Em meio ao ato político que reuniu dez ex-presidenciáveis em apoio à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na última segunda-feira (19), uma presença chamou a atenção: a do ex-ministro Henrique Meirelles. Ele foi chefe do Banco Central durante o governo Lula, ministro da Fazenda no governo Michel Temer e disputou à Presidência da República pelo MDB em 2018. Até abril deste ano, era o secretário de Fazenda e Planejamento de São Paulo no governo João Doria (PSDB).
Com essas credenciais, Meirelles chega como um dos principais reforços da campanha petista nessa reta final do primeiro turno, com potencial de reduzir resistências no mercado financeiro. Até o momento, a condução da economia por Lula é vista como uma incógnita por agentes financeiros. Sem entrar em detalhes sobre o que pretende fazer para manter o equilíbrio fiscal e fazer a economia crescer, o candidato petista tem apenas reforçado memórias de seu primeiro governo.
Se for eleito, Lula já sinalizou que pretende acabar com o teto de gastos, a principal âncora fiscal do país, e revisar trechos da reforma trabalhista. Ambas foram aprovadas pelo Congresso na gestão de Meirelles no Ministério da Fazenda, entre 2016 e 2017.
Por isso, a aproximação de Lula com Meirelles foi comemorada por articuladores da campanha. Eles acreditam que a aliança deve amenizar críticas do mercado financeiro ao petista. De acordo com membros da articulação petista, um novo encontro entre o ex-presidente e o ex-ministro deve ocorrer antes do primeiro turno.
"O que interessa é renda, emprego, padrão de vida para a população, e mostrar quem faz, quem realiza. Essa história de falatório pode impressionar muita gente, mas eu acredito em fatos. Eu olho e vejo os resultados do governo Lula. Por isso, estou aqui, com tranquilidade e confiança, por que eu sei o que funciona e o que pode funcionar no Brasil", disse Meirelles, quando questionado sobre o apoio ao petista.
Meirelles ameniza o tom sobre promessas de revogação de Lula
Dentro da campanha do PT, a aproximação de Lula com Meirelles foi vista como uma nova forma de o petista se aproximar do mercado. Para diminuir as resistências ao ex-presidente, líderes da campanha passaram a afirmar que eventuais mudanças no teto de gastos e nas regras trabalhistas serão discutidas com todos os setores da sociedade.
Faltando cerca de dez dias para o primeiro turno, a expectativa é de que Meirelles passe a atuar publicamente na defesa de Lula. Nesta terça-feira (20), por exemplo, o economista esteve reunido com investidores da XP Investimentos em São Paulo. O evento foi acertado um dia depois de Meirelles assumir publicamente o apoio à eleição de Lula para presidente.
Paralelamente, o ex-ministro tem moderado o tom das críticas que vinha fazendo sobre falas de Lula, como a da revogação do teto de gastos. Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, Meirelles disse que o ex-presidente petista já está falando as “coisas certas”, como a intenção de fazer as reformas administrativa e tributária, e que a responsabilidade fiscal vai prevalecer com ele na Presidência da República. “Coisas certíssimas. O que precisa é fazer a sintonia fina agora”, disse o ex-ministro.
No mês passado, em entrevista à revista IstoÉ, Meirelles chegou a classificar como "equivocadas" as sinalizações de Lula sobre acabar com o teto de gastos. "Quanto às críticas ao teto de gastos, espero que a realidade prevaleça novamente", disse, na ocasião.
Campanha quer explorar os bons números de Meirelles nos governos Lula
Além da sinalização positiva ao mercado financeiro, a campanha de Lula pretende explorar os números obtidos por Henrique Meirelles durante sua passagem de oito anos pelo Banco Central. A avaliação da campanha é de que a atuação dele foi determinante para que o governo Lula conseguisse passar pela crise econômica de 2008 sem turbulências.
