As alianças políticas começam a tomar forma rumo ao segundo turno das eleições municipais em Belo Horizonte (MG), marcado para o próximo dia 27. O candidato à reeleição Fuad Noman (PSD) conseguiu apoio do campo progressista, tão logo foi finalizado o primeiro turno, no último dia 6. Nas urnas, Bruno Engler (PL) obteve 34,42% dos votos nas urnas da capital mineira e Noman 26,45%.
Na última terça-feira (8), o diretório estadual do PT de Minas Gerias publicou nota em apoio à reeleição de Fuad Noman. A orientação foi publicada no site oficial do partido para que “filiados, dirigentes, parlamentares, movimentos sociais, sindicais, populares, setores progressistas a engajar-se na campanha à reeleição do prefeito Fuad Noman. Estaremos juntos para livrarmos BH do mal representado pelas forças do negacionismo e da fome”.
De acordo com o PT mineiro, eleger Noman será “a derrota dos representantes da extrema-direita em Minas e no Brasil (e) é fundamental para continuidade do projeto de união e reconstrução liderado pelo presidente Lula”. Em uma publicação no perfil da rede social Instagram, também na terça-feira (8), o candidato derrotado do PT à prefeitura de Belo Horizonte, Rogério Correia, declarou apoio à reeleição de Noman.
“Nossa cidade não pode ceder ao retrocesso do outro candidato, que representa a extrema-direita”, escreveu. O candidato petista obteve 4,37% dos votos na capital mineira, ficando em sexto lugar na disputa.
Já na quinta-feira (10), o PDT - que teve a deputada federal Duda Salabert na disputa pela prefeitura de Belo Horizonte, tendo obtido 7,68% dos votos - desembarcou na candidatura de Noman. Em entrevista ao jornal O Tempo, Salabert declarou que não vê problema em subir no palanque do candidato à reeleição.
“Acima das diferenças políticas e partidárias temos o denominador comum de superar e vencer a ultradireita em BH e no Brasil. Na reunião, nós oficializamos o apoio, como também apresentei cinco pontos do nosso plano de governo para que a equipe do prefeito avalie”, disse.
Novo pode encorpar campanha de Engler
A expectativa no início desta semana, na campanha do deputado estadual Bruno Engler, é a confirmação de apoio do partido Novo, do governador mineiro Romeu Zema. No primeiro turno, Zema esteve com o candidato Mauro Tramonte (Republicanos) que tinha como vice a ex-secretária de Gestão do atual governo estadual, Luísa Barreto (Novo).
Engler tem destacado a boa relação que mantém com o chefe do executivo estadual e a necessidade de trabalharem juntos por BH. "Quero agradecer a boa vontade do Partido Novo e do governador. Ele mesmo já foi à imprensa dizer que faltam detalhes para formalizar o apoio. Espero que, em breve, a gente possa fazer o anúncio", disse o candidato do PL.
"O governador é importante, primeiro pela liderança que ele tem, e segundo para dizer que, a partir do ano que vem, quando eu for eleito, a gente vai ter uma prefeitura que constrói soluções junto ao governo de Minas, pois hoje temos uma prefeitura que não constrói nada, não dialoga com o governo do estado", completou Engler. Sobre os apoios, o candidato respondeu que "todos serão muito bem-vindos".
Mesmo sem Lula nas ruas, nacionalização da disputa deve marcar segundo turno em Belo Horizonte
O cientista político Rudá Ricci acredita que as figuras do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do presidente Lula (PT) ficarão em evidência nesta disputa do segundo turno na capital mineira. “Nós vamos ter uma nacionalização nítida da campanha, não por interesse do Noman, mas por interesse do Engler. O Engler vai pra cima, falando que ele é jovem e que não tem rabo preso, vai xingar os eleitores do Lula de vagabundo, como ele já fez, e vai colocar o Noman na parede”, avalia.
O analista político reitera que BH é uma importante capital tanto para os planos políticos do espectro de Lula quanto para o de Bolsonaro. “O Lula vai entrar com tudo, porque ele sabe que Belo Horizonte e Minas Gerais são o fiel da balança. Se o Bolsonaro ganha, ele desequilibra, porque ele tem São Paulo. Ou, pelo menos, o bolsonarismo tem São Paulo. E o Lula, teoricamente, tem o Nordeste. Eleição de capital, isso aí sempre foi igual. Por exemplo, Capitão Wagner (União Brasil) - que perdeu a disputa para André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT), em Fortaleza - esteve em primeiro lugar nas pesquisas, depois caiu", analisa.
Ricci avalia que o presidente Lula está mais alinhado com o centro da política brasileira. "Lula é uma liderança de centro e ele quer agora a aliança com o PSD, mesmo que Lula não apareça muito”, diz, referindo-se às estratégias que serão adotadas pelos dois nomes que disputam o segundo turno em Belo Horizonte.
