Rodrigo Neves (PDT) foi eleito prefeito de Niterói (RJ), no segundo turno das eleições municipais, neste domingo (27), e comandará a cidade pela terceira vez. Ele derrotou o deputado federal Carlos Jordy (PL) em uma inédita disputa em que a direita chegou ao segundo turno no município.
Com 100% das urnas apuradas, Neves registrou 57,20% dos votos válidos (156.067), e Jordy teve 42,80% (116.796 votos), de acordo com a apuração do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O resultado seguiu a tendência do primeiro turno, quando Neves recebeu o apoio de 136.064 eleitores, totalizando 48,47% dos votos válidos. Carlos Jordy (PL), por sua vez, fez 99.920 votos (35,59%) no último 6 de outubro.
Neves, de 48 anos, já foi prefeito da cidade em outras duas ocasiões: em 2012 foi eleito pelo PT e, em 2016, pelo PV. Para este terceiro mandato, promete mais investimentos na saúde, com a contratação de 200 médicos.
Na área de segurança, propõe dobrar o número do efetivo da Guarda Municipal e de viaturas. Para a educação, assumiu o compromisso de vagas em creches para todas as crianças de zero a seis anos e a implementação do programa “Quarta Presente”, que prevê turno integral para todas as escolas municipais às quartas-feiras.
A trajetória de Neves e a frente ampla em torno de seu nome
Neves foi eleito para um cargo público pela primeira vez em 2000, quando conquistou uma vaga na Câmara de Vereadores de Niterói. Em 2004, foi reeleito como vereador. Ele exerceu também a função de deputado estadual ao ser escolhido no pleito de 2010.
Após dois mandatos como prefeito de Niterói entre 2013 e 2020, concorreu ao governo do estado do Rio de Janeiro em 2022. Ele terminou a corrida eleitoral em terceiro lugar com 8% dos votos. Na ocasião, Cláudio Castro (PL) foi eleito.
Na eleição deste ano, Rodrigo Neves teve como vice a atleta profissional Isabel Swan (PP), que foi a primeira mulher medalhista do Brasil na vela em Jogos Olímpicos. Essa é a primeira eleição que ela disputa.
A chapa foi apoiada pela coligação “Por amor a Niterói”, que reuniu 13 partidos: PDT, PT, PCdoB, PV, PSDB, Cidadania, MDB, União Brasil, Solidariedade, Republicanos, Agir, PRD e PSD. Uma frente ampla que, no segundo turno, recebeu o apoio também da candidata Talíria Petrone (Psol), que ficou em terceiro lugar na corrida eleitoral pela prefeitura de Niterói, recebendo o apoio de 35.498 eleitores (12,56% dos votos).
Nesse caminho, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, também demonstrou suporte a Neves, assim como o deputado federal Alessandro Molon (PSB); o prefeito reeleito do Rio de Janeiro Eduardo Paes (PSD); João Campos (PSB), reeleito em Recife; e o senador Romário (PL). Desde o início da campanha, Neves também contou o apoio do presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Rodrigo Bacellar (União Brasil).
Na largada do segundo turno, foi a Brasília se encontrar com o presidente Lula (PT). Eles debateram soluções para a cidade e fecharam parcerias entre os governos municipal e federal. A gestão de Rodrigo Neves será a sexta do PDT na cidade.
Desde 1989, Niterói, que é tradicionalmente uma cidade progressista, foi comandada apenas por partidos de esquerda ou de centro-esquerda. Além do PDT, governaram o município da Região Metropolitana do Rio de Janeiro o PT (por duas vezes) e o PV (uma vez). Nas eleições presidenciais de 2022, por exemplo, Lula foi o candidato mais votado na cidade - em contraponto, em todo o estado do Rio, Bolsonaro recebeu mais preferência do eleitor nas urnas.
Carlos Jordy é o primeiro candidato da direita a chegar ao 2º turno em Niterói
Derrotado nas urnas neste domingo (27), Carlos Jordy, 42 anos, foi o primeiro candidato da direita a chegar ao segundo turno em Niterói. Até então, os confrontos haviam sido entre siglas de esquerda:
- Em 2020, PDT eleito em primeiro turno
- Em 2016, Rodrigo Neves (PV) derrotou Felipe (PSB)
- Em 2012, Rodrigo Neves (PT) derrotou Felipe Peixoto (PDT)
- Em 2008, Jorge Roberto Silveira (PDT) eleito em 1º turno
- Em 2004, Godofredito (PT) derrotou João Sampaio (PDT)
- Em 2000, Jorge Roberto Silveira (PDT) derrotou Sérgio Zveiter (PMDB)
- Em 1996, Jorge Roberto Saad Silveira (PDT) foi eleito em 1º turno
- Em 1992, João Sampaio (PDT) eleito em 1º turno.