Agora, a expectativa do partido é explorar a imagem de Meirelles nas peças da campanha nessa reta final. Seria uma forma de se contrapor ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que durante discurso na 79ª Assembleia-Geral da ONU, na última terça-feira (20), afirmou que, apesar da crise mundial, a economia brasileira vai bem e está em plena recuperação.
Ao declarar apoio a Lula, Meirelles defendeu o ex-presidente pela criação de empregos e pelo “impressionante” crescimento médio da economia de cerca de 4% ao ano. “Chegamos a dever 30 bilhões de dólares ao FMI. Pois bem, eu tive a satisfação, enquanto presidente do Banco Central, de assinar o cheque pagando e dando adeus ao FMI, quando o Brasil decretou sua independência financeira e pode fazer aquilo que julgava necessários. Quando o Lula saiu do governo, nós deixamos 300 bilhões de dólares em reservas internacionais”, recordou o ex-ministro.
Para interlocutores de Lula, as alianças com nomes como Meirelles e Geraldo Alckmin (PSB), vice na chapa do PT, reforçam o compromisso da campanha com a responsabilidade fiscal. Desde o início da disputa, o candidato do PT tem apostado no slogan "credibilidade, previsibilidade e estabilidade", apesar da defesa do aumento do investimento público.
Apoio de ex-presidenciáveis reforça estratégia de frente ampla de Lula
Além de Meirelles, o evento com ex-presidenciáveis contou com a presença de Fernando Haddad (PT), Marina Silva (Rede), Guilherme Boulos (PSol), Luciana Genro (PSol), Cristovam Buarque (Cidadania), João Goulart Filho (PCdoB) e o próprio Geraldo Alckmin (PSB). Apesar da estratégia de sinalizar uma frente ampla em torno da candidatura petista, apenas Meirelles é de fora do campo da esquerda.
O senador José Serra (PSDB-SP) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foram convidados a participar do ato político, mas declinaram. No caso de FHC, por motivo de saúde. Já Serra reiterou que sua candidata é Simone Tebet (MDB), que conta com o apoio formal do PSDB.
Membros do PT destacam que a idealização do ato com os ex-presidenciáveis partiu de Alckmin como forma de reforçar a defesa da democracia. Na reunião, o candidato a vice na chapa de Lula afirmou que os políticos presentes sempre tiveram “projetos diferentes para o Brasil”, mas estão unidos pelo “respeito à democracia e ao povo brasileiro”.
“É o que nos une neste momento singular e triste. Quando se questiona o processo democrático, quando se tem saudade da ditadura, é hora de reafirmar nossa convicção na democracia”, disse o ex-tucano, que concorreu contra Lula em 2006.
Paralelamente, a campanha tem comemorado a atuação de Marina Silva nos discursos em defesa do ex-presidente. Conhecida pela pauta ambiental, a ex-ministra do Meio Ambiente tem apostado em discursos voltados para os religiosos. Marina é evangélica e vista como trunfo da campanha de Lula na estratégia de diminuir o favoritismo de Bolsonaro nesse segmento do eleitorado.
"A banalização do mal é quando existem pessoas, diante da morte, que é um dos momentos mais difíceis da vida, tripudiando a dor daquele que está enlutado. Diante dessas circunstâncias, nós temos que ter condições de derrotar Bolsonaro e colocar um freio no bolsonarismo", disse Marina ao lado de Lula.
Levantamento mais recente do instituto FSB mostrou que Lula cresceu seis pontos percentuais entre os evangélicos desde a entrada de Marina na campanha. De acordo com a pesquisa, o petista passou de 26% para 32%, enquanto Bolsonaro recuou de 51% para 49% dos votos nesse eleitorado.
Metodologia da pesquisa citada
O Instituto FSB Pesquisa ouviu, por telefone, 2 mil eleitores entre os dias 16 e 18 de setembro de 2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pelo banco BTG Pactual e está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo BR-07560/2022.
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