De forma extraoficial, líderes do PT estão buscando nomes do ninho tucano para um aceno depois que o ex-governador de São Paulo João Doria abriu mão de sua pré-candidatura à Presidência pelo PSDB. A expectativa, segundo integrantes petistas, é atrair o apoio de lideranças do partido à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda no primeiro turno.
A estratégia seria uma forma de Lula ampliar o escopo de seu grupo político atraindo nomes da chamada "direita moderada" e que fazem oposição ao presidente Jair Bolsonaro (PL). De acordo com a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), essa busca por nomes tucanos está sendo feita de forma individual por parte das lideranças petistas.
"Ainda não discutimos isso [na coordenação de campanha]. Mas não somos contra conversar com ninguém que queira se colocar nesse campo democrático", defendeu Gleisi Hoffmann.
Reservadamente, líderes petistas avaliam que o PT precisa fazer acenos diretos aos nomes tucanos que desejam atrair, como forma de diminuir as resistências internas. Apesar das divergências e embates diretos nas últimas décadas, entusiastas petistas acreditam que teriam o aval de tucanos considerados "pragmáticos" em um eventual embate entre Lula e o presidente Bolsonaro.
"Agora eles precisam se organizar internamente, mas eles vão perceber que o Lula é a primeira, segunda e terceira via. Eu sou favorável, nós temos que abrir conversas institucionais com o PSDB", avalia o secretário de comunicação do PT, Jilmar Tatto.
Alckmin assume articulação do PT para atrair nomes do PSDB
Indicado como vice na chapa de Lula, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) também tem procurado aliados do PSDB na busca por uma composição. Alckmin foi filiado ao PSDB por mais de 30 anos e mantém interlocução com diversos integrantes do partido.
O entorno de Lula afirma que o ex-presidente aposta em Alckmin como principal sinalizador da abertura de diálogo com outros campos políticos. "Se vocês encontrarem um vice dos meus sonhos é o Alckmin", disse Lula nesta semana durante um encontro entre os partidos da chapa petista.
De acordo com lideranças que estiveram presentes no encontro, o ex-presidente petista admitiu que precisa ampliar o seu grupo para além do campo da esquerda. Além disso, defendeu que a composição como Alckmin é fruto da superação de divergências em nome de um projeto de país.
Até o momento, o ex-senador Aloysio Nunes é a principal liderança do PSDB que já declarou voto em Lula no primeiro turno da disputa. Nomes do PT, no entanto, cortejam outras lideranças como ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), o ex-senador José Aníbal, o ex-governador de Goiás Marconi Perillo e o senador Tasso Jereissati (CE). Nas próximas semanas Lula deve procurar interlocução com estes nomes de forma presencial em São Paulo.
Em Goiás, por exemplo, o ex-governador José Eliton se filiou ao PSB e planeja disputar o governo do estado com apoio de Lula. Eliton era filiado ao PSDB e busca, ao lado de Alckmin, atrair lideranças do partido para sua composição no estado.
Paralelamente, a coordenação de campanha também pretende buscar economistas como o ex-ministro Henrique Meirelles, que foi secretário da Fazenda na gestão Doria em São Paulo e presidente do Banco Central durante o governo Lula. A medida seria uma forma de acenar ao mercado e de atrair nomes ligados ao PSDB, como o economista Persio Arida, que coordenou o plano de governo econômico de Alckmin.
Cúpula do PSDB tenta contornar crise com MDB na terceira via
Em meio à ofensiva de nomes do PT, a cúpula do PSDB tenta contornar a crise em torno da desistência de João Doria e do apoio ao nome da senadora Simone Tebet (MDB) pela chamada terceira via. Por um lado, uma ala do partido defende que o partido lance o nome de Eduardo Leite em detrimento do acordo com o partido de Tebet.
Nesta semana, além do MDB, o Cidadania, que fechou uma federação com PSDB, chancelou o nome de Tebet. A cúpula tucana, porém, colocou uma condição: que o MDB apoie seus candidatos a governador no Rio Grande do Sul, em Mato Grosso do Sul e em Pernambuco. A Executiva do PSDB pretende se reunir na próxima quinta-feira (2) para deliberar sobre o tema.
"A construção agora não é só definir o nome, e o nome de Simone [Tebet (MDB)] é um nome posto nessa construção, mas agora precisamos construir um projeto de compromisso de programa com o Brasil", defendeu Bruno Araújo.
Para ter a chancela do PSDB, Tebet tem feito acenos ao ninho tucano e articulado para que o MDB costure os acordos nos estados. "Não tenho dúvidas de que, na semana que vem, nós estaremos com aqueles que sempre foram nossos aliados de primeira hora: homens e mulheres de bem do PSDB. Não tenho dúvida de que essa construção está sendo muito bem feita pelo nosso presidente Baleia Rossi [MDB] junto com o presidente [do PSDB] Bruno Araújo", declarou Simone.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, a solução que está sendo negociada pelas cúpulas dos dois partidos seria com uma possível candidatura da chapa Eduardo Leite (PSDB) para governador e Gabriel Souza (MDB) para vice.
Em Pernambuco, o MDB tem aliança com o PSB, que comanda o governo local e já declarou apoio ao ex-presidente Lula. O PSDB tem como candidata Raquel Lyra, ex-prefeita de Caruaru. Para resolver o impasse, MDB teria que deixar a base do governo pernambucano.
Já no Mato Grosso do Sul, cada partido tem seu próprio candidato. O ex-governador Andre Puccinelli (MDB) é pré-candidato a governador e não abre mão da disputa. O candidato do PSDB é Eduardo Riedel, que negocia o apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL) e deve ter a ex-ministra Tereza Cristina (PP) como sua candidata ao Senado.
Caso o acordo com Tebet seja chancelado, o PSDB indicaria o vice na chapa emedebista. Cortejado pelo PT, o nome do senador Tasso Jereissati é cotado para o posto. "No momento, tenho compromisso com a terceira via", afirmou o senador.
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