As críticas ao governo do presidente Jair Bolsonaro abundaram nos debates com os pré-candidatos à Presidência durante a Brazil Conference, evento de sabatinas e palestras realizado em Boston, nos Estados Unidos, por estudantes brasileiros da Universidade de Harvard e do Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Nenhum representante do presidente ou de sua gestão foi chamado para debater o atual momento do país, mas seus principais adversários na disputa eleitoral aproveitaram a visibilidade do evento – patrocinado por grandes empresas e com participação de jornalistas, ativistas, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e empreendedores – para defender seus nomes.
Primeiro a ser sabatinado, no sábado, o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) fez um apelo ao setor privado e à sociedade civil para apoiar um candidato de “terceira via”, contra a reeleição de Bolsonaro e a volta ao Planalto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Se tiver mais quatro anos com alguns desses extremos, são mais quatro anos perdidos e de progressiva degeneração institucional. Então, é aquele momento em que brasileiros têm que se levantar e discutir que país que eles querem para o futuro”, disse. Acrescentou depois ser o nome mais competitivo e por isso, deveria ter “uma participação importante”.
Representando Lula, o senador Jaques Wagner (PT-BA) enalteceu a aliança com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB), descrita por ele como uma “mensagem” de que o ex-presidente pretende fazer um governo de “junção”. Em seguida, disse que PT e PSDB, antigo partido de Alckmin, não são “antagônicos”. “Temos diferenças, mas o PT e o PSDB, quando nasceram, nasceram com a pauta social”, disse o petista.
“Estamos vivendo um momento parecido com o movimento das Diretas Já. A quebra da institucionalidade, as ameaças constantes ao STF, a tentativa de ameaça à imprensa, à cultura, a ideologização do Ministério da Educação acabaram colocando o Brasil num patamar que a gente nunca teve, de desconfiança internacional. Precisamos perceber, sem preconceito, que é preciso um governo de união ou unidade nacional. O convite do presidente Lula a Alckmin não foi um convite para figurante na chapa”, disse Jaques Wagner.
Simone Tebet (MDB), por sua vez, disse neste domingo que Moro está fora da disputa. “Ele não é um dos pré-candidatos. O pré-candidato do União Brasil é Luciano Bivar”, afirmou a senadora. Disse depois que uma candidatura do “centro democrático” só não pontua bem ainda nas pesquisas porque ainda “não tem rosto, não tem nome, nem sobrenome”. “Eu me sinto preparada para liderar esse movimento.”
Com atuação incisiva na CPI da Covid, ela lamentou que a queda na reprovação do governo no combate à pandemia. “Temos um governo que mente, descaradamente, se aproveitando de uma rede social que não tem cara, que não tem voz, no sentido de não assumir responsabilidade, e que a partir daí quer transformar a mentira em verdade. Cabe a nós, numa missão cívica de todos, combater isso.”
Ciro Gomes (PDT) atirou contra Moro, Bolsonaro e Lula. Chamou o ex-juiz de “inimigo da República”, o presidente de “grande bandido” e sugeriu que o petista agiu como um “patinho”, ao defender o direito de aborto para todas as mulheres. Para ele, o país adota o mesmo modelo econômico desde o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
“Bolsonaro está filiado ao partido do Waldemar Costa Neto (PL), a quem o Lula deu o DNIT para roubar e foi condenado e preso no mensalão. E estava com o Collor e com o Fernando Henrique. O Roberto Jefferson, que está em prisão domiciliar por defender Bolsonaro, foi o cara para quem o Lula deu os Correios para roubar e detonou o escândalo do mensalão. Essa é nossa história”, afirmou.
“O (Henrique) Meirelles, que não é bandido, mas é o autor do modelo econômico equivocado, inventor do teto de gastos, foi ministro do Lula, ministro do (Michel) Temer e secretário de Fazendo do (João) Doria. É um modelo político e econômico do país que produzem crise. E se não entendermos isso, vamos eternizar essas crises ao ponto da ruptura. Por isso, sou candidato”.
O ex-governador de São Paulo João Doria, também sabatinado neste domingo, prometeu avançar com as reformas administrativa e tributária. “Não vamos ter Posto Ipiranga. Até porque o Posto Ipiranga faliu, faliu rápido”, disse, numa crítica ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que não conseguiu aprovar essas reformas.
“Vamos sim avançar na reforma tributária, na reforma administrativa, coisa que esse governo não teve coragem de fazer. Escolheu o caminho mais fácil, que foi entregar o governo ao Centrão. Aquilo que se criticava nas eleições de 2018 foi exatamente a atitude covarde e fraca de um governo sem líder que admitiu que a ruptura do teto de gastos fosse admitida como algo possível, quando isso deveria ser condenado”, disse Doria.
Também convidado para falar no evento, o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite, que também tenta se cacifar como presidenciável, correndo por fora no PSDB, teve uma participação menor – participou de um debate mais técnico com vários outros interlocutores sobre como promover o crescimento econômico. No início, questionado sobre sua pretensão de se candidatar a presidente, respondeu: “Estou na pista para negócios”.
Depois, defendeu uma reforma tributária que reduza a desigualdade econômica.
Ministros do STF também criticam governo
O empresário e bilionário Jorge Paulo Lemann, notório financiador de bolsas de estudo para brasileiros nos EUA, disse no evento que “nós teremos um novo presidente” em 2023, apostando numa derrota de Bolsonaro. Sem falar no nome do presidente, os ministros do STF Luís Roberto Barroso e Ricardo Lewandowski também dispararam contra o governo.
O primeiro condenou a “posição negacionista” em relação à pandemia, a manifestação em 2020 em frente ao Quartel General do Exército com elogios ao regime militar, os questionamentos “infundados” às urnas eletrônicas, além do discurso de Bolsonaro, no 7 de Setembro, de que poderia descumprir decisões do ministro Alexandre de Moraes.
“Precisamos de compreensão crítica de que há coisas ruins acontecendo, mas é preciso não supervalorizar o inimigo. Nós somos a democracia. O mal existe e precisamos enfrentá-lo, mas o mal não pode mais do que o bem”, disse Barroso.
Lewandowski concentrou sua palestra em elogiar o papel do STF na pandemia. “A Suprema Corte, em um momento de paralisia das autoridades públicas, apontou caminhos a serem seguidos pelo Governo Federal e pelos Estados e Municípios no enfrentamento da pandemia, evitando que a crise sanitária ganhasse proporções ainda maiores”, disse.
No sábado, o ex-presidente Michel Temer defendeu uma candidatura da terceira via, prevendo que, se Lula ou Bolsonaro forem eleitos, novos pedidos de impeachment surgirão já no início do novo mandato, em 2023.
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