A trajetória de Jordy até chegar a este segundo turno começou em 2016, quando foi eleito vereador pelo PSC. Já em 2018, foi escolhido pelos eleitores do Rio de Janeiro para ser deputado federal pelo PSL - cargo para o qual foi reeleito em 2022 então já pelo PL, seu atual partido.
A candidata a vice na chapa de Jordy foi Alexandra Ferro (PP). Essa foi a segunda eleição em que ela concorreu - em 2020 buscou uma cadeira na Câmara de Vereadores de Niterói pelo Cidadania e ficou como suplente.
A chapa de Jordy e Alexandra fez parte da coligação “O cidadão em primeiro lugar”, composta por PL e PP. Ele teve a família Bolsonaro, que tem seu reduto eleitoral no Rio de Janeiro, como apoiadora. No entanto, o ex-presidente Jair Bolsonaro só esteve com Jordy na pré-campanha, em julho.
O candidato do PL contou com suporte do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), e publicou no Instagram um vídeo gravado pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que convocou os eleitores cristãos a participar de evento com Jordy.
Outro cabo eleitoral do postulante à prefeitura de Niterói foi o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Na campanha, Jordy visitou o chefe do Executivo paulista e pediu assistência técnica da equipe dele para as áreas de gestão, finanças e mobilidade, caso fosse eleito. Tarcísio gravou um vídeo ao lado de Jordy, associando-o à mudança e pedindo o voto no número 22.
Na campanha do segundo turno, Jordy contou com o apoio de Bruno Lessa (Podemos), que ficou em quarto colocado no primeiro turno na disputa pela prefeitura de Niterói. Ele recebeu 8.805 votos, o que representa 3,14% do total.
Após o resultado das eleições em Niterói, os desafios da gestão
Sétima cidade mais populosa do Rio de Janeiro, Niterói tem 481.749 habitantes, segundo o Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A cidade é também a sétima com maior PIB per capita no estado do Rio, com R$ 128,3 mil, de acordo com o IBGE.
Os moradores da cidade apontaram, em pesquisa da AtlasIntel, divulgada em 17 de outubro, que o principal problema de Niterói é a saúde pública. Entre os entrevistados, 50,1% apontaram essa área como a mais deficitária.
Os problemas na área da saúde foram denunciados também pela Associação dos Servidores da Saúde de Niterói. Em posicionamento público divulgado em setembro de 2023, o grupo cita a precarização dos Módulos do Programa Médicos de Família. “Além de equipes incompletas, sem médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, entre outros profissionais, há módulos totalmente interditados, por insalubridade, deteriorados fisicamente, onde equipes se revezam por falta de espaço (consultórios)”, diz trecho do texto disponível no site do órgão.
O segundo problema que mais preocupa os moradores de Niterói é a criminalidade (37,4%), seguida por educação (33%), engarrafamentos (31,2%), população de rua (27,2%), degradação do centro da cidade (27%) e corrupção (22,1%). Situações que se apresentam como desafios na gestão do prefeito eleito.
Em ranking elaborado pela Gazeta do Povo sobre as melhores cidades para se morar no país, Niterói aparece na 50ª posição entre os municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes, com nota 6,91. O levantamento inclui 10 categorias diferentes, e utiliza um total de 21 indicadores.
Alguns deles, por serem mais relevantes, ganharam peso maior no cálculo da nota final de cada cidade. As categorias analisadas foram educação, taxa de homicídio, saúde, economia, infraestrutura, expectativa de vida, mortes no trânsito, suicídio, cultura, famílias em situação de rua.
- Metodologia da pesquisa AtlasIntel de 17 de outubro: 1.198 entrevistados pelo AtlasIntel entre os dias 11 e 16 de outubro de 2024. A pesquisa em Niterói foi contratada pelo próprio instituto AtlasIntel. Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Registro no TSE nº RJ-00997/2024.
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