Pesquisas eleitorais publicadas recentemente por diversos institutos apontam que candidatos do Partido Liberal (PL), chefiado por Valdemar Costa Neto, são pouco conhecidos nas capitais onde disputam os respectivos Executivos municipais. Observando Rio de Janeiro, Recife, Goiânia e João Pessoa, os candidatos da legenda são desconhecidos por, ao menos, metade da população local. Na leitura de analistas, isso tem impacto direto no próprio desempenho das candidaturas.
Na capital fluminense, a pesquisa Quaest¹ divulgada na quarta-feira (11) mostrou que o deputado Alexandre Ramagem (PL) é desconhecido por 42% da população carioca. O mesmo levantamento indicou que o parlamentar possui apenas 11% das intenções de voto, contra 59% do prefeito Eduardo Paes (PSD).
Já no Recife, o mesmo instituto² revelou, na terça, que o ex-ministro do Turismo Gilson Machado Neto é desconhecido por 52% do eleitorado recifense e possui 9% das intenções de voto. Por outro lado, o prefeito João Campos (PSB) detém 74% das intenções de voto e é conhecido por 100% dos entrevistados.
Em João Pessoa, o levantamento feito pela Quaest³ mostrou que o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroz (PL) é desconhecido por 49% dos pessoenses e possui apenas 7% das intenções de voto. Em contrapartida, o atual prefeito Cícero Lucena (PP) lidera a pesquisa com 53%. Na capital de Goiás, a Quaest⁴ apontou que 65% dos entrevistados goianos não conhecem o deputado estadual Fred Rodrigues (PL), que possui 9% das intenções de voto.
Para o PL, o desempenho em capitais como Recife e Rio de Janeiro já era considerado um desafio nos bastidores da legenda. Sendo Eduardo Paes e João Campos prefeitos com bons índices de aprovação, a expectativa, no entanto, era de, ao menos, levar um candidato de oposição ao segundo turno — situação que pode não ocorrer caso as pesquisas se confirmem no primeiro turno.
O cientista político Juan Carlos Arruda, diretor-executivo do Ranking dos Políticos, defendeu que a escolha do PL por candidatos menos conhecidos nas capitais não representa, necessariamente, um erro estratégico. "A escolha por novos nomes, mesmo sem grande apelo inicial, faz parte de uma estratégia de renovação política que tem funcionado em vários momentos recentes, como vimos em 2018", afirmou, destacando a confiança do partido no potencial de seus candidatos para estabelecer uma conexão com o eleitorado ao longo da campanha.
Para Arruda, o foco nas pautas locais é decisivo em disputas municipais, mas isso não exclui candidatos com menos experiência política. "A capacidade de entender as demandas regionais e apresentar soluções concretas para os problemas das cidades pode ser mais importante do que a experiência política prévia", explicou.
A escolha por novos nomes, mesmo sem grande apelo inicial, faz parte de uma estratégia de renovação política que tem funcionado em vários momentos recentes, como vimos em 2018
Juan Carlos Arruda, diretor-executivo do Ranking dos Políticos
Aliados ressaltam decisões equivocadas e Bolsonaro
Nos bastidores da oposição, há a percepção de que o ex-presidente Jair Bolsonaro pode estar cometendo erros semelhantes aos do pleito de 2020. Um caso lembrado por um aliado foi a eleição no Recife, quando Mendonça Filho, atual deputado federal pelo União Brasil, apresentava condições de enfrentar João Campos em sua primeira eleição para prefeito. Apesar do cenário, Bolsonaro preferiu apoiar a Delegada Patrícia Domingos (Podemos). O movimento é visto por interlocutores da oposição como um fator que dividiu a direita na capital pernambucana e favoreceu o candidato do PSB.
No caso de 2024, a disputa pela prefeitura de Goiânia é vista como uma situação semelhante. Inicialmente, o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) seria o indicado pela legenda para disputar a chefia do Executivo municipal e chegou a apresentar bom desempenho nas pesquisas. Entretanto, o parlamentar retirou sua candidatura após pedido de Bolsonaro e indicou Fred Rodrigues como o escolhido pelo Partido Liberal. Na avaliação de quem frequenta o Salão Verde, o PL pode ter perdido a oportunidade de eleger o prefeito de uma das principais cidades do Centro-Oeste.
Desconexão com a realidade local limita o desempenho dos candidatos do PL em capitais
O cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), ressalta que o grande desconhecimento dos candidatos do PL nas capitais mencionadas aponta para um "descompasso entre a estratégia do partido e as dinâmicas específicas das eleições municipais".
Segundo Gomes, o lançamento de figuras pouco conhecidas, apesar do apoio de lideranças nacionais como Bolsonaro, subestima a importância da conexão local. "Para o cidadão comum, pouco importa se o candidato apoia Lula ou Bolsonaro; ele quer que seja consertado o cano que está minando a encosta da escadaria perto de sua casa", afirmou.
Gomes destaca ainda que, em eleições municipais, o eleitor tende a priorizar candidatos com capacidade de resolver problemas concretos, como transporte, segurança e infraestrutura. "Ideologia não tapa buraco de rua", reforça, ao explicar que a hiperpolarização política nacional perde relevância em disputas locais, onde questões pragmáticas prevalecem.
Apostar na imagem de Bolsonaro não é suficiente
O cientista político Adriano Cerqueira, docente no Ibmec de Belo Horizonte, destacou a estratégia do PL em vincular o nome de Jair Bolsonaro aos candidatos nas eleições municipais. No entanto, ele ressalta que essa tática enfrenta dificuldades em algumas cidades. "O esforço tem sido grudar o nome de Bolsonaro em algumas candidaturas", afirma Cerqueira, acrescentando que, no Rio de Janeiro, o candidato de Bolsonaro, Ramagem, está encontrando obstáculos significativos.
Segundo Cerqueira, o problema é essencialmente local. "Recife, por exemplo, tem um prefeito disputando a reeleição e é uma região onde o lulismo e o PSB têm força, o que dificulta o crescimento de uma candidatura mais à direita", explica. Ele também observa que, em Belo Horizonte, o candidato Bruno Engler, mesmo sendo conhecido, está enfrentando desafios para crescer nas pesquisas.
Para o cientista político, os eleitores municipais estão mais focados nas questões cotidianas do que nos debates ideológicos. "O eleitor municipal está preocupado com a vida dele mesmo. Ele sabe que o que importa é o lugar onde ele vive, o município dele", conclui.
- Metodologia: Metodologia: 1.140 entrevistados pela Quaest entre os dias 8 e 10 de setembro de 2024. A pesquisa foi contratada pela Globo Comunicação e Participações SA/TV/Rede/Canais/G2C+Globo Globo.com Globoplay. Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Registro no TSE nº RJ-05862/2024.
- Metodologia: Metodologia: 900 entrevistados pela Quaest entre os dias 8 e 10 de setembro de 2024. A pesquisa em Recife foi contratada pela Globo Comunicação e Participações SA/TV/Rede/Canais/G2C+Globo Globo.com Globoplay. Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Registro no TSE nº PE-06977/2024.
- Metodologia: 852 entrevistados pela Quaest entre os dias 24 e 26 de agosto de 2024. A pesquisa foi contratada pela Televisão Cabo Branco Ltda/TV Cabo Branco. Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Registro no TSE nº PB-08301/2024.
- Metodologia: 900 entrevistados pela Quaest entre os dias 31 de agosto a 2 de setembro de 2024. A pesquisa foi contratada pela Televisão Anhanguera S/A. Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Registro no TSE nº GO-00762/2024.
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