Sebastião Melo (MDB) foi reeleito prefeito de Porto Alegre neste domingo (27), no segundo turno das eleições municipais 2024. Melo derrotou nas urnas Maria do Rosário (PT), prorrogando o mandato à frente do Paço Municipal por mais quatro anos.
O resultado final das eleições na capital gaúcha indicou Melo reeleito com 406.467 votos, o que representa 61,53%. Já Maria do Rosário conquistou 254.128 votos, o que equivale a 38,47%.
Os votos em branco somaram em 3,81% e os nulos, 3,75%. A abstenção ficou em 34,83%, ou seja, 381,9 mil eleitores optaram por não irem às urnas neste domingo.
A vitória de Melo seguiu a tendência verificada ao fim do primeiro turno, quando ele alcançou 49,72% dos votos válidos. Para virar o jogo, Maria do Rosário, que conquistou 26,28% dos votos em 6 de outubro, precisava dobrar a votação alcançada. Para isso, era necessário virar voto de eleitores de Melo, conquistar aqueles que votaram em Juliana Brizola (PDT), candidata que ficou em terceiro lugar, e ainda convencer eleitores que faltaram no primeiro turno a irem às urnas e apertarem o número 13 - o que não ocorreu.
Porto Alegre teve a maior abstenção entre as capitais em 6 de outubro, com 31,51% - no Brasil inteiro o índice ficou em 21,71%. A alta abstenção na capital gaúcha foi registrada cinco meses após a cidade enfrentar a pior enchente da história.
Mesmo comandando a prefeitura nesse período de chuvas e cheias, a imagem de Sebastião Melo não foi afetada perante os eleitores - que não apenas lhe garantiram a vitória como lhe deram votação expressiva. Inclusive, o prefeito transformou em peça de campanha um dos adjetivos pejorativos que recebeu durante a enchente. Alguns moradores e opositores de Melo o chamaram de “chinelão”.
O termo é uma gíria do Rio Grande do Sul para dizer que algo é ruim, "sem noção", que foi negligenciado. Ele assumiu o adjetivo, associando-o à simplicidade. “Sabe por que tem gente que me chama de chinelão? Porque eu estou sempre com gente simples e batalhadora”, disse em vídeo publicado no Instagram.
Campanha do 2º turno teve debates acalorados
Com apenas três semanas de campanha eleitoral, o segundo turno em Porto Alegre teve debates acalorados e acirramento de discursos, como previsto pelo professor do departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Rodrigo Stumpf González em entrevista à Gazeta do Povo.
Já no primeiro debate, realizado em 10 de outubro pela rádio Gaúcha, os dois trocaram provocações, segundo o site GZH. “O senhor está muito agressivo. Não parece o cara do chapéu de palha”, disse Rosário, em referência às propagandas eleitorais em que Melo usava um chapéu de palha e se apresentava como candidato do povo.
O prefeito rebateu: “Antes era Maria sem Rosário. Agora, ela é Maria do Rosário como ela é, de ataques, de radicalismo. A senhora não anda pela cidade, está em Brasília mesmo”.
No debate da Rádio Guaíba, em 16 de outubro, não foi diferente. Os candidatos trocaram farpas e acusações sobre corrupção, conforme noticiou o jornal Correio do Povo. Maria do Rosário disse que o governo Melo era “responsável pelos maiores escândalos de corrupção que a prefeitura de Porto Alegre já viveu”, em referência à investigação na Secretaria Municipal de Educação que levou à prisão a ex-secretária da pasta Sônia Rosa.
Melo rebateu: “De corrupção, quem é campeão e entende é o PT. Se quiser debater esse tema, vamos debater, mas se tem alguém que entende de corrupção no país é o Partido dos Trabalhadores”.
Os embates seguiram também para as redes sociais. “Rosário torce pela desgraça”, cita postagem de Melo no Instagram em 17 de outubro. “É enchente, é pousada... Política tem que apresentar soluções”, diz o prefeito em vídeo. No mesmo dia, a candidata petista publicou: “Melo culpa o povo pela sua incompetência”. No vídeo, ela afirma: “Não acho justo colocar a culpa nas pessoas que estão doentes pela dificuldade de gestão e atendimento na capital”.
