Dizendo-se a única representante do "bolsonarismo" na eleição para o Governo do Paraná, Solange Ferreira Bueno (PMN) disputa, aos 55 anos, sua primeira eleição - e já como candidata a governadora do estado. Líder de manifestações em Curitiba contra o fechamento do comércio e de outras atividades durante os períodos mais críticos da pandemia de Covid-19, entre 2020 e 2021, a candidata cita que foi o descontentamento com as medidas tomadas pelos governadores que a levou a entrar para a política e lançar-se candidata.
Solange Ferreira abre a série de entrevistas da Gazeta do Povo com os candidatos ao Governo do Paraná.
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Por que a senhora é candidata ao governo do Paraná?
Eu sempre fui uma pessoa que observei muito todos os políticos e sempre critiquei quando necessário. E, nos últimos tempos, eu comecei a perceber que o político faz um discurso antes de entrar e outro discurso depois que se elege. Isso me intriga. Com isso percebi, também, que a população fica muito insatisfeita nessa trajetória de perceber que os políticos fazem diferente do que pregam. Eu fiquei bastante indignada com o que foi feito nesses dois anos e oito meses de pandemia. De toda essa atrocidade que fizeram com o povo. Jogaram os profissionais dentro de casa sem pedir licença, jogaram as pessoas, os empregados, para fora das empresas, sendo demitidos por um problema econômico que foi gerado nessa pandemia. E os políticos não estiveram lutando pelo povo, não estiveram compromissados com o povo porque uma pandemia é uma guerra e numa guerra a gente tem que sempre calcular os riscos para que se tenha a menor perda possível. Nessa perda, tem que se calcular também a renda, o salário. As pessoas adoeceram quando ficavam em casa. Quando você perde seu emprego, você entra num caos interno que propicia a baixa da sua imunidade; com isso, as pessoas começaram a ficar mais doentes ainda. Eu, percebendo isso, que vinha o presidente pedindo “não fiquem em casa, temos que trabalhar. A economia e a saúde precisam andar juntos”, que é a forma como eu penso também, comecei a me manifestar contra prefeitos e governadores que começaram a trancar o povo em casa. Eu organizei várias manifestações aqui em Curitiba, levando as pessoas às ruas para gritar “não fechem o comércio, não fechem as empresas, não fechem os restaurantes, não fechem nada. Nós vamos subsistir sem fechar o povo em casa”. Mas fecharam e, com isso, começou a quebradeira. Percebi que existia uma grande rejeição dos políticos atuais. E aí eu falei assim “bom, nunca fui candidata a nada. Eu nunca lutei pelo povo mais efetivamente, além da atuação em ONGs e no Rotary”. Aí foi onde eu decidi. Se eu não tiver coragem, se eu me acovardar agora, lá na frente, eu vou me arrepender, porque eu tenho condição de fazer algo pelo povo e com isso eu me revesti de coragem, revesti de pessoas dizendo que me apoiavam para que eu estivesse candidata hoje.
Mas a senhora é candidata pelo PMN, um partido que não tem fundo partidário, que não tem tempo de TV, que não tem direito assegurado de participação em debates. Como se viabilizar neste cenário?
Eu sou movida a desafios. Eu acredito que o que eu penso, o que eu sou está se alastrando como um movimento, como uma onda. E isso vai atingindo as pessoas, porque onde eu paro, aonde eu vou, as pessoas dizem que não tinham para quem votar e agora têm. Então eu percebo nisso uma grande possibilidade, porque eu nunca fui candidata a nada. Então, as pessoas olham para mim e veem a minha verdade, a minha vontade e a minha coragem. E elas me apoiam. É um jogo injusto, mas eu sempre estive na vida combatendo as injustiças, então, não é um problema. O que importa é que as pessoas entendam que aqui existe uma pessoa que quer brigar, quer lutar contra um sistema: por que todo mundo tem que votar em quem está liderando uma pesquisa? O paranaense tem que tirar isso da cabeça, que não vai perder seu voto se votar com consciência.
A senhora vem vivendo um problema com seu partido, com demissão da equipe de campanha, escolha do candidato a vice sem seu consentimento. Há resistência interna à sua candidatura?
Dentro do partido político existem regras, infelizmente, regras que a gente aceite ou não, goste ou não goste, você tem que cumprir. Tanto é que o presidente do meu partido colocou um vice sem me questionar. O presidente do partido se mostrou o Deus do Olimpo. Dizendo que eu não tinha que saber nada e que ele tinha que colocar um vice e que eu me contentasse com o que ele estava colocando. Não sei quem é a pessoa, não sei. Não tenho nada contra nem nada a favor. Mas eu quero alguém que eu conheça a índole. Eu conheça o que pensa para que eu possa andar junto. Eu não posso andar junto com uma pessoa que eu desconheço. Às vezes, até com quem a gente conhece, a gente quebra a cara. Você imagina não conhecendo. Não querem que eu seja candidata, estão com medo da gente. O político está com medo de uma mulher que é professora, que nunca foi candidata a nada. Deixem a professora ser candidata e perder nas urnas. É simples. De repente, perdendo nas urnas, vai ser muito melhor do que ficar fazendo isso, porque tudo o que estão fazendo pra mim está fazendo com que eu fique mais forte, porque eu não desisto das minhas convicções. Eu também já foi avisada para não sair candidata. Por quê? Por que não querem uma mulher? Por que não querem uma pessoa séria concorrendo? Toda pessoa que se sente ameaçada vai lutar para desconstruir a base do outro. Por que estão tentando desconstruir a minha base? “Vamos colocar ela aí. A gente mina a campanha dela. Ela se desmoraliza diante da população e aí a população vai achar que ela desistiu”. Mas eu não desisto.
