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Eleições 2024 foram encerradas neste domingo.
Abstenção só foi menor do que no segundo turno de 2020.| Foto: Antonio Augusto/Ascom/TSE

O segundo turno das eleições municipais mostrou que o antipetismo segue como uma importante força política no país, apesar de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ocupar a chefia do Executivo federal. Das 26 capitais, o PT conseguiu levar apenas Fortaleza (CE), com Evandro Leitão (PT), e viu o Centrão e a direita tomarem as demais 14 capitais neste domingo (27).

Mesmo levando a capital cearense, a disputa com o Partido Liberal, encabeçado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), dividiu a cidade. Leitão foi eleito prefeito com 50,38% dos votos válidos (716.133 votos), contra 49,62% (705.295 votos) conquistados pelo deputado federal André Fernandes (PL).

No início de outubro, quando 11 capitais elegeram prefeitos no primeiro turno, o PT e alguns partidos satélites já haviam sido derrotados nas urnas. O partido de Lula perdeu em Vitória (ES) e Teresina (PI); o PSOL, em Macapá (AP) e Salvador (BA); e o PSB, em São Luís (MA).

O fracasso se aprofundou neste segundo turno, com a derrota de Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo; de Maria do Rosário (PT) em Porto Alegre (RS); de Natália Bonavides (PT) em Natal (RN); de Lúdio Cabral (PT) em Cuiabá; e de Luiz Roberto (PDT) em Aracaju (SE). Quando observada a região Nordeste, importante reduto eleitoral de Lula, a esquerda também sofreu outra importante derrota. Das nove capitais, sete foram para a direita e o Centrão. Confira:

  • São Luís - PSD
  • Teresina - UNIÃO
  • Fortaleza - PT
  • Natal - UNIÃO
  • João Pessoa - PP
  • Recife - PSB
  • Maceió - PL
  • Aracaju - PL
  • Salvador - UNIÃO

Para o cientista político Adriano Cerqueira, a eleição em Fortaleza simbolizou um "suspiro final" para o PT e evidenciou a força emergente do PL. Ele destacou que, apesar da vitória petista na capital cearense, a margem estreita revela a fragilidade do partido e aponta para um futuro desafiador.

"Foi uma vitória milimétrica para o PT, praticamente 50 a 50. O candidato do PL, o André, quase conseguiu vencer, o que mostra a força crescente do partido. Foi uma derrota com sabor de vitória para o PL, enquanto o PT mostrou dificuldades e fragilidade," analisa Cerqueira. "Embora tenha sido uma conquista em uma capital, talvez se trate de uma vitória de Pirro para o PT, sugerindo um cenário estadual complexo nas próximas eleições."

Segundo turno cacifa Centrão como maior força política do país

Centro e Centrão, por sua vez, obtiveram conquistas importantes. Em Belo Horizonte, o atual prefeito Fuad Noman (PSD) foi reeleito, fortalecendo seu partido e seu presidente, Gilberto Kassab. O PSD ainda ganhou em Curitiba (PR), com Eduardo Pimentel. Juntando com o primeiro turno, a sigla conquistou cinco capitais.

O MDB manteve sua força na disputa municipal, ganhando, neste segundo turno, com Sebastião Melo em Porto Alegre (RS) e Igor em Belém (PA), além de São Paulo, com Ricardo Nunes. Ao todo, a legenda irá comandar cinco capitais.

O PP conquistou João Pessoa (PB), com a vitória de Cícero Lucena, e Campo Grande (MS), com Adriane Lopes, sendo as duas únicas capitais adquiridas nessa eleição municipal. Já o União arrematou Natal (RN), com Paulinho Freire, e Goiânia, com Sandro Mabel, neste domingo; terá, ao todo, quatro capitais sob o seu comando.

Para o cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), o avanço do Centrão em importantes redutos eleitorais confirma a força do antipetismo no país, bem como a mudança na preferência do eleitorado brasileiro.

"As eleições de 2024 revelaram uma dinâmica política muito complexa. O PT, apesar do crescimento no número de prefeituras em relação a 2020, venceu em apenas uma capital e se consolidou em prefeituras de pequenas cidades, sem grande poder de mobilização de recursos", aponta Gomes.

Ele também observa que o crescimento de legendas como o PSD e o PP demonstra a capacidade de articulação dessas siglas de centro.

"O centro, com partidos como o PSD e o PP, mostrou uma habilidade única de articulação e captação de votos. As alianças entre esses partidos são um indicativo claro de que o cenário de centro-direita e direita está se consolidando como força dominante. Isso é especialmente visível nas capitais, onde o pragmatismo e a performance na administração pública são prioridades para os eleitores, que buscam soluções práticas em vez de aderências ideológicas."

