A senadora Simone Tebet (MDB) compõe, com Mara Gabrilli (PSDB), uma chapa 100% feminina na disputa pela Presidência da República. Tebet frequentemente menciona como sua atuação política está relacionada ao fato de ser mulher: ela liderou a primeira bancada feminina do Senado e foi a primeira parlamentar do sexo feminino a presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa, por exemplo.
Mas de que forma essa característica pode ajudá-la na campanha? E mais: Tebet pode ser considerada feminista?
Em entrevistas, a senadora já afirmou que sim. “Eu gostaria que as pessoas me vissem como feminista. Tenho orgulho disso. Se sou, ou não, aí é uma questão de construção social, de as pessoas dizerem o que acham. Eu sou menos de conceitos, sou uma pessoa muito prática. Gosto de resolver problemas”, disse no programa Roda Viva, na última segunda-feira (8).
Em outra ocasião, em entrevista à revista Veja, Tebet citou realizações de sua carreira política e disse que se recusa “a achar que a esquerda tenha o direito de dizer que só mulher de esquerda é feminista”.
Feminismo tem várias correntes, diz pesquisadora
Ainda assim, a candidata não abraça pautas frequentemente identificadas com o movimento feminista. A maior expressão disso é o aborto. Tebet diz ser a favor da vida.
“Sou contra [o aborto], a não ser nos casos previstos na Constituição. Disse isso a minha vida toda. Mas é um assunto complexo e não pode ser tabu”, afirmou, em entrevista ao UOL.
Luciana Panke, pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e vice-presidente da Associação Latino-Americana de Pesquisadores de Campanhas Eleitorais (Alice), diz que é preciso lembrar que o feminismo não é um movimento homogêneo.
“Existem feminismos, no plural. Ou seja, há várias correntes dentro desse movimento social, formas de reivindicar pautas feministas diferentes”, explica.
Nesse sentido, a própria candidata já afirmou que considera que “ser feminista é defender direitos iguais, independente de qualquer corrente”.
Panke cita que Tebet tem atuação em outras pautas relacionadas a mulheres, como feminicídio e pobreza menstrual.
“Ela tem trazido assuntos ligados à pauta feminista dentro de um discurso moderado, tentando se mostrar como uma alternativa aos extremos, uma candidata do diálogo”, analisa a pesquisadora.
Estratégia para conquistar eleitorado
Rosemary Segurado, professora da PUC-SP, afirma que a ênfase a aspectos ligados à representação feminina está relacionada a uma estratégia política da candidata.
“Ela tenta explorar isso, de ser mulher, mãe, professora. Isso porque sabe que as eleitoras mulheres estão muito ligadas a uma pauta de cuidados familiares, da responsabilidade feminina”, diz.
Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a maior parte do eleitorado brasileiro, 53%, é de mulheres. O jingle da campanha de Tebet, por exemplo, destaca o que seriam sua força, fé e coragem como mulher, chamando-a de “guerreira”.
Para Segurado, porém, a candidata é conservadora e não pode ser considerada feminista. “Há uma diferença muito grande entre ser mulher e ser feminista. Por exemplo, ela votou pelo impeachment de Dilma Rousseff, a primeira mulher eleita presidente do Brasil”, afirma.
Além disso, Tebet ainda é pouco conhecida do eleitorado, mesmo tendo obtido algum destaque na CPI da Covid. Assim, analisa Segurado, a candidata acaba não se apresentando como uma alternativa de voto para as mulheres feministas, que são progressistas, nem para as demais eleitoras.
“Ela fica nesse lugar e não consegue ampliar uma preferência entre nenhum dos espectros”, diz a professora.
Pesquisa mostra Tebet com apenas 2%
O discurso mais voltado às mulheres e à condição feminina não tem se revertido em votos para a candidata, pelo menos por enquanto. A última pesquisa divulgada pela Genial/Quaest mostra Tebet com apenas 2% das intenções de voto. Quem lidera é Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 44% das intenções de voto, seguido de Jair Bolsonaro (PL), que tem 32%.
A pesquisa divulgada pela CNN Brasil em 3 de agosto foi realizada pelo instituto Quaest e contratada pelo Banco Genial. Foram ouvidos 2.000 eleitores presencialmente entre os dias 28 de julho e 31 de julho de 2022 em todas as regiões do país. A margem de erro estimada é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%. O levantamento foi registrado no TSE, sob o protocolo BR-02546/2022.
Juristas dizem ao STF que mudança no Marco Civil da Internet deveria partir do Congresso
Idade mínima para militares é insuficiente e benefício integral tem de acabar, diz CLP
“Vamos falar quando tudo acabar” diz Tomás Paiva sobre operação “Contragolpe”
Boicote do Carrefour gera reação do Congresso e frustra expectativas para acordo Mercosul-UE
De político estudantil a prefeito: Sebastião Melo é pré-candidato à reeleição em Porto Alegre
De passagem por SC, Bolsonaro dá “bênção” a pré-candidatos e se encontra com evangélicos
Pesquisa aponta que 47% dos eleitores preferem candidato que não seja apoiado por Lula ou Bolsonaro
Confira as principais datas das eleições 2024
Deixe sua opinião