Sobre o baixo desempenho do candidato do PT na capital mineira, Ricci acredita que o “voto útil” desequilibrou, tendo o eleitor de esquerda pensado em evitar a disputa entre Tramonte - considerado de direita e candidato que contava com o apoio do ex-prefeito Alexandre Kalil (sem partido) - e Engler, apadrinhado do ex-presidente Bolsonaro.
“Você acha que o PT tem só 4 e poucos por cento de votos que o Rogério Correia teve? Não, foi voto útil. Entre outras coisas, porque ele define uma aliança que o Lula vem trabalhando com o Noman e com o Kalil, e que passa pelo Rodrigo Pacheco (PSD), do Senado, que está pedindo ao Lula ou o Tribunal de Contas da União ou o apoio à candidatura ao governo de Minas Gerais, em 2026”, pondera.
Debates e Bolsonaro nas ruas de BH são as principais estratégias de Engler
Nesta reta final às eleições municipais, o candidato do PL na capital mineira investe nas mesmas estratégias do primeiro turno, o que passa por “expor a ineficiência da atual administração”, segundo Engler tem enfatizado em declarações públicas. Durante os debates realizados pelas emissoras de TVs na primeira fase da campanha, Engler teceu várias críticas à administração de Noman, além de defender o legado de Bolsonaro e comparar as ideias.
“No primeiro turno, vencemos em todas as zonas eleitorais de Belo Horizonte. Isso é fruto de um trabalho consistente, porque mostramos propostas concretas para melhorar a vida da população. O eleitor demonstrou claramente seu descontentamento com a atual gestão e o desejo de mudança. Continuaremos com reuniões, eventos e encontros com os moradores, percorrendo toda a cidade para apontar os problemas atuais e apresentar soluções”, disse Engler durante encontro com empresários da capital mineira.
As alianças locais para o segundo turno, de acordo com o cientista político Ricci, não serão preponderantes. Para ele, Bolsonaro será a principal arma do deputado estadual na batalha do segundo turno. O ex-presidente é aguardado em Belo Horizonte no próximo sábado (19).
“O (Carlos) Vianna não tem importância nenhuma. O principal nome da direita em Minas é o Nikolas Ferreira (PL), que fez muitos prefeitos, além de vereadores nas principais cidades-polo de Minas, onde o vereador dele está entre os três mais votados. Em Belo Horizonte, o candidato dele bateu quase 40 mil votos. Em Contagem, em Betim e, assim por diante. O principal nome que, para mim, desbancou Zema chama-se Nícolas Ferreira. O Engler quer vencer, tem que ter ele (Nikolas) como, digamos, síndico do seu governo, se ele se eleger”, observa o cinetista político Ricci.
Em Belo Horizonte, o ex-assessor parlamentar de Nikolas Ferreira, Pablo Almeida (PL), obteve 39.960 votos, ficando em primeiro lugar e ultrapassando o recorde de Duda Salabert (PDT), que obteve 37.613 em 2020.
Já o atual prefeito, até então, usou a estratégia de não comparecer à maioria dos debates, evitando, assim, o confronto direto com os oponentes. Essa opção de Noman ganhou novos contornos quando a campanha dele tentou, por meio do ex-vice-prefeito de Kalil, Paulo Lamac (Rede) formar um pool de emissoras para realizar apenas dois debates, dos oito previstos até a votação em segundo turno. Lamac foi secretário municipal de Comunicação de Noman e é o coordenador político da campanha do prefeito.
Essa tentativa foi condenada pela campanha de Engler, que divulgou nota à imprensa. “Essa sugestão do coordenador político é vista como uma estratégia para tentar blindar o atual prefeito. Consideramos importante que, neste segundo turno, além das discussões das ideias e propostas para a capital, as condições físicas e intelectuais dos candidatos não sejam encobertas neste momento decisivo para os eleitores de BH”, informava o comunicado. Noman está em tratamento contra um câncer.
Republicanos continua indeciso sobre apoio a Engler
Até agora, o partido Republicanos - que amargou o terceiro lugar na disputa pela prefeitura de BH, com 15,22% dos votos a Tramonte - não bateu o martelo em apoio a Engler. Tramonte perdeu fôlego na reta final rumo ao primeiro turno,mesmo tendo o ex-prefeito Alexandre Kalil como um dos principais cabos eleitorais.
Na última quinta-feira (10), ocorreu uma reunião entre os deputados federais Euclydes Pettersen, presidente do Republicanos em Minas, e Domingos Sávio, presidente do diretório estadual do PL, segundo o site O Fator, para discutirem o embarque do Republicanos na campanha de Engler.
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