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Candidatos apostam em rejeição para conquistar votos
Segundo turno das eleições municipais 2024 será realizado no próximo domingo (27 de outubro).| Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O resultado das eleições para prefeitura nas 51 cidades que terão segundo turno pode ser decidido por aqueles que optaram por não ir às urnas em 6 de outubro. Em São Paulo, esse grupo representa mais de 2,5 milhões de eleitores - são votos em potencial que superam em 100 vezes a diferença de apoios recebidos por Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (Psol) no primeiro turno, que ficou em 25 mil votos.

Para mobilizar esse grupo, candidatos apelam para a rejeição dos oponentes, explica o cientista político e professor do Insper Leandro Consentino. “As duas campanhas estão tentando mobilizar o eleitor que está ausente para barrar o oponente. Então o Nunes está dizendo: ‘Olha, vá às urnas se você não quiser ver o Boulos prefeito’. E o Boulos está dizendo: ‘Olha, vá às urnas se você não quer ver a continuidade de Ricardo Nunes na prefeitura”, diz.

"É apelar tanto de um lado pela intenção do voto quanto para o outro pela rejeição aos candidatos que você de alguma forma não quer ver vencer o pleito", completa ele. Além de São Paulo, esse movimento de apelo à rejeição é perceptível, principalmente, em eleições em que há dois concorrentes de ideologias opostas, como em Porto Alegre, com Sebastião Melo (MDB) e Maria do Rosário (PT), e em Fortaleza, com André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT).

Na disputa pelo Paço Municipal de Porto Alegre, cidade que liderou o percentual de abstenções entre as capitais com 31,51% no primeiro turno, os dois candidatos dividem as propagandas nas redes sociais entre propostas para a cidade e críticas ao opositor e seus aliados - uma forma também de aumentar a rejeição do adversário.

“Rosário torce pela desgraça”, diz postagem de Melo no Instagram publicada na quinta-feira passada (17). “É enchente, é pousada... Política tem que apresentar soluções”, diz no vídeo o prefeito que busca a reeleição. No mesmo dia, a candidata petista publicou “Melo culpa o povo pela sua incompetência”. Também em vídeo, ela afirma: “Não acho justo colocar a culpa nas pessoas que estão doentes pela dificuldade de gestão e atendimento na capital”.

Em Fortaleza, Evandro Leitão (PT) apostou na polarização entre o presidente Lula (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), comparando os governos dos dois. “O time 13 tem os melhores projetos: Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida, Farmácia Popular, o Pé-De-Meia e o Mais Médicos. É o time que acredita que as vacinas salvam vidas. Já o outro time congelou verbas para universidades, foi contra as vacinas na pandemia e congelou verba da merenda escolar”, escreveu o candidato.

Fernandes, por sua vez, apostou na narrativa “todos contra um”. Em vídeo, diz: "Lula, o ministro da Educação (Camilo Santana, do PT), o governador do estado (Elmano de Freitas, do PT), Eunício Guimarães…Todos se uniram contra um jovem de 26 anos”.

Os desafios para mobilizar os ausentes

O desafio dos candidatos é reverter a tendência de aumento da abstenção no segundo turno - o que tradicionalmente acontece no Brasil, “porque a disputa fica entre dois candidatos, então aqueles que não se veem nesses dois candidatos do segundo turno não se sentem à vontade para votar. Então é um trabalho muito maior para as candidaturas que vão para o segundo turno de convencer o eleitor de ir às urnas”, analisa o professor de Administração Pública e pesquisador da área de Cultura Política da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) Daniel Moraes Pinheiro.

“E também porque muitos vão às urnas (no primeiro turno) mais pelos vereadores que são amigos, que são conhecidos, que são partidários. E agora a gente não tem mais essa eleição para vereador, tem só eleição para prefeito. Então tende a esvaziar (a eleição)” completa Consentino, ponderando que tudo depende de cada eleição.

Na análise do professor Daniel Pinheiro, uma das dificuldades de atrair o público é que, nas eleições municipais, há menos mobilização. "Por exemplo, de artistas, de famosos, de influenciadores, que vinham fazendo nas últimas eleições apelo para que alguns grupos votassem. Isso foi muito importante para mobilizar, por exemplo, jovens”, reflete ele.

Esse potencial, portanto, das candidaturas locais de mobilizar os eleitores faltosos dependeria das questões utilizadas nesse incentivo. “Quando você apela para sentimentos mais arraigados do eleitor com relação ao cuidado da cidade e à zeladoria urbana aos pontos que estão deixando a desejar, esse mecanismo de intenção de voto de um lado e de rejeição a outro candidato ainda também é muito forte”, pontua Consentino.

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