Neste domingo (6), primeiro turno das eleições 2024, o Partido dos Trabalhadores (PT) cresceu em número de prefeituras no Brasil em relação a 2020, puxado principalmente pelo Nordeste, mas perdeu espaço em algumas regiões, como no Norte, e manteve uma tendência de desempenho fraco em capitais.
O PT elegeu 248 prefeitos em 2024, um crescimento em relação a 2020, quando conquistou 183 prefeituras. Esse resultado aproxima o partido dos números de 2016, quando foram eleitos 254 prefeitos, mas ainda está distante do auge de 2012, quando o PT chegou a comandar aproximadamente 600 prefeituras.
No Nordeste, o partido do presidente Lula conseguiu 168 municípios, contra 91 em 2020. O crescimento foi puxado principalmente por três estados da região: Piauí, Ceará e Bahia, nos quais o partido ainda tem forte apoio popular.
No Norte, no entanto, houve uma redução expressiva no número de prefeituras. O PT viu seu número de administrações municipais na região cair quase pela metade: de 13 em 2020 para apenas 7 em 2024.
No Sul, também houve queda: o partido conquistou 29 prefeituras, contra 42 nas eleições anteriores.
No Centro-Oeste, o partido ficou com um município a menos, elegendo três prefeitos em 2024, contra quatro na eleição passada.
Por outro lado, o Sudeste apresentou um leve crescimento petista, com 41 prefeitos eleitos em 2024, em comparação com 33 em 2020. Esse desempenho foi puxado principalmente por Minas Gerais, estado em que o partido ganhou em 35 municípios.
Em capitais e cidades grandes, PT continua com desempenho fraco
O PT manteve o desempenho ruim nas capitais e nas 103 cidades com mais de 200 mil habitantes, aquelas que podem ter segundo turno.
Assim como em 2020, o partido não elegeu nenhum prefeito de capital. Ainda tem chance disso em Cuiabá, Fortaleza, Natal e Porto Alegre, onde seus candidatos chegaram ao segundo turno nas eleições 2024.
Nas cidades grandes, o PT só conseguiu duas prefeituras, por enquanto - Contagem (MG) e Juiz de Fora (MG). Em 2020, obteve quatro.
Para o cientista político Paulo Kramer, o PT passa por um processo de "arenização", por sua dificuldade de sair de seus redutos tradicionais. "No ocaso do regime militar, final dos anos 1970, o partido governista, a Arena [Aliança Renovadora Nacional], foi sendo empurrado para os grotões rurais pela força eleitoral do MDB, legenda da oposição que canalizava cada vez mais o protesto urbano", diz.
Para ele, a desidratação eleitoral do PT "corresponde ao fim de um ciclo de ideias e propostas de esquerda, uma esquerda que, uma vez no poder, foi mostrando suas garras autoritárias".
"A bem da verdade, tudo isso já era previsível muito antes para quem se desse ao trabalho de perceber as referências internacionais da ideologia lulopetista", afirma, recordando que o partido se associou a "regimes de esquerda despótica como Cuba, Nicarágua, Venezuela e China, jamais a governos social-democratas".
Kramer considera que o PT só se sustenta ainda, neste momento, pela figura de Lula. A decadência do partido tem a ver justamente com sua afinidade com o autoritarismo e seu distanciamento da esquerda democrática. "O caminho que o PT não trilhou foi o da social-democratização, como ocorreu com o SPD alemão, que, em 1959, excluiu o marxismo do seu programa", afirma.
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