O PSD adotou uma abordagem de cautela após o governador Eduardo Leite (RS) anunciar que permanecerá no PSDB, frustrando assim os planos do próprio PSD de tê-lo como candidato à Presidência da República. Membros do partido seguem o discurso do presidente da agremiação, o ex-ministro Gilberto Kassab, que nesta segunda-feira (28) disse que a decisão de Leite não tirará do PSD a meta de ter um nome próprio para a sucessão de Jair Bolsonaro (PL).
A fala padrão de Kassab e de seus correligionários é a de considerar precipitado o debate em torno de nomes. "Estamos construindo isso. O PSD tem vários nomes em tamanho, com capacidade para serem colocados. Fomos surpreendidos com a decisão do Leite, mas estamos desenvolvendo o projeto [de lançar um candidato ao Planalto]", declarou o vice-presidente nacional do partido, o ex-deputado federal Guilherme Campos (SP).
Ele citou o nome do ex-ministro Guilherme Afif Domingos como uma alternativa para o PSD. Afif disputou as eleições presidenciais de 1989, então filiado ao PL, e foi o sexto colocado.
O partido vai, agora, promover reuniões com sua cúpula para chegar a uma decisão. A candidatura própria era vista no PSD como uma tentativa de minimizar as divisões internas da agremiação, que tem hoje alas favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao seu principal adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Através do Kassab, nós devemos reunir os membros da executiva nacional para delinearmos os rumos que o partido deverá tomar nas eleições vindouras", declarou o líder do partido no Senado, Nelsinho Trad (MS).
Para o partido, um novo projeto presidencial precisará também se adequar às metas estaduais da legenda. Na segunda-feira (28), a agremiação confirmou a pré-candidatura do prefeito de São José dos Campos, Felício Ramuth, ao governo de São Paulo. Outros estados em que o partido deverá ter nome próprio para o governo são Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Mato Grosso do Sul, Maranhão e Acre.
A desistência de Leite foi o segundo recuo que o PSD teve, em um curto prazo de tempo, em seu projeto presidencial. O primeiro a desistir da candidatura ao Planalto havia sido o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG). O parlamentar ingressou no PSD no ano passado, oriundo do DEM, com a expectativa de disputar a Presidência da República. Mas, no início de março, declarou que tinha decidido permanecer no comando do Senado ao longo do ano.
O PSD também sofreu uma "derrota" com a ida do ex-governador paulista Geraldo Alckmin ao PSB. Ele tinha sido sondado pelo PSD para se integrar ao partido e ser candidato ao governo de São Paulo.
Partido diz ter "respeito" e deseja boa sorte a Leite
Apesar da frustração com a decisão de Eduardo Leite, o discurso no PSD foi de "respeito" ao posicionamento do governador gaúcho e de votos de boa sorte na continuidade da carreira política. "Ele demonstra ser um político extremamente coerente, de tal sorte que não resta outra alternativa que não seja respeitar, e desejar sorte nessa nova trajetória que ele pretende trilhar dento do próprio PSDB", afirmou Nelsinho Trad.
A ex-senadora Ana Amélia Lemos (RS), que se filiou recentemente ao PSD, endossa esse pensamento. "Acho que ele ponderou todos os aspectos e, assim, provou maturidade do ponto de vista político. É uma amostra de responsabilidade com o Brasil e com o Rio Grande do Sul", declarou.
A cerimônia de filiação de Ana Amélia ao PSD contou com a presença de Leite. Ela é pré-candidata ao Senado, e disse que o posicionamento do governador não altera seus planos para as eleições de 2022. Leite deverá, nos próximos dias, renunciar ao governo do Rio Grande do Sul, medida que o deixa juridicamente apto a se candidatar à Presidência ou mesmo ao Senado nas eleições de outubro. A disputa deste ano concede apenas uma vaga no Senado, ao contrário das duas ofertadas no certame de 2018.
PSD nunca teve candidato a presidente
Caso o PSD supere as desistências de Pacheco e Leite, e realmente tenha um nome para o Palácio do Planalto, será a primeira vez que o partido disputará as eleições presidenciais como cabeça de chapa. A agremiação foi fundada em 2011. Na disputa de 2014, apoiou a reeleição da então presidente Dilma Rousseff (PT). Em 2018 esteve ao lado de Alckmin, que foi o candidato do PSDB.
Nos anos anteriores a 2018, o partido ensaiou lançar a candidatura do ex-ministro Henrique Meirelles. Ele se posicionou como pré-candidato ao Planalto e chegou a conquistar apoio de parte da agremiação. O projeto, porém, não recebeu endosso das bases do partido e Meirelles migrou para o MDB, onde efetivamente foi candidato ao Planalto.
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