Em entrevista à Gazeta do Povo, o deputado federal e candidato à prefeitura do Rio de Janeiro nas eleições de 2024, Marcelo Queiroz (PP), afirmou que o prefeito Eduardo Paes (PSD) pensa a cidade como se estivesse nas Olimpíadas de 2016, priorizando projetos que, na visão dele, não atendem às necessidades atuais da população carioca.
Para Queiroz, um dos maiores exemplos desse atraso é o ônibus expresso (de trânsito rápido) BRT Transbrasil, que, segundo ele, foi projetado com foco nos eventos olímpicos e parou em Deodoro, sem chegar a Santa Cruz, como originalmente previsto. "Isso é um crime contra a mobilidade da cidade", afirmou o candidato, que propõe a expansão do sistema com a integração de outras regiões da metrópole.
Além das críticas ao sistema de transporte, Marcelo Queiroz abordou na entrevista temas como segurança pública, defendendo o uso de câmeras inteligentes pela cidade e a ampliação do programa "Segurança Presente". Ele também defendeu a ampliação da telemedicina na cidade e a educação em tempo integral. Todos os candidatos à prefeitura do Rio de Janeiro foram convidados pela Gazeta do Povo para entrevista.
Confira a entrevista com o candidato Marcelo Queiroz
Para boa parte da população carioca, a criminalidade é um dos maiores problemas que a cidade enfrenta. De um lado temos a milícia e de outro o tráfico. Sabemos que o enfrentamento ostensivo é de responsabilidade do governo do estado. Mas o que uma secretaria de segurança municipal pode fazer para mitigar as consequências da violência?
Acho que a cidade do Rio de Janeiro não é uma smart city, ainda falta inteligência na gestão. Uma das medidas que defendo é a implantação de 20 mil câmeras inteligentes ao longo da cidade, o que pode ser um diferencial para colaborar com a segurança pública. Essas câmeras, ao contrário do que vemos hoje, não seriam apenas de trânsito ou radares, mas sim câmeras realmente voltadas para segurança. Além disso, acredito que o município pode contribuir com o projeto "Segurança Presente", que hoje é um dos mais bem avaliados pelo governo estadual. A prefeitura poderia arcar com o pagamento do "Raio-X" para dobrar esse projeto, ampliando sua atuação.
Quanto à Guarda Municipal, vejo com preocupação o que tem sido discutido em nível nacional, como o armamento. Em quatro anos, não vejo como possível realizar esse tipo de mudança de maneira adequada. Prefiro focar em reconquistar a Guarda para o nosso lado, garantindo que ela esteja presente nas ruas e fiscalizando. A população reclama da ausência da Guarda, não necessariamente de guardas armados, mas de um trabalho efetivo na cidade.
Vejo com preocupação o que tem sido discutido em nível nacional sobre o armamento da Guarda Municipal. Em 4 anos, não vejo como possível realizar esse tipo de mudança de maneira adequada.
Marcelo Queiroz, candidato do PP à prefeitura do Rio de Janeiro
No seu plano de governo, uma das soluções para a segurança pública é a instalação de câmeras na cidade. Sabemos que o policiamento é importante, além do trabalho de inteligência. Outros candidatos defendem o armamento da Guarda Municipal. Você endossa essa ideia?
Sou muito cauteloso em relação ao armamento da Guarda Municipal. Primeiro, porque temos uma Guarda insatisfeita com as condições de trabalho. Falar em armar sem antes reestruturar a corporação e garantir uma qualificação adequada pode ser perigoso. Não se trata apenas de enfrentar bandidos, mas de lidar com situações do dia a dia. Imagine um guarda armado em uma praça onde há crianças brincando. É uma situação que poderia ser facilmente agravada. Hoje, temos outros mecanismos que podem ser melhor utilizados, como a Polícia Militar, o projeto Segurança Presente e a Polícia Civil. Minha proposta é integrar melhor esses serviços e resolver o problema de forma mais eficiente.
Você propõe o programa "Saúde na Palma da Mão" para atendimentos de menor complexidade. Como isso seria implementado considerando que parte da população carioca, principalmente em áreas mais pobres, não tem acesso à internet?
O "Saúde na Palma da Mão" é um projeto de telemedicina. A ideia é que o cidadão possa realizar consultas online, o que já acontece nos grandes planos de saúde privados. Isso desafogaria os atendimentos presenciais, especialmente em casos de menor complexidade. Reconheço, no entanto, que o acesso à internet é um desafio, principalmente em áreas de milícia e tráfico.
A proposta, nesse sentido, seria complementar, e precisaria de um programa paralelo de conectividade, não só para a saúde, mas para educação e outros serviços. As escolas, por exemplo, poderiam funcionar como polos de distribuição de internet para as comunidades. Precisamos garantir que a tecnologia chegue a todos.
O senhor menciona a expansão da educação em tempo integral nas escolas municipais. Como pretende garantir a infraestrutura e os recursos humanos necessários para essa expansão?
Temos recursos, mas é preciso gerir melhor. Hoje, a prefeitura gasta com 29 secretarias, o que considero um exagero. Acredito que, ao cortar gastos desnecessários, como a terceirização excessiva, podemos priorizar a educação. A diferença entre o que é pago para as Organizações Sociais (OS) e o que seria investido diretamente na folha de pagamento da prefeitura é de cerca de R$ 368 milhões. Com esse recurso, seria possível expandir a educação em tempo integral, além de priorizar setores essenciais como saúde e educação. O importante é concentrar esforços no que realmente importa para a população.