Maria do Rosário buscou eleitores de Juliana Brizola para tentar virar o jogo
No sexto mandato como deputada federal, Maria do Rosário foi eleita pela primeira vez para a Câmara dos Deputados no pleito de 2002 e desde então tem conquistado uma cadeira na casa legislativa. Já são 22 anos no cargo.
Durante esse período na Câmara, licenciou-se apenas uma vez: em 1º de janeiro de 2011, para assumir a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, no governo de Dilma Rousseff (PT). Foi a primeira mulher a ocupar a pasta.
Na segunda vez em que disputou a prefeitura de Porto Alegre, fez 26,28% dos votos válidos no primeiro turno. Com o desempenho, precisava dobrar a votação neste segundo turno para se consagrar prefeita. Entre as estratégias, associou Sebastião Melo a Jair Bolsonaro (PL) em uma tentativa de atrair votos de eleitores contrários ao ex-presidente.
Nas redes sociais, postou vídeo com matérias de jornais - entra elas, uma que cita que a ex-secretária de educação da atual gestão recebeu propina - em que chama Melo de "Chapolin Melonaro", uma associação entre os nomes de Melo e Bolsonaro. Na legenda: "Diga-me com quem andas que … ?". Em outra publicação disse que "Melo é machista igual ao Bolsonaro".
Nas eleições de 2020, quando foi eleito, Melo utilizou a figura de Bolsonaro na campanha. Em 2022, apoiou o então presidente que tentava reeleição e, na disputa pelo governo do Rio Grande do Sul, esteve ao lado de Onyx Lorenzoni (PL), mesmo com o partido dele participando da coligação na chapa de Eduardo Leite (PSDB). Bolsonaro e Onyx saíram derrotados do pleito. Em Porto Alegre, Lula venceu Bolsonaro no primeiro (49,8% e 39,1%, respectivamente) e no segundo turno (53,5% e 46,5%) das eleições presidenciais de 2022.
Nessa campanha, Melo não investiu em Bolsonaro como cabo eleitoral. O ex-presidente apesar de, junto com o PL, ter indicado a vice na chapa - Betina - não participou de propagandas de rádio e TV ao lado de Melo. Em entrevista à Gazeta do Povo, Melo negou ter se afastado de Bolsonaro. "Eu estou repetindo esta aliança (com o PL), o presidente Bolsonaro teve comigo aqui na pré-campanha", afirmou.
Outra fonte de votos necessária para virar o jogo era a de Juliana Brizola (PDT), que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, com 136.783 votos, o que representa 19,69% do total. O PDT declarou apoio a Maria do Rosário, mas a aproximação entre as duas siglas não aconteceu de fato.
O diretório municipal chegou a emitir um indicativo de não apoio a nenhuma das candidaturas. No entanto, a executiva nacional do partido, que é comandado por Carlos Lupi, ministro de Lula, orientou que o PDT estivesse com Maria do Rosário. No entanto, mesmo com o apoio formal, Juliana Brizola e outras lideranças do partido não foram para as ruas fazer campanha com a petista.
Faz 19 anos que o PT não governa Porto Alegre. O partido ficou no poder entre 1989 - com Olívio Dutra como prefeito - e 2002, com mandato de João Verle. Passaram ainda pelo Paço Municipal, neste período, Tarso Genro (1993-1996 e 2001 e 2002) e Raul Pont (1997-2000).
A trajetória política de Sebastião Melo
Com trajetória política que começou dentro da universidade, Sebastião Melo fortaleceu-se como figura pública em Porto Alegre. Ficou conhecido na periferia por trabalhos na região, e se consolidou como vereador. Ocupou a cadeira na Câmara Municipal por três mandatos, entre 2001 e 2012.
Foi eleito vice-prefeito da capital gaúcha na chapa com José Fortunati em 2012. Em 2016, tentou, pela primeira vez, ser prefeito de Porto Alegre. Conquistou apoio de 14 partidos, mas acabou derrotado por Nelson Marchezan Júnior (PSDB).
