Principal cabo eleitoral do PSDB no Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite viu o partido crescer no estado e conquistar 35 prefeituras, entre elas Caxias do Sul e Santa Maria - que estão entre as cinco maiores cidades gaúchas. O movimento ocorre na contramão do desempenho da sigla no âmbito nacional - onde o partido vem perdendo espaço ano a ano.
Apesar do crescimento de 20% nas prefeituras e 30% nas Câmaras de Vereadores, o PSDB amargou uma derrota, ainda no primeiro turno, em Pelotas. Berço político de Leite, a cidade é governada pelos tucanos desde 2013, quando o atual governador iniciou o mandato de prefeito e depois foi substituído pela vice Paula Mascarenhas, eleita em 2016 e em 2020.
Para o professor do departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Rodrigo Stumpf González, a derrota em Pelotas mostra um enfraquecimento do capital político de Leite. “Mesmo que o PSDB, de alguma forma, tenha conseguido eleger prefeitos em dois municípios de médio porte, não elegeu na cidade em que, de alguma forma, o governador seria o fiador do processo. Ou seja, o PSDB já saiu um pouco enfraquecido, mas a figura do governador sai mais enfraquecida do que o partido, porque a vitória do partido em Santa Maria e em Caxias não necessariamente vai ser atribuída à intervenção dele”, analisa.
Por sua vez, o cientista político e consultor de marketing eleitoral Juliano Corbellini entende que Leite não saiu enfraquecido do pleito, apesar de ressaltar: “Mas também não acho que o Leite é vencedor, de jeito nenhum”. Ele diz que a vitória em Santa Maria e em Caxias acaba por “compensar um pouco a derrota de Pelotas, apesar de ser a cidade do governador”. O cientista político pondera também que na cidade Leite optou por um “movimento novo” que foi apoiar o candidato Marroni, do PT, no segundo turno. Ele venceu Marciano Perondi (PL) nas urnas.
Capital político tem se afirmado pelas ações de Eduardo Leite como gestor, diz aliada
Aliada de Leite, Paula Mascarenhas, presidente estadual do PSDB, entende que as eleições foram positivas para o governador do Rio Grande do Sul, mas que o capital político dele “tem se afirmado e crescido pelas suas ações como gestor público e como liderança política”.
Entre as medidas relacionadas a esse desempenho, ela cita as reformas que o governador fez no estado, "na coragem que demonstrou ao propor soluções que puseram pra ele mesmo desgaste político, mas que apontavam na direção correta, para solucionar problemas históricos do estado; o fato de ter recomposto a capacidade de investimento de estado; de ter estruturado programas que atenderam a todos os municípios, de ter se aproximado dos municípios, de ter olhado pros territórios e para a população gaúcha. Acho que é isso que efetivamente fortalece o governador Eduardo Leite como uma liderança de destaque no Brasil”, enumerou ela.
Mascarenhas lembra que Leite enfrentou duas grandes crises: a pandemia, durante o primeiro mandato dele, e a climática, com enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul, em 2023 e 2024, e a estiagem. Casos que, na avaliação dela, “têm exigido um trabalho muito forte no governo, e essa capacidade de resiliência e de reconstrução que ele (Leite) tem demonstrado”.
Capital político de Leite se deteriora desde a eleição passada, avalia deputado
Para o deputado estadual e líder da bancada do PL na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, Rodrigo Lorenzoni, o capital político do governador gaúcho vem se deteriorando desde a última eleição estadual, "inclusive, que ele ganhou”. O parlamentar sustenta o argumento pelo fato de que Leite foi para o segundo turno nas eleições de 2022 com 2.441 votos a mais do que o candidato do PT, Edegar Pretto. “Isso foi, na minha avaliação, um recado muito claro da sociedade de que havia um grau importante de insatisfação com o governo”, avalia. Na segunda etapa do pleito, Leite derrotou Onyx Lorenzoni (PL), pai de Rodrigo Lorenzoni, com 57,12% dos votos válidos.
O deputado entende, ainda, que nas eleições de 2024 governador e PSDB tiveram dois problemas principais. Um deles em Pelotas, onde o partido não conseguiu fazer uma sucessão ao governo de Paula Mascarenhas. Outro, em Porto Alegre, cidade em que a sigla não conseguiu viabilizar uma candidatura à prefeitura da capital.
Além disso, diz Lorenzoni, Leite direcionou apoio à candidata Juliana Brizola (PDT), que ficou em terceiro lugar na disputa municipal. “Então na cidade onde é berço dele (Pelotas) e na cidade que é a maior do Rio Grande do Sul (Porto Alegre), eles não conseguem ir para o segundo turno. Isso mostra que tem aí sim uma fragilidade no capital político do governador”, afirma Lorenzoni.
Para ele, as vitórias do PSDB em Caxias do Sul e em Santa Maria se dão mais pelos contextos locais do que pelo prestígio da figura do governador. “Evidentemente que sempre vou reconhecer que um governador em segundo mandato possui um grau importante de capital político, que isso não se pode desconsiderar. Mas acredito que comparado com o que ele já teve alguns anos atrás, ele perdeu e perdeu muito”, afirma.
A Gazeta do Povo procurou Eduardo Leite, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
E em 2026?
Leite, que foi apontado como possível presidenciável na pré-campanha eleitoral de 2022, hoje não está entre os nomes mais cotados para a disputa pela Presidência da República em 2026. Corbellini explica que, nesses últimos anos, aumentou a evidência de outras figuras que competem com o governador gaúcho nessa disputa e que são de estados com maior visibilidade nacional do que o Rio Grande do Sul, como Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo; Ronaldo Caiado (União Brasil), governador de Goiás, e Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais.
Antes, Leite estava praticamente sozinho nesse campo, disputando com João Doria (ex-PSDB), completa Corbellini. “Eu acho que a principal dificuldade de Leite é a dificuldade natural do Rio Grande do Sul, um estado mais periférico na política brasileira há anos. E é uma dificuldade partidária: o PSDB é um partido muito enfraquecido”, afirma.
Para González, o governador do Rio Grande do Sul teria duas alternativas. “Trocar de partido ou de ser, digamos, a figura do PSDB numa negociação para ser vice-presidente na chapa de algum partido mais forte na medida em que, mesmo no eixo Rio-São Paulo onde o PSDB foi um partido forte, hoje também é um partido praticamente desaparecido”.
O professor chama a atenção ainda para a “incapacidade de se pensar o que alguns chamaram de terceira via, que seria uma candidatura de centro-direita", em oposição a uma candidatura de direita da ala mais conservadora e defensora de pautas ideológicas, como foi a do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Para González, uma candidatura centrista em 2026 encontraria dificuldades e o governador Leite teria que se projetar mais nacionalmente para conquistar esse espaço.
“Então ele tem mais dois anos, para com isso aparecer em nível nacional como alguém que fez algo de relevante. Afinal, realmente, ele não tem um estado que o projete e nem um partido que o projete”. Há, ainda, a possibilidade de Eduardo Leite ser candidato a senador nas próximas eleições ou até encerrar o mandato como governador e então se dedicar à iniciativa privada.
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