Seu plano fala sobre reduzir a terceirização em atividades essenciais. Quais serviços o senhor acredita que devem ser internalizados pela prefeitura, e como isso beneficiaria os moradores do Rio?
A terceirização tem sido usada de forma indiscriminada, especialmente em áreas como saúde e educação, onde deveria haver maior controle por parte da prefeitura. Defendo a internalização desses serviços essenciais. As Organizações Sociais (OS), por exemplo, recebem uma verba altíssima, e não temos total transparência sobre o uso desses recursos.
Se o município gerisse diretamente os hospitais e escolas, poderíamos garantir maior eficiência e controle na execução dos serviços, além de priorizar a valorização dos servidores públicos. A economia com a redução da terceirização seria significativa, permitindo redirecionar esses recursos para melhorar a infraestrutura, contratar mais profissionais e investir em tecnologia. Isso seria um grande benefício para a população, que passaria a contar com um serviço público mais eficiente e confiável.
O senhor foi secretário de Administração do prefeito Eduardo Paes. Quais propostas para administração pública deixou de fazer enquanto secretário dele que pretende, caso seja eleito, realizar enquanto prefeito?
Como secretário, consegui implementar algumas medidas importantes, como a recomposição salarial para os servidores, algo que me orgulho. No entanto, ainda há muito a ser feito. Se eleito prefeito, minha prioridade será a valorização do servidor público. Hoje, os salários estão defasados em cerca de 20%, e essa valorização é fundamental para garantir um serviço público de qualidade. Também pretendo reestruturar a Secretaria de Administração, que foi enfraquecida ao longo dos anos. Ela é o "coração" da prefeitura, responsável por gerenciar concursos, folha de pagamento e previdência. Sem essa estrutura fortalecida, fica difícil implementar mudanças significativas. Quero fortalecer a Previdência Municipal e criar mecanismos para garantir que o serviço público tenha mais transparência e eficiência.
O BRT é um dos principais sistemas de transporte da cidade, mas tem enfrentado problemas ao longo dos anos. Como o senhor avalia a situação atual do BRT e o que propõe como melhorias?
Minha maior crítica ao atual prefeito Eduardo Paes é que ele ainda pensa no Rio de Janeiro como se estivesse nas Olimpíadas de 2016, como se ainda vivêssemos aquele período. Isso é um erro grave de gestão. Um exemplo claro disso é o BRT Transbrasil, que foi planejado para parar em Deodoro, quando o lógico seria estender até Santa Cruz, acompanhando a Avenida Brasil. Parar no meio do caminho é um crime contra a mobilidade da cidade.
Esse projeto foi concebido com um foco totalmente olímpico, prevendo construções como um autódromo e quadras esportivas que, felizmente, não saíram do papel. Ainda assim, o BRT não foi estendido como deveria. O que eu proponho é um transporte que vá além do BRT, como a implementação de um trem suspenso entre Deodoro e Santa Cruz, conectando as áreas mais distantes da cidade.
Outro erro do prefeito é o foco exclusivo no Rio de Janeiro, sem pensar de forma integrada com a região metropolitana. O trânsito e o transporte público não vão melhorar se o prefeito não dialogar com cidades vizinhas como Caxias, São João de Meriti e Niterói. Essa falta de articulação só agrava os problemas de mobilidade.
O senhor acredita que essa polarização nacional entre Lula e Bolsonaro não pegou no Rio de Janeiro, tendo em vista a disparidade entre os candidatos*?
Eu acredito que a polarização no Rio não pegou como no restante do país. Por mais que tenhamos as figuras de Lula e de Bolsonaro, o foco da população carioca está nas questões locais. Os temas da cidade, como segurança, transporte e saúde, são as preocupações reais do eleitorado.
Não consigo entender como um eleitor de direita pode se sentir representado por alguém que está ao lado do Lula, e vice-versa.
Marcelo Queiroz, candidato do PP à prefeitura do Rio de Janeiro
O Eduardo Paes, por exemplo, não se posiciona como um candidato de esquerda ou de direita. Ele consegue apoio de diferentes frentes, como Otoni de Paula (MDB), que é de direita, e também de figuras da esquerda. Isso cria uma confusão, e eu não consigo entender como um eleitor de direita pode se sentir representado por alguém que está ao lado do Lula, e vice-versa.
Minha proposta sempre foi clara: sou um candidato independente, não estou atrelado a esses extremos. Acredito que isso reflete o desejo de muitos cariocas que querem soluções reais para os problemas da cidade, e não uma política baseada apenas em padrinhos políticos.
* Divulgada nesta quarta-feira (18), a pesquisa Quaest de intenção de voto à prefeitura do Rio de Janeiro indicou Eduardo Paes (PSD) na liderança, com grande vantagem, podendo levar a eleição no primeiro turno. Ele tem 57% das intenções de voto na pesquisa estimulada, quando os nomes dos candidatos na disputa são apresentados previamente para escolha do eleitor. Em segundo lugar está Alexandre Ramagem (PL) com 18%.
Metodologia da pesquisa citada: 1.140 entrevistados pela Quaest entre os dias 15 e 17 de setembro de 2024. A pesquisa foi contratada pela Globo Comunicação e Participações SA/TV/Rede/Canais/G2C+Globo Globo.com Globoplay. Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Registro no TSE nº RJ-02944/2024.
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