Gilson Machado: “Recife virou a capital do abandono”

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Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, o ex-ministro do Turismo e candidato à prefeitura do Recife, Gilson Machado Neto (PL), fez duras críticas à gestão municipal de João Campos (PSB). Segundo Machado, a capital pernambucana tem sofrido com o abandono de áreas cruciais como segurança, mobilidade urbana e geração de empregos.

"Recife, que sempre foi um polo comercial, hoje está desmoronando com lojas fechadas e a falta de iniciativas efetivas do poder público", disparou o candidato do PL. Ao longo da conversa, o ex-ministro apontou o que considera falhas estruturais da administração do PSB, partido que comanda o município há 12 anos.

Machado também apresentou propostas para revitalizar a cidade, com foco em segurança, redução de impostos e melhorias na infraestrutura, prometendo uma gestão mais eficiente e transparente. "Faltam coragem e gestão; o que sobra são desculpas", declarou.

Confira abaixo a entrevista com Gilson Machado:

Um levantamento feito pelo Instituto Cidades Sustentáveis mostrou que o Recife tem o segundo pior índice no mapa da desigualdade entre as capitais brasileiras, relacionado à pobreza e à miséria. Como o candidato pretende diminuir essa desigualdade e a miséria crescente?

Gilson Machado Neto: Recife tem em torno de 150 mil pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, mais do que a população de Camaragibe, uma cidade satélite aqui da região metropolitana. Além disso, temos cerca de 2 mil pessoas em situação de rua, desassistidas. Precisamos trazer de volta a esperança, e isso passa por gerar empregos. 

Atualmente, 15% da população está desempregada, o maior índice entre as capitais do Nordeste. O jovem está sem expectativa porque o setor privado, que é quem gera emprego, está fugindo de Recife. A cidade virou a capital dos impostos. Precisamos resgatar o comércio no Recife Antigo e no centro da cidade, que parece um cenário de “Walking Dead”, com lojas fechadas. Vamos atuar na segurança e melhorar a mobilidade urbana, que hoje é o segundo pior trânsito da América Latina.

Recife também tem graves problemas com as áreas de risco, com mais de 200 mil pessoas vivendo em locais vulneráveis a inundações e deslizamentos. O que o candidato pretende fazer para melhorar a situação?

O governo PSB está no poder há 12 anos e pouco foi feito. Eles usam plásticos para contenção de deslizamentos, enquanto há tecnologias como a geomanta, que poderiam ter uma durabilidade maior. Também temos que buscar recursos internacionais para essas obras, e eu sei onde procurar. Com credibilidade, conseguimos dinheiro lá fora.

Sobre a segurança, o que o senhor propõe além de armar a Guarda Municipal?

Gilson Machado Neto: A segurança pública também é uma obrigação do município, prevista na Constituição. Hoje, vemos um prefeito que terceiriza responsabilidades, mas a prefeitura pode fazer muito. Câmeras com reconhecimento facial, inteligência artificial e um programa estratégico para qualificação de profissionais como porteiros, motoristas de aplicativo e vigilantes serão essenciais. Vamos criar um aplicativo para que eles façam denúncias em tempo real. Além disso, o Recife tem uma das Guardas Municipais menos equipadas do país, e vamos mudar isso.

O trânsito do Recife já foi apontado como um dos piores do país, chegando a estar atrás apenas de São Paulo. Como resolver isso?

Não sou mágico e não vou prometer resolver o trânsito no primeiro ano. Mas temos soluções. Vamos criar o bilhete único com validade de 24 horas, retomar a sincronização dos sinais e implementar horários diferenciados para cargas e descargas. Além disso, vamos remover o canteiro lateral da Avenida Agamenon Magalhães e da Domingos Ferreira, criando mais uma faixa de tráfego e reduzindo o número de sinais, o que vai melhorar o fluxo. Também vamos licitar o transporte fluvial, que é uma grande saída para o Recife.

Transporte fluvial está entre as propostas de Gilson Machado para Recife na área da mobilidade.

No mundo todo, especialmente em cidades desenvolvidas, o transporte público é altamente eficiente, e aqui podemos fazer o mesmo. Precisamos de monitoramento em tempo real, pelo qual o cidadão pode acompanhar o trajeto do ônibus via aplicativo, saber o horário exato de chegada e evitar esperas desnecessárias. Conversei com o pessoal do Porto Digital, e essa tecnologia já existe em Recife. Isso melhoraria a mobilidade e daria mais transparência ao serviço de transporte.

Como fazer todos esses investimentos com o atual espaço fiscal da prefeitura?

Vamos acabar com o cabide de emprego e combater a corrupção, como fizemos no governo federal. Além disso, reduzir gastos desnecessários, como os R$ 100 milhões anuais com propaganda. Esse valor poderia ser usado para construir 8 mil casas populares. Se formos responsáveis com o orçamento, podemos trazer investimentos internacionais, como na dragagem do porto de Recife.

Com tantos desafios e as pesquisas apontando João Campos como favorito, como o senhor vê o cenário eleitoral?

Apenas 30% da população sabe que sou candidato. Nas últimas eleições, comecei com meio por cento nas pesquisas e acabei com 31%. A pesquisa pode errar, mas o corpo a corpo vai mostrar quem realmente tem propostas para Recife. João Campos, que esculhambava Lula há quatro anos, hoje está abraçado com ele, mas sem coragem de aparecer ao lado do presidente em público. Eu sou o único candidato de direita apoiado por Jair Bolsonaro e que defende Deus, Pátria, Família e Liberdade.

O senhor foi ministro do Turismo na gestão Bolsonaro. Caso eleito, o que pretende realizar para alavancar esse setor no Recife?

Recife já foi o segundo maior destino turístico do Nordeste, mas hoje estamos em oitavo lugar. Isso é uma vergonha. A cidade tem equipamentos turísticos fantásticos, mas está abandonada. Vamos resgatar isso, organizando melhor os eventos e valorizando os artistas locais. O São João e o Carnaval não precisam de atrações de fora. Temos artistas que sempre fizeram nossas festas, e é com eles que vamos trabalhar.

Todos os candidatos à prefeitura de Recife foram convidados pela reportagem da Gazeta do Povo para entrevista.