A corrida pela prefeitura de Fortaleza tem sido marcada por um cenário polarizado dos dois lados do espectro ideológico. Dos nove candidatos, seis nomes considerados mais expressivos dividem-se em pontas diferentes do cabo de guerra eleitoral: três buscam o voto dos eleitores alinhados mais à direita e estiveram com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2022: André Fernandes (PL), Capitão Wagner (União Brasil) e Eduardo Girão (Novo).
Dois candidatos a prefeito nas eleições de Fortaleza posicionam-se à esquerda e fazem parte da base de Lula: Evandro Leitão (PT) e Técio Nunes (Psol), enquanto o prefeito e candidato à reeleição José Sarto (PDT) segue de mãos dadas com Ciro Gomes (PDT) e tenta construir uma imagem de uma centro-esquerda mais “equilibrada”.
Na liderança da pesquisa Quaest divulgada no último dia 27*, o ex-deputado Capitão Wagner (União Brasil) construiu a carreira política defendendo a pauta da segurança pública. Em 2022, quando concorreu ao governo do Ceará, ele subiu ao palanque com o então presidente Bolsonaro e conquistou votos da direita, mas acabou perdendo a eleição para o candidato do PT. Desde então, Wagner busca o apoio do eleitorado conservador, mas tenta, cautelosamente, se afastar da imagem de Bolsonaro.
O candidato oficial do bolsonarismo na capital cearense é o deputado federal André Fernandes (PL). Posicionado em terceiro lugar nas pesquisas, ele usa o nome e a foto do ex-presidente nos materiais de campanha e aposta em ataques ao PT e ao atual prefeito da cidade para tentar subir nas intenções de voto.
Já o senador Eduardo Girão (Novo) adota uma postura crítica a todos os concorrentes, mas por enquanto tem ficado nos 5% das intenções de voto nas eleições em Fortaleza. Wagner e Girão estiveram juntos no mesmo partido (Pros) nas eleições de 2018, quando este último foi alçado a senador do Ceará. Já em 2022, quando Wagner disputou eleições para a prefeitura de Fortaleza pela segunda vez, ele obteve o apoio tanto de Girão como de Fernandes.
Agora em 2024, porém, os três, outrora aliados, não só negaram a todas as pressões para unirem-se numa chapa para enfrentarem o PT, como até trocam indiretas nas redes sociais. Questionado sobre o assunto, Wagner argumenta que “reúne experiências que os outros concorrentes não têm”, e por isso optou por não formar uma chapa conjunta com um deles.
“Respeito muito o senador Eduardo Girão, que é um amigo pessoal, e o deputado federal André Fernandes. Mas avalio que sou o mais bem preparado e pronto para a missão de pacificar Fortaleza”, disse o candidato à reportagem da Gazeta do Povo.
Por sua vez, Girão explica que sua candidatura é “um projeto diferenciado”. Ele dá o exemplo da postura do PL e do União Brasil diante de pautas nacionais, como a anistia às multas dos partidos: “o único que votou contra foi o Novo”.
Em entrevista à Gazeta do Povo, Girão também criticou a união da sigla de Wagner com o PT na região metropolitana de Fortaleza, além da postura nacional, com a indicação de dois ministros no governo Lula. “Não tem cabimento”, ressaltou.
Ele nega, porém, rompimento com Capitão Wagner. “Nenhum desentendimento, de jeito nenhum. É só uma questão de projetos diferentes. O União Brasil está nos braços do Lula, e a gente tem uma posição de coerência. Eu não tenho condição de estar na oposição e estar aceitando apoio de PT”, completou.
A situação do União Brasil no cenário nacional também já foi explorada por André Fernandes nas redes sociais, mas sem citar diretamente o nome de Wagner. Apoiadores do candidato líder nas pesquisas, por sua vez, usaram as redes para rebater essa questão e explorar situações em que o PL também se uniu ao PT, seja em votações no Congresso, seja em cidades do interior do estado.
Candidato à reeleição com apoio de Ciro Gomes aposta em ataques diretos ao PT
Enquanto os três representantes da direita trocam indiretas, a esquerda e a centro-esquerda se dividem em outras três candidaturas. Em segundo lugar nas pesquisas mais recentes* está o atual prefeito, José Sarto (PDT), apoiado por Ciro Gomes (PDT). Seguindo os passos do padrinho político, ele tem apostado em fortes críticas ao candidato do PT, Evandro Leitão, chegando a dizer que o partido dele “serve cafezinho para bandido”.
Sarto só omite que, até o ano passado, eles dividiam as cadeiras do PDT, e estiveram juntos na última campanha eleitoral. Leitão filiou-se ao PT em 17 de dezembro de 2023, após racha entre Ciro e o senador Cid Gomes, que manteve a aliança com o PT. A esquerda ideológica também conta com o candidato do Psol, Técio Nunes.
Debate às eleições de Fortaleza evidencia falta de coerência política
Girão foi excluído dos dois principais debates eleitorais realizados até o momento, e recebeu solidariedade de Wagner e Fernandes. Saúde e segurança pública foram os temas mais comentados pelos candidatos, além de acusações de falta de coerência política.
No evento organizado pelo jornal O Povo, na última terça-feira (27), a área da segurança pública dominou o embate de ideias, quando Sarto questionou Leitão sobre a fuga de um preso em Itaitinga, enfatizando que um dos fugitivos tinha "uma perna só". Sarto, em sua réplica, acusou o PT de ser responsável pelo colapso da segurança em Fortaleza, afirmando que o partido "serve cafezinho para bandido".
Já no debate promovido pelo Diário do Nordeste na quarta-feira (28), os candidatos compararam posicionamentos antigos dos concorrentes com posturas recentes, para apontar contradições.
*Pesquisas mencionadas: No levantamento do instituto Datafolha, divulgado no último dia 22, Wagner e Sarto estão tecnicamente empatados, com 29% e 23% das intenções de voto, respectivamente. Fernandes aparece em terceiro lugar, com 16%, seguido por Evandro Leitão, com 10%, e Girão, com 5%. A margem de erro da pesquisa é de 4 pontos percentuais. A pesquisa foi realizada nos dias 20 e 21 de agosto de 2024 com 644 eleitores. A pesquisa foi contratada pelo jornal O Povo e registrada na Justiça Eleitoral sob o protocolo CE-08395/2024.
Na pesquisa da Quaest sobre as eleições em Fortaleza, Wagner lidera com 31% das intenções de voto, Sarto segue na segunda posição com 22%, enquanto Evandro Leitão (PT) e André Fernandes (PL) aparecem empatados em terceiro lugar, com 14% cada. A margem de erro é de 3 pontos percentuais, indicando uma ligeira variação nas posições dos candidatos e ressaltando a volatilidade do cenário eleitoral em Fortaleza. Foram 900 entrevistados entre os dias 19 e 21 de agosto de 2024. A pesquisa foi contratada pela TV Verdes Mares. Registro no TSE nº CE-04809/2024.
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