O Rio Grande do Sul viveu sua pior crise climática em maio deste ano, quando quase 95% das cidades gaúchas foram afetadas por tempestades e enchentes. O desastre climático foi centro dos debates nas eleições municipais na maioria das cidades do RS, trazendo impactos políticos para os atuais gestores.
Nas 10 cidades com maior número absoluto de pessoas atingidas pela enchente, de acordo com o Mapa Único Plano Rio Grande (MUP-RS), seis não reelegeram prefeitos ou candidatos apoiados pelos atuais chefes do Executivo. Esteio, por outro lado, elegeu Felipe (PL), coligado ao atual prefeito Leonardo Duarte Pascoal (PP). A cidade da Região Metropolitana de Porto Alegre teve 19.970 moradores atingidos pelas enchentes, ou seja, 26,2% da população. Disputaram o pleito Gilmar(PT), que fez 29,35% dos votos, Sandro Severo (PSB), 15,23%, e Vanderlan Vasconselos (Novo), 7,2%.
Já Guaíba reconduziu Marcelo Maranata (PDT) ao cargo de prefeito, com 78,18% dos votos. Ele derrotou Cleusa Silveira (PSDB) que fez 18,76% dos votos e Guilherme Schneider (Psol), que totalizou 3,06%. A cidade teve 31.754 moradores afetados pela enchente, o que representa 34,2% da população.
Canoas e Porto Alegre, por sua vez, estão entre as cidades do RS que vão ter segundo turno das eleições 2024, com os atuais prefeitos no páreo pelo cargo - o que pode aumentar a lista de chefes do Executivo reeleitos. A cidade de Canoas, na Região Metropolitana da capital, tem o maior número absoluto de moradores atingidos pela enchente: são 157.829 pessoas afetadas, o que representa 45,5% da população. Onze bairros tiveram que ser evacuados por determinação da prefeitura no mês de maio.
No primeiro turno das eleições, 31,83% dos eleitores se abstiveram, ou seja, não foram às urnas. O percentual representa 82.629 eleitores - número maior do que o de pessoas que votaram em Airton Souza (PL). Ele ficou em primeiro lugar no pleito, com 51.472 votos, e enfrentará, no segundo turno, o atual prefeito Jairo Jorge (PSD), que somou 43.442 votos.
A cidade de Canoas concentrou o maior número absoluto de moradores atingidos pela enchente que afetou o Rio Grande do Sul em maio.
Já em Porto Alegre, segunda cidade com maior número absoluto atingidos pela enchente, com 125.274 pessoas afetadas, a eleição será disputada pelo atual prefeito Sebastião Melo (MDB) e Maria do Rosário (PT) em 27 de outubro. O primeiro turno do pleito foi liderado por Melo, que fez 49,72% dos votos válidos. Rosário somou 26,28% dos votos.
A capital gaúcha também teve elevada abstenção: 31,51% - o maior índice entre as capitais. Ou seja, 345.544 eleitores optaram por não votar. O número é superior aos votos feitos por Melo (345.420 votos) e Rosário (182.553).
Como foi a votação nas eleições em outras cidades com mais pessoas atingidas no RS
Em São Leopoldo, cidade que teve 90.317 pessoas atingidas pela enchente, ou seja 41,6% da população, Delegado Heliomar (PL) foi eleito com 51,24%, derrotando Nelson Spolaor (PT), candidato à sucessão do atual prefeito Ary Vanazzi (PT)
Já em Rio Grande, onde 70.930 moradores foram afetados pela tempestade de maio, o que representa 37% da população, Darlene (PT) foi eleita com 49,13%, derrotando o candidato à reeleição Fábio Branco (MDB), que fez 34,12% dos votos. Ela será a primeira mulher a comandar o município.
Ainda no sul do estado, Pelotas teve 49.795 atingidos pela enchente (15,3% da população). A cidade terá segundo turno entre Marroni (PT), que fez 39,6% dos votos no último domingo (6), e Marciano Perondi (PL), com 31,67%. Ficou de fora da disputa Fernando Estime (PSDB), apoiado pela atual prefeita Paula Mascarenhas (PSDB), que está no segundo mandato e é sucessora de Eduardo Leite (PSDB) na cidade, atual governador do Rio Grande do Sul.