Direita avançou, mas também sofreu derrotas neste segundo turno

Por outro lado, Bolsonaro e o PL terminaram o segundo turno com algumas surpresas desagradáveis. Em Goiânia, o candidato de Ronaldo Caiado, Sandro Mabel (União), venceu o indicado de Bolsonaro, Fred Rodrigues (PL), fortalecendo assim o governador de Goiás, que tenta ser o candidato da direita na eleição presidencial de 2026 – o ex-presidente, apesar de inelegível, ainda acredita numa reversão de sua situação ou pelo menos em definir quem será seu representante.

Além de Goiânia, Belo Horizonte (MG), Fortaleza (CE), Manaus (AM), Belém (PA), João Pessoa (PB) e Palmas (TO) trouxeram resultados frustrantes para Bolsonaro. Em todas essas capitais, candidatos que receberam sua bênção perderam neste segundo turno – respectivamente, Bruno Engler (PL), André Fernandes (PL), Capitão Alberto Neto (PL), Delegado Éder Mauro (PL), Marcelo Queiroga (PL) e Janad Valcari (PL).

O único candidato da direita atrelado a Bolsonaro vitorioso neste domingo foi Abílio Brunini (PL), em Cuiabá (MT). Emília Corrêa (PL) venceu em Aracaju (SE), mas evitou se associar ao ex-presidente durante a campanha. Para Adriano Cerqueira, o PL emerge como o novo "farol da direita", mesmo com as derrotas registras nesse segundo turno.

"O PL está em uma trajetória ascendente e será o ponto de referência da direita, assim como o PT ainda tenta ser o da esquerda. Mesmo com algumas derrotas, como em Fortaleza, os candidatos do PL são, em grande parte, jovens com carreiras políticas promissoras. Isso aponta para um crescimento contínuo do partido", diz Adriano Cerqueira.

PSD, MDB e PP são os partidos com mais prefeituras

No total dos 5.569 municípios do país, o PSD de Kassab termina essa eleição como o partido com o maior número de prefeituras: 887, governando com isso 15,9% das cidades brasileiras, incluindo cinco capitais: Curitiba, Belo Horizonte, Florianópolis, Rio de Janeiro e São Luís.

O MDB é o segundo maior partido em número de prefeituras: 856 (15,3% do total), sendo seis de capitais: Teresina, Macapá, Boa Vista, Belém, Porto Alegre e São Paulo.
O PP vem em seguida, na terceira posição, com 745 prefeituras, com duas capitais: Campo Grande e João Pessoa. O União é o quarto partido em número de prefeituras no Brasil, 583, com 4 capitais: Natal, Goiânia, Salvador e Teresina.

O PL de Bolsonaro é o quinto maior partido com prefeitos, 515, tendo 4 capitais: Aracaju, Cuiabá, Maceió e Rio Branco. O sexto maior partido em número de prefeituras é o Republicanos, 433, com uma capital, Vitória.

O PSB, de esquerda, é o sétimo partido com maior número de prefeituras, 309, e governa uma capital, Recife. O PSDB é o oitavo partido em número de prefeitos, com 272, mas nenhuma capital. O PT vem na nona posição, com 252 prefeituras, sendo uma de capital, Fortaleza. O décimo partido em número de prefeitos é o PDT, com 150, e nenhuma capital.

Números do 1° turno já reforçavam o crescimento do antipetismo

Um levantamento feito pela Gazeta do Povo mostrou que o PT foi vitorioso em importantes estados do Nordeste no último dia 6 de outubro, elegendo 50 prefeitos no Piauí, 49 na Bahia e 46 no Ceará. Entretanto, o Partido Liberal, encabeçado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, emplacou 40 prefeitos no Maranhão, 18 no Rio Grande do Norte e 11 na Paraíba.

Os números ganham proporção quando o cenário eleitoral de 2022 é colocado em perspectiva. Dos 13 estados que deram vitória ao petista em 2022, o PL superou o PT no número de prefeituras em quatro. Outros seis foram para o PT, e três registraram empate entre as legendas.

Por outro lado, das 14 unidades da federação que votaram no ex-mandatário naquele ano, 12 elegeram mais prefeitos do PL do que do PT. Sem contar o Distrito Federal, que não possui eleições municipais, o PL empatou com o PT somente em Roraima. Das 509 prefeituras conquistadas pelo partido de Bolsonaro, 137 foram em redutos de Lula. Por outro lado, dos 248 executivos municipais, os petistas elegeram apenas 38 gestores nos redutos de Bolsonaro.

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