As disputas pela continuidade de gestão em Belo Horizonte (MG), Campo Grande (MS) e Manaus (AM) no segundo turno das eleições deste domingo (27) apresentam cenários acirrados e indicam possibilidade de mudança em relação ao resultado registrado no primeiro turno do pleito, no início do mês. Nesse cenário, os atuais prefeitos dessas capitais terão o desafio de manter suas posições frente aos Executivos municipais.
A capital mineira vive o cenário de mudança do resultado em relação ao dia 6 de outubro. Na data, o deputado estadual Bruno Engler (PL) largou na frente com 34,38% dos votos válidos (435.853 votos). Já o atual prefeito, Fuad Noman (PSD) obteve 26,54% dos votos válidos (336.442) nas urnas. De acordo com a última pesquisa da Real Time Big Data publicada na sexta-feira (25), Noman tem 51% das intenções de voto, ante 45% do candidato do PL.
Em Manaus, o acirramento da disputa diminuiu a diferença entre os candidatos. O prefeito, David Almeida (Avante), terminou o primeiro turno liderando a preferência do eleitor, com 32,16% dos votos válidos (354.596 votos). O candidato Capitão Alberto Neto somou então 24,94% dos votos (275.063 votos). Segundo levantamento da Real Time Big Data, também divulgado nesta sexta-feira, ambos os candidatos se encontram empatados, com 44% das intenções de voto.
Já em Campo Grande, o resultado do primeiro turno entre a prefeita Adriana Lopes (PP) e Rose Modesto (União) mostrou um cenário apertado. A atual gestora despontou com 31,67% dos votos válidos (140.913 votos) nas urnas, enquanto Rose somou 29,56% dos votos (131.525 votos). No entanto, um levantamento feito pelo instituto Paraná Pesquisas mostra que Adriana alcança 53,1% dos votos válidos, contra 46,9% de Rose, evidenciando assim um possível distensionamento da disputa nesta reta final rumo à votação.
Estrutura da máquina pública pode ser diferencial na disputa
Em Belo Horizonte, a disputa eleitoral revela interesses que vão além da administração local, envolvendo atores de peso na política nacional. Segundo o cientista político Antônio Flávio Testa, a aliança entre o presidente do PSD, Gilberto Kassab; o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aponta para uma estratégia a longo prazo. “Kassab, Pacheco e Lula querem eleger seu candidato. Pacheco é candidato ao governo, e Minas Gerais é importante demais para as eleições de 2026”, analisa.
A utilização da máquina administrativa pela campanha de Noman, de acordo com Testa, torna o resultado favorável ao candidato uma possibilidade real. No entanto, ele destaca que fatores locais também impactam a percepção dos eleitores. “O resultado é previsível para quem detém a máquina. Mas a insatisfação popular é grande contra Kassab, Pacheco e Lula”.
Para além de BH, ele acrescentou: “Em Manaus, tem uma variável que precisa ser analisada: o poder do crime organizado. Isso pode decidir as eleições; foi assim outras vezes para o governo". A incerteza é um fator marcante na análise de Testa sobre o pleito na capital amazonense. “Lá, a disputa será muito acirrada. E o resultado é imprevisível”, conclui.
Crime organizado pode influenciar fortemente resultado das eleições em Manaus, aponta o cientista político Antônio Flávio Testa.
Junto com as cidades de Fortaleza (CE) e Caucaia (CE), Manaus contará com tropas federais neste segundo turno, conforme despacho do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Disputa em Manaus revela limites da máquina pública em eleições
O cenário de empate entre David Almeida e Capitão Alberto em Manaus sugere que, apesar da relevância da máquina pública, ela por si só não garante a vitória. Para o cientista político Juan Carlos Arruda, diretor-executivo do Ranking dos Políticos, a divisão no eleitorado revela que o segundo turno envolve muito mais rejeições do que apreços. “O equilíbrio em Manaus mostra que a máquina pública, embora relevante, não garante a vitória”, aponta Arruda.
No caso dos candidatos em disputa, o especialista observa que outros fatores, como carisma, representatividade e conexão direta com a população, pesam bastante nas decisões dos eleitores. Uma pesquisa divulgada pela Quaest neste mês mostrou que Almeida está em quinto lugar dentre os prefeitos mais populares do país. No entanto, o desempenho nas redes sociais também pode não ser suficiente para tornar o pleito menos apertado.
Segundo turno envolve mais rejeições que apreços, aponta diretor-executivo do Ranking dos Políticos, Juan Carlos Arruda.
“Os eleitores buscam mais que um nome apoiado pela estrutura governamental – procuram alguém que inspire confiança e demonstre alinhamento com seus valores”, afirma Arruda, destacando como, em contextos polarizados, a busca por alguém que represente mais que interesses institucionais se torna crucial.
Para o cientista político, essa divisão revela também um cansaço do eleitorado com a política tradicional e uma busca por alternativas que ofereçam algo mais autêntico. “Quando a escolha entre candidatos é tão apertada, isso geralmente aponta para uma insatisfação maior, um desejo de renovação, e para a expectativa de que o candidato eleito seja capaz de superar os desafios locais com um posicionamento firme e compromissado”, explica o cientista político.
Metodologia das pesquisas citadas:
- Real Time Big Data Belo Horizonte: entrevistou 1.000 eleitores entre os dias 23 e 24 de outubro. O levantamento tem nível de confiança de 95%. A margem de erro é de três pontos percentuais. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo MG-09350/2024.
- Real Time Big Data Manaus: ouviu 1.000 eleitores entre os dias 23 e 24 de outubro. A margem de erro é de 3 pontos porcentuais, e o nível de confiança é de 95%. O registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) segue o protocolo AM-09064/2024.
- Paraná Pesquisas Campo Grande: 800 entrevistados entre os dias 20 e 23 de outubro de 2024. A pesquisa foi contratada pelo Correio do Estado Ltda. Confiança: 95%. Margem de erro: 3,5 pontos percentuais. Registro no TSE nº MS-06183/2024.
- O levantamento da Quaest colheu, entre 1º de julho e 30 de setembro, dados do Facebook, Instagram, X (antigo Twitter), Google, Wikipedia, YouTube e TikTok. O público-alvo foi o grupo de “prefeitos das 26 capitais”. De acordo com a Quaest, o chamado índice de popularidade digital (IDP) é feito a partir de “175 variáveis coletadas nas principais plataformas digitais”.
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