Já em Eldorado do Sul, que teve 32.509 moradores atingidos - o correspondente a 82,2% da população, sendo proporcionalmente a cidade mais afetada pela enchente - Juliana Carvalho (PSD) foi eleita com 50,91%. Ela derrotou Fabiano Pires (MDB), candidato da coligação do atual prefeito, por 355 votos. Pires tinha o apoio do PDT, do chefe do Executivo Ernani Gonçalves, que está em segundo mandato consecutivo na cidade.
Pesquisa mostra que desastres ocorridos em anos eleitorais impactam na chance de reeleição
Uma pesquisa realizada por Ítalo Soares, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), analisou os desastres ambientais ocorridos no Brasil entre 2013 e 2016. O levantamento mostrou “que desastres ocorridos em anos eleitorais - sejam nos anos de eleições nacionais (2014) ou no ano de eleições municipais (2016) - tendem a impactar positivamente na probabilidade de reeleição, enquanto os desastres que se concentram em anos não eleitorais tendem a influenciar negativamente na probabilidade de reeleição”.
Isso porque, ainda conforme o estudo, “tendem a abrir oportunidades para prefeituras receberem recursos adicionais para gestão de desastres”. Soares pontua ainda, na tese, que “desastres naturais são eventos que reviram a agenda política e criam palanques para exposição dos líderes políticos e ativam mecanismos para envio de recursos de outros entes federativos”.
Porém, quando os eventos ocorreram com maior distância do período eleitoral, o impacto de reeleição foi negativo. A estiagem ocorrida em 2015, por exemplo, reduziu a probabilidade de reeleição em cerca de 70%. Já a seca de 2013 reduziu a probabilidade de reeleição em cerca de 64,4%, enquanto as enxurradas de 2015 reduziram as chances de reeleição na ordem de 98%, conforme o levantamento acadêmico.
Cidades pequenas têm impacto maior
A pesquisa de Soares aponta, ainda, que, em cidades consideradas de pequeno porte, com até 50 mil habitantes, segundo definição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aumenta a probabilidade de reeleição de prefeitos em casos de fenômenos climáticos extremos. Na análise feita pelo pesquisador nas eleições de 2014 e 2016, houve aumento na probabilidade de reeleição de 72,4% e 321,2% respectivamente.
Em Muçum, por exemplo, cidade gaúcha de 4.601 habitantes, o atual prefeito Mateus Trojan (MDB) foi reeleito com 80,82% dos votos, derrotando Marcos Bastiani (PSDB), que fez 19,18%. O município no Vale do Taquari teve 79,1% da população atingida pelas enchentes de maio - proporcionalmente é a segunda cidade mais afetada pela enchente no Rio Grande do Sul, atrás apenas de Eldorado do Sul - que também é considerada de pequeno porte com 39,5 mil habitantes.
Na sua tese, Soares explica que desastres em cidades pequenas têm impactos socioeconômicos mais significativos e reconfiguram a agenda política. “Portanto, é mais provável que uma população menor perceba a liderança dos gestores municipais em cidades de menor porte”, escreve.
Das 10 cidades que tiveram proporcionalmente a maior parte da população atingida, nove são de pequeno porte - a exceção é Canoas. Dessas nove, quatro reelegeram os prefeitos. Além de Muçum, Travesseiros, Igrejinha e Marques de Souza reconduziram os atuais chefes do Executivo ao cargo.
Já Roca Sales, Arambaré, Colinas, Arroio do Meio, Eldorado do Sul escolheram novos prefeitos.
De político estudantil a prefeito: Sebastião Melo é pré-candidato à reeleição em Porto Alegre
De passagem por SC, Bolsonaro dá “bênção” a pré-candidatos e se encontra com evangélicos
Pesquisa aponta que 47% dos eleitores preferem candidato que não seja apoiado por Lula ou Bolsonaro
Confira as principais datas das eleições 2024
Deixe sua opinião