Em 2018, elegeu-se deputado estadual, mas sem desistir do sonho de alcançar o posto mais alto de Porto Alegre. Em 2020, voltou a disputar o cargo. Posicionou-se ao lado de apoiadores de Bolsonaro e, no segundo turno, derrotou Manuela D’Ávila (PCdoB), realizando o sonho de ocupar o principal gabinete do Paço Municipal.
Do interior de Goiás para o protagonismo em Porto Alegre
Natural de Piracanjuba, interior de Goiás, Melo trabalhou no campo como lavrador até os 15 anos. Mudou-se para Porto Alegre aos 20 anos, em 1978, quando se filiou ao então PMDB, hoje MDB.
Para poder concluir os estudos no Colégio Marechal Floriano, precisou trabalhar em uma lancheria no centro da cidade. Para complementar a renda, carregava caixotes nas Centrais de Abastecimento (Ceasa). Cursou Direito na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) no turno da noite. Durante o dia trabalhava como balconista numa loja de materiais de construção.
Sebastião Melo iniciou na política estudantil ao presidir o Centro Acadêmico Visconde de São Leopoldo. Formado, passou a atuar como advogado e em seguida passou a exercer o cargo de conselheiro estadual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), subseção do Rio Grande do Sul. Foi secretário e conselheiro da Caixa de Assistência dos Advogados do Rio Grande do Sul. Sebastião Melo é casado com Valéria Leopoldino e tem dois filhos: Pablo e João Artur.
Após o resultado das eleições em Porto Alegre, os desafios do município
Porto Alegre ainda tenta se reconstruir das enchentes de maio que alagaram diversos bairros da cidade. O desenvolvimento de um novo e robusto sistema de proteção contra as cheias será um dos principais desafios da nova gestão.
Especialistas apontam que o sistema atual não foi suficiente para conter as águas do que se tornou a pior enchente da história da capital gaúcha. “O sistema no final das contas não protegeu (a cidade da enchente), mas retardou a subida da água”, explicou, na época, o engenheiro civil e doutor em recursos hídricos e saneamento ambiental do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Fernando Dornelles. Para ele, faltou prevenção e manutenção para minimizar a enchente em Porto Alegre.
A educação é outro ponto que deve ser desafio para o segundo mandato de Melo. A pesquisa AtlasIntel divulgada na última terça-feira (22) mostra que para 42,4% dos eleitores a educação é o principal problema da cidade. Porto Alegre ficou na penúltima colocação no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgado em abril. Além disso, a educação infantil registra falta de vagas. Em agosto, mais de 3 mil crianças ainda aguardavam vagas em creches.
Melhorar o aprendizado dos alunos e a infraestrutura de escolas públicas e criar mais vagas para crianças em creches estarão na lista de prioridades do prefeito eleito. O levantamento da AtlasIntel mostra, ainda, que saúde (40,8%), criminalidade (35,6%), engarrafamentos (22,4%), transporte público (22,3%) e população de rua (21,1%) são problemas que afetam a vida dos porto-alegrenses e devem ter atenção da gestão municipal.
Em ranking elaborado pela Gazeta do Povo sobre as melhores cidades para se morar no país, Porto Alegre aparece na 160ª posição entre os municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes, com nota 6,18. O levantamento inclui 10 categorias diferentes, e utiliza um total de 21 indicadores.
Alguns deles, por serem mais relevantes, ganharam peso maior no cálculo da nota final de cada cidade. As categorias analisadas foram educação, taxa de homicídio, saúde, economia, infraestrutura, expectativa de vida, mortes no trânsito, suicídio, cultura, famílias em situação de rua.
- Metodologia: 1.200 entrevistados pela AtlasIntel entre os dias 15 e 20 de outubro de 2024. A pesquisa em Porto Alegre foi contratada pela própria AtlasIntel Tecnologia de Dados Ltda Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Registro no TSE nº RS-03151/2024.
Governo promete reforma, mas evita falar em corte de gastos com servidores
Bolsonaro chora e apoiadores traçam estratégia contra Alexandre de Moraes; acompanhe o Entrelinhas
“Vamos falar quando tudo acabar” diz Tomás Paiva sobre operação “Contragolpe”
Brasil tem portas fechadas em comissão da OEA para denunciar abusos do STF
Deixe sua opinião