À frente da única capital comandada pelo Psol no país, Edmilson Rodrigues, prefeito de Belém (PA) deveria liderar uma vitrine de gestão a ser exposta pela esquerda nas eleições municipais de outubro. Ao contrário, se transformou em problema que, quase 3 mil quilômetros ao sul, já é dor de cabeça para a pré-candidatura de Guilherme Boulos em São Paulo.
Levantamento do instituto Paraná Pesquisas, feito entre 7 e 12 de março, mostrou que 75,4% dos belenenses desaprovam a gestão de Rodrigues. Do total, 55,3% dos eleitores consultados não votariam nele de jeito nenhum na disputa pela reeleição à prefeitura.
Rodrigues tenta a reeleição com o apoio do PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, partido que em Belém ocupa a vice-prefeitura e três secretarias. Na preferência dos eleitores para ocupar a principal cadeira no palácio Antônio Lemos, neste momento, porém, o psolista não lidera em nenhum dos três cenários pesquisados. No principal deles, está em quarto lugar, com 11,1% das intenções de voto, atrás do deputado federal Éder Mauro (PL), com 26%, do secretário de estado de Esporte, Cassio Andrade (PSB), e do deputado federal José Priante (MDB), ambos com 12,8%.
Os problemas na gestão de Rodrigues viraram munição contra a candidatura de Boulos em São Paulo, prioridade do Psol e do PT nas eleições municipais deste ano, e preocupam também o governo Lula. O temor da esquerda é ver a cidade comandada pela oposição — entre os nomes possíveis, um apoiador de Jair Bolsonaro (PL), como Éder Mauro — durante a COP 30, a conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, agendada para Belém em 2025.
“Não é preciso eleger o Boulos para termos noção de como seria sua gestão. Basta olharmos para a gestão do prefeito psolista em Belém”, postou no X (antigo Twitter) o deputado estadual paulista Guto Zacarias (União). “Adivinha qual é o partido do pior prefeito do Brasil? PSOL do companheiro Boulos. Vigia, São Paulo”, emendou na mesma rede social o deputado estadual Rogério Barra (PL-PA). O Psol não vê razão para comparações (leia nota abaixo).
As polêmicas enfrentadas pelo prefeito do Psol em Belém
A mais recente causa para o desgosto da população com o trabalho do prefeito do Psol pode ser vista nas ruas de Belém. Uma crise na coleta de lixo, a partir de uma dívida de R$ 15 milhões da prefeitura com empresas concessionárias, acumulou lixo nas calçadas e vias da capital. Em meio à crise, o prefeito se ausentou por 10 dias em viagem para Dubai, nos Emirados Árabes, para acompanhar a COP 28. O problema do lixo se arrasta desde junho do ano passado e, apesar de um novo contrato e ações emergenciais, não está resolvido.
Também são alvo de críticas a falta de remédios e leitos nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e atrasos nos salários dos servidores municipais, que promoveram greves no ano passado.
Nesta que é a terceira passagem pela prefeitura (ocupou o cargo pelo PT de 1997 a 2004), Rodrigues coleciona polêmicas. Em setembro de 2022, ao lado do então candidato Lula, disse que a tradicional celebração religiosa Círio de Nazaré não era mais da Igreja Católica e sim “do povo”. A fala incomodou a Arquidiocese de Belém. “As palavras pronunciadas pelo prefeito feriram completamente não só a comunidade católica, mas a veracidade dos fatos históricos (...). A festa sempre foi e sempre será da Igreja Católica Apostólica Romana”, respondeu a arquidiocese.
O Ministério Público do Pará apura o possível acúmulo de cargos públicos pela noiva do prefeito, a professora Nayra da Cunha Rossy Santos. Além do salário como concursada na Secretaria da Educação, cedida para a Secretaria Municipal de Administração, Nayra receberia remuneração como conselheira na Companhia de Tecnologia de Informação de Belém.
No início deste ano, voltou a circular um vídeo gravado por Rodrigues em 2023, publicado nas redes sociais, em que o prefeito expressa solidariedade à cidade de Belém, na Cisjordânia, critica Israel e declara Belém do Pará “território livre do apartheid imposto pelo governo sionista de Israel”.
A situação crítica em Belém causa embaraços dentro do próprio Psol. A vereadora Professora Silvia Letícia, que ousou apresentar pré-candidatura à prefeitura de Belém pelo Psol, contrariando a vontade de Rodrigues, responde a processo de expulsão do partido, mas foi defendida inclusive por lideranças nacionais, como a deputada federal Sâmia Bomfim (Psol-SP). Bomfim faz críticas abertas ao prefeito. No ano passado, ao defender a candidatura de Boulos em São Paulo, disse que uma eventual gestão do psolista não deveria ser “como a de Edmílson, que, infelizmente, é uma das piores avaliadas do país”.
Por e-mail, a direção nacional do Psol respondeu à reportagem da Gazeta do Povo que não é possível comparar Belém com São Paulo. “Tem perfis geográficos e socioeconômicos distintos. A prefeitura de Belém tem uma realidade financeira muito diferente da encontrada em São Paulo. (...) Além disso, a prefeitura de Belém optou em resolver de maneira definitiva o tema do lixo, que não se iniciou na gestão Edmilson. A prefeitura de Belém abriu uma licitação que nunca houve na história da cidade, onde só havia contratos emergenciais de até um ano. Também vale ressaltar que o PSOL não tem vergonha de seus posicionamentos políticos nem de seus quadros e aliados”, diz a nota.
Procurada, a prefeitura de Belém não respondeu à Gazeta do Povo até a publicação desta reportagem.
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