato a governador, Clécio Luis (Solidariedade) conseguiu formar uma aliança que tem não só PT e PL, mas também o PDT de Ciro Gomes, outro candidato à Presidência em 2022. A chapa de Clécio conta ainda com Davi Alcolumbre (União Brasil), que tenta a reeleição no Senado.
Davi, que foi aliado de Bolsonaro, chegou a subir no palanque junto com petistas. Dias depois, porém, ressaltou que tem “o partido de Bolsonaro” com ele. Materiais promocionais de outros candidatos mostram a imagem do antigo presidente do Senado junto a fotos de Clécio e Lula.
Em entrevista ao jornal O Globo, o presidente do PT no Amapá, Antônio Nogueira, disse que não via problemas na aliança. “O Alcolumbre diz que vai com todo mundo”, exclamou.
No final de junho, o vice-presidente nacional do PT, deputado José Guimarães (CE), já havia afirmado, em entrevista à rádio Diário FM, que a intenção do partido era unificar o palanque de Lula em torno da candidatura de Clécio.
O político, que já foi vereador e prefeito em Macapá, foi filiado ao PT, ao Psol e à Rede antes de ir para o Solidariedade.
Lula, no entanto, tem aparecido nas redes sociais de outro candidato ao Senado, João Capiberibe (PSB). No dia 13 de julho, Capiberibe postou, no Twitter, a foto de um encontro com o ex-presidente. “Conversamos sobre o futuro do Amapá, da Amazônia e do Brasil. Sua energia é contagiante, sempre!”, escreveu.
PDT forma chapa com apoiador de Bolsonaro
No Maranhão, outra configuração inusitada se formou. O candidato do PDT ao governo do estado, Weverton Rocha, compôs uma chapa com Roberto Rocha (PTB) na disputa ao Senado.
O postulante ao Senado é apoiador do presidente Bolsonaro, e a coligação tem o apoio do PL. De outro lado, Weverton já chegou a afirmar, em vídeo publicado nas redes sociais, que é o “melhor amigo de Lula” no Maranhão.
O PT, porém, apoia oficialmente outra chapa. A coligação tem Carlos Brandão (PSB) disputando o governo e Flávio Dino (PSB) concorrendo ao Senado.
O que explica a “salada” partidária?
Otávio Catelano, doutorando em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afirma que alianças estaduais entre legendas que se opõem no cenário nacional estão relacionadas à configuração do sistema partidário brasileiro, que é extremamente fragmentado. Hoje o país tem 32 partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral.
O pesquisador explica que, quando muitos grupos políticos têm de se unir sob um mesmo partido, o custo para disputar o controle da legenda pode ser muito alto. Assim, ou esses grupos se separam, fundando novos partidos; ou a estrutura partidária acaba se tornando descentralizada.
“No Brasil, um caso clássico de partido que agrupa vários grupos diferentes e acaba sendo muito descentralizado é o MDB. Com mais líderes regionais, o partido tem dificuldade em emplacar candidaturas nacionais. Não é à toa que parte da legenda quer apoiar o Lula, outra parte, Bolsonaro, e um terceiro grupo é a favor da candidatura da [Simone] Tebet”, diz.
Com isso, os diretórios nacionais das legendas nem sempre têm controle total sobre o que ocorre nos estados.
Além disso, alguns colégios eleitorais são vistos como mais importantes, pelo tamanho e pela influência, o que acaba permitindo aos demais alguma flexibilidade. “O Amapá é um estado com poucos eleitores [só Roraima é menor, segundo dados do TSE]. Seria diferente se isso acontecesse em São Paulo [o maior colégio eleitoral do país]”, afirma Catelano.
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