O governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) devem manter a antiga aliança política nas eleições municipais 2024 no Paraná com a composição de chapas encabeçadas por candidatos do PSD ou do PL com a vice-prefeitura ocupada pelo outro aliado.
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Oficialmente, os partidos ainda não se manifestaram sobre o acordo político que deve ser anunciado até as convenções partidárias. Nos bastidores, a dobradinha é vista como estratégica para impedir a vitória da esquerda nas maiores cidades do estado, entre elas, a capital Curitiba, além de viabilizar o apoio de prefeitos para a corrida eleitoral em 2026, que pode ter Ratinho Junior como candidato à Presidência da República.
A parceria, iniciada há oito anos quando a dupla foi eleita, ficou estremecida nos últimos meses pela conturbada relação entre Bolsonaro e o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, e também pela tentativa de filiação do ex-governador Beto Richa (PSDB-PR) ao PL como pré-candidato a prefeito de Curitiba.
Nos dois casos, a frente ampla dos partidos em torno do pré-candidato Eduardo Pimentel (PSD-PR), vice-prefeito da capital paranaense e secretário estadual, ficou ameaçada em Curitiba, mas contou com o apoio de Ratinho, presidente da sigla no Paraná, para colocar um fim ao suposto racha com o bolsonarismo.
Segundo fontes ouvidas pela Gazeta do Povo, o governador paranaense se encontrou com o ex-presidente em Brasília e os partidos deixaram encaminhadas as possíveis coligações nas maiores cidades do estado. Além de Curitiba, a aliança Ratinho-Bolsonaro deve ocorrer em Londrina, Maringá, Ponta Grossa, Cascavel, Foz do Iguaçu, Guarapuava e Paranaguá.
As articulações políticas também tiveram a participação do deputado federal Filipe Barros (PL-PR), principal interlocutor bolsonarista no estado, e do presidente estadual da sigla, Fernando Giacobo (PL-PR). Procurados pela reportagem, Giacobo e Barros preferiram não comentar o assunto.
Enquanto a maioria dos pré-candidatos no interior dão como certa a aliança e contam com a dupla para alavancar a vitória nas urnas com candidaturas de direita, Pimentel é mais contido ao comentar o apoio de Bolsonaro à pré-candidatura apadrinhada por Ratinho e pelo atual prefeito de Curitiba, Rafael Greca (PSD). “Ainda não está concretizado, mas houve uma boa conversa entre o governador e o ex-presidente para alinhamento. Não há nenhum martelo batido, mas estou trabalhando pelo apoio do PL, assim como trabalhei pelo presidente Bolsonaro na última eleição. [O PL] tem uma chapa de vereadores com várias pessoas que têm afinidade comigo e com o nosso projeto para a prefeitura. Então, estamos trabalhando para concretizar esse acordo”, disse Pimentel à Gazeta do Povo.
Segundo o pré-candidato, Podemos, Republicanos, PRD e MDB estão confirmados na coligação. Além do PL, o PP pode integrar a frente ampla, o que colocaria dois nomes na concorrência pela vaga de vice-prefeito da chapa: o ex-deputado federal e atual assessor especial do governador Paulo Martins (PL-PR) e a deputada estadual Maria Victoria (PP-PR), filha do cacique do Progressistas, Ricardo Barros, atual secretário da Indústria, Comércio e Serviços da gestão Ratinho Junior.
O pré-candidato afirmou que o nome do candidato a vice-prefeito será definido nas convenções partidárias mas, na avaliação de Pimentel, nada impede que o PP integre a coligação para a eleição majoritária, mesmo que o PL anuncie, oficialmente, a participação na frente ampla. Em nota, o Progressistas negou que a aliança Ratinho-Bolsonaro tenha provocado atritos entre os grupos políticos do governador e do secretário Ricardo Barros.
“Estamos aliados ao PSD em dezenas de cidades do Paraná. É natural que ocorram disputas municipais entre o conjunto de partidos que apoiam o governador Ratinho Júnior. São situações locais específicas, que não afetam a excelente gestão da qual participamos, comandada pelo governador Ratinho Júnior”, declara em nota o PP Paraná.
Pré-candidatos apostam em alinhamento entre partidos por voto de bolsonaristas
Pré-candidato a prefeito de Londrina (PR) com apoio de Ratinho Junior, o deputado estadual Tiago Amaral (PSD-PR) afirma que a construção da candidatura municipal começou em 2022 com a estratégia de ter um único nome entre PSD e PL. Para o parlamentar, ele e o deputado federal londrinense Filipe Barros possuem características parecidas e um mesmo eleitorado na maior cidade do interior paranaense. Assim, a candidatura com apenas um dos candidatos na cabeça de chapa se mostrou mais viável para o grupo político. Líder da oposição na Câmara dos Deputados, Barros não deve concorrer ao pleito municipal.
