Curitiba terá um segundo turno nas eleições de 2024 que era pouco crível no início da campanha. Enquanto o atual vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD) despontava como favorito para avançar ao segundo turno, muito em função dos oito anos da gestão de Rafael Greca (PSD) e da articulação do governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), Cristina Graeml (PMB) era uma figura pouco conhecida — exceto pelo seu trabalho jornalístico — no jogo político local. Em pouco mais de um mês, porém, Graeml cresceu de forma acelerada para enfrentar Pimentel na segunda volta.
Pela maneira com que a campanha se desenhou, notadamente nas duas últimas semanas, a candidata do nanico PMB começa o segundo turno fortalecida, em viés de crescimento. É o oposto do vice-prefeito, que viu milhares de votos que eram dele, na teoria, migrarem para a oponente em pouco tempo. Ambos têm três semanas antes da votação do segundo turno, em 27 de outubro, para convencer o eleitor curitibano.
O debate promovido pela RPC na última quinta-feira (3) deu uma prévia de como deverá ser o tom nos próximos dias. Participando pela primeira vez de um debate — nos outros dois promovidos por emissoras não foi convidada —, Graeml mirou em Pimentel, concentrando-se no caso de suposta coação de servidores da prefeitura a fazerem doações para a campanha do vice-prefeito. “Você deveria ter vergonha de estar no debate”, disse. O candidato do PSD retrucou: “Não esperava nada diferente da senhora Cristina em me agredir.”
Nos momentos após a definição do segundo turno, quem adotou uma postura de ataque foi Pimentel. “Curitiba precisa ter cuidado, não pode cair em aventura”, declarou em entrevista coletiva no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR). Graeml, por sua vez, em entrevista à Gazeta do Povo, afirmou que luta contra o “sistema” e que avançou mesmo sem “dinheiro de fundo eleitoral e apoio de raposas políticas”.
E ao contrário do primeiro turno, no qual estiveram frente a frente em apenas uma ocasião, o segundo turno reserva ao menos três debates: Band, RICTV e RPC. Não ser convidada, aliás, foi um dos motivos pelos quais Graeml afirmou que sua candidatura estava sendo “asfixiada”.
Pimentel ou Graeml: para onde vai Bolsonaro?
Um elemento que foi decisivo para o resultado do primeiro em Curitiba foi o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em uma articulaçãode olho em 2026, Ratinho Junior insistiu na composição que foi materializada com a vaga de vice entregue a Paulo Martins (PL). O apoio, apesar de oficial, foi pouco percebido pela população de Curitiba. Até mesmo porque a figura do ex-presidente entrou na campanha de Pimentel somente na reta final e, ainda assim, de forma discreta, em uma tentativa de reagir ao atrelamento de Graeml e Bolsonaro, que estiveram juntos em Brasília na pré-campanha e tiraram uma foto, usada pela candidata do PMB nos últimos dias de campanha.
Além disso, em uma postagem nas redes sociais ela publicou uma videochamada com o ex-presidente, na qual ele diz: “Não abro voto por você, você sabe o motivo. Mas torço por você e ponto final.”
Apoio de Bolsonaro à candidatura de Pimentel foi pouco percebido pela população de Curitiba.
A dúvida que fica para o segundo turno é como Bolsonaro vai se portar: apoiando, mesmo que burocraticamente, Pimentel, ou deixando mais clara a sua posição favorável a Graeml. Ambos os candidatos já se adiantaram para chamar a atenção dele, uma figura que é vista pelas campanhas como fundamental. Prova disso é que, em 2022, no segundo turno contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro ficou com 64,78% dos votos válidos em Curitiba.
Segundo a candidata do PMB, Bolsonaro vê nela uma “legítima representante dos conservadores em Curitiba”. Ele também teria ligado assim que o resultado do primeiro turno foi confirmado, parabenizando-a pelo desempenho nas urnas neste domingo (6). Pimentel, por sua vez, garantiu: “O presidente Bolsonaro está na minha chapa”.
O destino dos 182 mil votos de Luciano Ducci
A diferença entre Eduardo Pimentel e Cristina Graeml foi de 21.824 votos no primeiro turno. E no segundo, todos os votos contam, inclusive os que foram direcionados à terceira candidatura com melhor desempenho em Curitiba. Luciano Ducci (PSB) recebeu 181.770 votos, um quantitativo que pode ser decisivo na escolha do próximo prefeito ou prefeita de Curitiba.
Por enquanto, Ducci não manifestou para quem vai o seu apoio no segundo turno em Curitiba. Se é que vai para alguém. A depender dos últimos dias, quando mirou em Graeml, seja no debate ou nas redes sociais, é mais provável um apoio, mesmo que envergonhado, para o vice-prefeito. Ainda mais porque Ducci e o seu candidato a vice Goura (PDT) já classificaram a candidatura de Graeml como de “extrema direita”, deixando praticamente inviável uma parceria com a candidatura do PMB.
Após o resultado nas urnas, Pimentel disse que a partir desta segunda-feira (7) vai iniciar conversas com outras candidaturas para discutir apoios porque ele quer que “todas as pessoas de bem que entrem no nosso plano de governo, que queiram a continuação de uma cidade boa para todos.”
Crítica conhecida da esquerda, Graeml afirmou que não terá o apoio de Ducci e aposta que a coligação à qual o PT faz parte estará ao lado de Pimentel. “Quem o eleitor acha que o PT vai apoiar em Curitiba?”, desafiou.
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