O PMN acabou não se posicionando na eleição nacional, decidindo pela neutralidade. Mas a senhora apoia, declaradamente, o presidente Jair Bolsonaro (PL). Como a senhora pretende, por exemplo, atrair o voto desse eleitor do Bolsonaro aqui, já que o presidente fez uma aliança grande com o governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD)?
São as conveniências. Aliança por ocasião da eleição, por tempo de TV, por estrutura partidária. Mas será que o meu presidente está feliz em apoiar um governador que não o ouviu durante a pandemia e fechou o comércio? O nosso governador se alinhou com o governador de São Paulo (João Doria – PSDB). Isso para mim é inadmissível. O governador de São Paulo é um traidor e quando eu me alio a um traidor, eu sou igual a ele. Eu posso andar com uma pessoa diferente de mim por um tempo, mas se eu andar com essa pessoa por toda a vida, mesmo sendo diferente, eu estou sendo conivente ou estou aceitando. Então, para mim está errado.
A senhora se posiciona hoje como a candidata que melhor representa o presidente Bolsonaro no Paraná?
Eu sou a única que realmente representa o presidente Bolsonaro. Ele pode falar que não, pode me desautorizar. Ele pode não me apoiar, não tem problema. Mas eu o apoio porque eu acredito que o que ele pensa, o que ele quer para o povo é o mesmo que eu quero. Mas temos um governador se apropriando, na campanha, de tudo o que o presidente fez pelo estado, dizendo que foi realização dele. Eu sou a única candidata dos nove candidatos que pode representar o governo federal. Porque o que ele pensa em relação à população, ao povo e à pátria, eu penso também. Sou a pessoa mais patriota da nossa cidade. Se ele não está comigo hoje, é por questão política, porque, hoje, ele precisa se reeleger sim, porque eu não quero meu país igual esteve e está a Venezuela hoje e nem igual está Argentina hoje.
São as conveniências. Aliança por ocasião da eleição, por tempo de TV, por estrutura partidária. Mas será que o meu presidente [Jair Bolsonaro] está feliz em apoiar um governador [Ratinho Junior] que não o ouviu durante a pandemia e fechou o comércio?
Solange Ferreira Bueno (PMN), candidata ao governo do Paraná
A senhora, então, é a oposição à direita do governador Ratinho Júnior?
Sim, até mesmo porque ele não é de direita. Eu não sei se um desarmamentista pode ser de direita. Uma pessoa que não ouve o presidente da República e que por não levar a saúde e o trabalho juntos, como ele recomendou, gerou a inflação que estamos vivendo hoje, o desemprego. Os culpados são os governadores, são os prefeitos. Todos os prefeitos que fecharam o comércio são os responsáveis pela economia estar como está hoje. Para conseguir que o ICMS fosse abaixado, o nosso presidente teve que fazer lei. Por que os governadores não podem colaborar com nosso presidente e ajudar o povo? Então, será que o povo realmente está com o governador que não quer o bem do povo? Ele quer imposto, imposto e imposto, para fazer o quê? O professor está sendo desvalorizado. O policial está sendo desvalorizado, os médicos estão sendo desvalorizados, a população está sendo desvalorizada e desrespeitada. Quando eu vejo a escola pública indo para onde está indo, eu entendo que o governador está querendo privatizar a escola pública. Estão acabando o efetivo dos policiais, estão querendo privatizar a segurança também. E esse tipo de privatização, de coisa que é função do Estado, não é o que defende a direita.
Uma das questões que o próximo governador vai ter que lidar, porque não foi resolvido esse ano, é a questão do pedágio. A licitação não aconteceu. Foi um modelo que foi desenhado pelo mesmo governo federal que a senhora defende, mas a senhora já se posicionou contrária a esse modelo...
Se for para ficar mais do mesmo, não faz sentido. Não posso ser leviana em dizer o que está certo, que está errado, porque eu tenho que ter esse documento na mão. Eu não sei o que está por trás e o que vão fazer depois, porque depois de eleito, eles mudam o discurso. Mas eu sendo governadora, essas 15 novas praças de pedágio não vão existir. Eu vou estudar a forma de pegar o IPVA que o povo já paga, e o governo passado ainda aumentou de 2,5% para 3,5%, para resolver o problema. Essa é a função deste imposto.
Para encerrar, candidata, por que o eleitor paranaense deve escolher Solange Ferreira para governar o Paraná pelos próximos quatro anos?
Vocês precisam votar na Solange porque a Solange é diferente dos políticos. Eu não tenho um discurso agora e muda o discurso depois. Eu tenho um discurso que eu vou defender sempre. O povo é que manda. O Supremo é o povo e, por ser supremo, ele decide o que é melhor. Não vão atrás de pesquisa, façam diferente de tudo o que vocês fizeram, porque se vocês continuarem votando nos mesmos, vocês vão ter os mesmos resultados. Eu volto para minha sala de aula e continuo dando aula de piano, porque sempre fui competentíssima para fazer o que eu faço. Agora, o povo vai sofrer muito e eu sinto a dor do povo sofrendo por pagar imposto caro e não ver resultado. Votem diferente.
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