“Não tenho dúvida que essa construção que a gente estava trabalhando em Londrina foi levada em consideração pelo governador e pelo ex-presidente para trazer essa aliança para todo o estado. É um alinhamento importante para o Paraná e, no nosso caso, para a cidade de Londrina, que teve mais de 70% dos votos para Ratinho Júnior e para Jair Bolsonaro”, comenta Amaral, que acredita que as urnas apontam o perfil do próximo prefeito esperado pelos eleitores londrinenses.
“Um perfil voltado para resultados, que defende o empreendedor, geração de empregos e o ambiente estável para produção e desenvolvimento. Ao mesmo tempo, que tenha princípios em defesa da família, defesa de um estado que respeite os costumes. Por isso, me parece importante a junção de duas linhas que já caminham muito próximas no Paraná”, acrescenta.
Ex-prefeito de Ponta Grossa, na região dos Campos Gerais do Paraná, o secretário estadual da Inovação, Modernização e Transformação Digital, Marcelo Rangel (PSD-PR), avalia que a coligação com o PL é “natural” devido ao histórico de união entre Ratinho e Bolsonaro nas últimas eleições. “Não só o governador, eu também participei diretamente da campanha do ex-presidente como deputado e ex-prefeito. Também tivemos efetivamente na campanha do Paulo Martins para o Senado. Então, é uma parceria extremamente natural, pois estamos juntos no mesmo grupo [político] há muito tempo”, ressalta.
A aliança PSD-PL em torno do nome Marcelo Rangel provocou a peregrinação da atual prefeita de Ponta Grossa, Elizabeth Schmidt (União-PR), em busca de um partido político para disputar a reeleição. Ela deixou o PSD de Ratinho Junior e chegou a assinar a ficha de filiação do PL em encontro com o presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, em Brasília, na mesma semana da tentativa de filiação do ex-governador Beto Richa.
Assim como no caso tucano, a pré-candidatura de Schmidt pelo PL não vingou e a prefeita acabou sendo acolhida pelo União Brasil do Paraná, presidido por Felipe Francischini.
Outro integrante do governo Ratinho Junior, o diretor de Desenvolvimento Empresarial da Portos do Paraná, André Luiz Pioli (PSD-PR), é pré-candidato a prefeito de Paranaguá. A candidatura de Pioli também faria parte do acordo firmado entre o governador e o ex-presidente Bolsonaro. O pré-candidato do PL na cidade litorânea é Arnaldo Maranhão, que pode compor a chapa como vice ou integrar a coligação.
Janela partidária traz pré-candidatos para aliança entre Ratinho e Bolsonaro
No início de abril, a janela partidária fechou a possibilidade de novas filiações para a disputa das eleições municipais em 2024. Na reta final do período encerrado no último dia 6, o PL e o PSD anunciaram nomes que podem encabeçar as chapas no pleito das maiores cidades nas regiões central, oeste e noroeste do Paraná.
O vice-prefeito de Cascavel (PR), Renato Silva, se filiou ao PL após reunião com Jair Bolsonaro em Brasília e foi lançado como pré-candidato do partido para disputar a prefeitura da maior cidade do oeste do estado, dando continuidade à administração do prefeito Leonaldo Paranhos, também do PL.
Silva deve ter o apoio do PSD como parte do acordo costurado entre Ratinho e Bolsonaro. O mesmo deve acontecer em Foz do Iguaçu, também no oeste paranaense, onde o recém-filiado General Silva e Luna foi anunciado pelo PL como pré-candidato na cidade da fronteira.
Na região central do estado, o ex-prefeito de Guarapuava Vitor Hugo Burko se filiou nos últimos dias da janela partidária ao PSD de Ratinho Junior. A pré-candidatura deve receber o apoio do PL, como estratégia articulada pelo ex-presidente Bolsonaro para evitar uma vitória do pré-candidato petista, o deputado estadual Doutor Antenor (PT-PR).
Em Maringá (PR), o evento de filiação do vice-prefeito Edson Scabora ao PSD, na véspera do fechamento da janela partidária, mexeu no tabuleiro político do município e deve exigir um novo alinhamento entre os grupos políticos de Ratinho e de Bolsonaro.
O deputado estadual Delegado Jacovós (PL-PR) é pré-candidato da sigla do ex-presidente e afirma que existe a necessidade de uma composição entre as candidaturas para confirmação da aliança, sendo que a preferência para encabeçar a chapa seria do PL. A justicativa é o maior tempo de propaganda em rádio e televisão, além do desempenho em pesquisas eleitorais, de acordo com a avaliação do parlamentar.
Em nota, Scabora também confirmou a pré-candidatura e a tentativa de formação de uma coligação para dar continuidade à gestão do atual prefeito Ulisses Maia (PSD-PR). “Temos hoje o apoio do MDB e PSB, junto comigo no PSD. Se houver acordo estadual que viabilize a entrada do PL na nossa coligação, ficaremos muito satisfeitos”, respondeu o vice-prefeito.
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