O candidato do partido Democracia Cristã à prefeitura de São Paulo, Bebeto Haddad, elencou prioridades da sua plataforma de campanha para a cidade, em entrevista à Gazeta do Povo. Entre os destaques, evidenciou a área da segurança pública: o candidato promete transformar a Guarda Civil Metropolitana (GCM) em Polícia da Cidade de São Paulo e dobrar o efetivo da tropa.
Todos os candidatos à prefeitura de São Paulo foram convidados pela reportagem da Gazeta do Povo para entrevista.
Confira a íntegra da entrevista com o candidato Bebeto Haddad
Como o candidato planeja se tornar mais conhecido entre os eleitores, tendo em vista que não tem sido convidado para os debates eleitorais?
Bebeto Haddad: Isso é uma deficiência da democracia. Esse critério que, principalmente, as grandes emissoras estão usando, de que é necessário ter um determinado percentual nas pesquisas ou um número de deputados para participar dos debates nos coloca em desvantagem. Vou utilizar todos os meios possíveis para me tornar cada vez mais conhecido e mostrar que tenho muito mais condições e capacidade de administrar a cidade de São Paulo do que todos eles.
O senhor se classifica como como um candidato de direita, esquerda ou centro?
Somos um partido de centro. Sou presidente do Democracia Cristã (DC), onde temos como presidente nacional o Eymael, que é a nossa referência. Nós combatemos o extremismo de esquerda e também o extremismo de direita. Não admitimos extremos.
Não admitimos extremos.
Bebeto Haddad, candidato a prefeito em São Paulo
O senhor foi o único entre os 10 candidatos que não apresentou um plano de governo no site do Tribunal Superior Eleitoral. Por quê?
Não, nós apresentamos. Eu não sei se não está publicado, se, quando pesquisou, não estava publicado, mas temos um plano de governo sintetizado. Já era para estar registado no tribunal. O plano de governo foi assinado por mim e pelo advogado do partido. Não estou sabendo.
Como avalia o início dessa eleição? Concorda que os debates têm apresentado muitos ataques e poucas propostas?
Não têm apresentado propostas. Esses debates são brigas de criança, para não dizer de colégio, independentemente da idade de qualquer um. Proposta zero. A cidade de São Paulo está decepcionada com o posicionamento desses cinco candidatos que participam do debate. Nesse último debate da TV Gazeta, se alguém estivesse armado, teria saído morte. É uma decepção para todo mundo, e nós não concordamos com isso. Se a gente tivesse participando do debate, não íamos entrar nessa briga, porque temos equilíbrio. A cidade precisa de uma pessoa com equilíbrio e não um desequilibrado, como eles têm se mostrado.
Esses debates são brigas de criança.
Bebeto Haddad, candidato à prefeitura de São Paulo
O senhor pretende dobrar o efetivo da Guarda Civil Metropolitana. Hoje, são 7,5 mil homens. Como pretende fazer isso? De onde virá a verba?
Bebeto Haddad: A cidade de São Paulo tem um orçamento de R$ 111 bilhões. No ano que vem, provavelmente terá ou passará de R$ 120 bilhões. Primeiro, vamos administrar a cidade com austeridade em relação aos contratos, garantindo que sejam muito bem feitos e que paguemos o valor justo pelo trabalho realizado.
Vamos mais do que dobrar a Guarda Municipal e transformá-la na Polícia da cidade de São Paulo. Vamos equipar essa polícia com tecnologia para a cidade e também armá-la. Essa polícia armada e equipada não será para matar ninguém, mas para se defender. Ela precisa estar à altura de qualquer bandido.
Não queremos competir com a Polícia Militar, queremos nos respaldar. Inclusive, essa Polícia da cidade de São Paulo não se chamará mais Guarda, porque queremos prestigiar o profissional da segurança de São Paulo. Parte dessa polícia trabalhará sem uniforme, fazendo o trabalho de inteligência. Isso pode evitar muitos crimes, já que quem vai cometer o crime não saberá que há um policial por perto, e esse policial poderá evitar o crime.
Bebeto Haddad quer transformar a Guarda Civil na Polícia da cidade de São Paulo.
A mudança de nomenclatura é apenas para prestigiar a Guarda Civil Metropolitana ou haverá alguma mudança concreta?
É um mecanismo para prestigiar a tropa. Muitas das vezes, quando há uma ocorrência na cidade onde a Guarda Municipal chega, você ouve “não se mete, você não é polícia”. A Polícia da cidade de São Paulo será prestigiada e poderá agir como polícia. Queremos preparar essa polícia. Não vamos transformar a Guarda Municipal em Polícia da cidade de São Paulo sem preparo. Queremos prepará-los, usar a tecnologia, equipá-los e armá-los, como nas grandes cidades. Vamos prestigiar esse policial, mas não é só prestígio, é preparo.
Sobre a cracolândia, quais são suas propostas para melhorar a situação no centro da capital? O senhor acredita que a cracolândia tem solução?
Quando eu fui secretário de Esportes, Lazer e Recreação da cidade de São Paulo, em 2012, tínhamos três pontos de concentração de viciados usando crack: no centro, no Coração de Jesus e no Cambuci. Hoje, infelizmente, já são 72.
Fizemos um programa chamado "Virando o jogo". Realizamos copas poliesportivas nessas regiões, no Coração de Jesus e no Cambuci, com profissionais das áreas de lazer, recreação e esportes. Conseguimos tirar muitas crianças do convívio com a família usuária de crack. Hoje, infelizmente, na cracolândia, tem o avô, o pai, o filho e o neto. Queríamos tirar o filho e o neto do convívio com os usuários da família, para evitar que essas crianças tivessem contato com a droga.
Este é um problema que nenhum candidato a prefeito de São Paulo vai conseguir resolver em quatro anos. Precisamos de um projeto mais longo, que trate o mal pela raiz, porque não basta simplesmente espalhar esses usuários para que não haja pontos de concentração. Temos que resolver o problema. Vamos envolver todas as secretarias da prefeitura, inclusive a Segurança Pública e a Polícia na cidade de São Paulo, para combater o traficante. Mas precisamos dar oportunidades para aquelas pessoas que queiram se reintegrar à sociedade, sem conviver naquela sujeira, naquele lugar sub-humano.
Cracolândia é um problema que nenhum candidato a prefeito de São Paulo vai conseguir resolver em quatro anos.
Bebeto Haddad, candidato à prefeitura de São Paulo
O senhor é a favor do uso de câmeras corporais pelos guardas civis metropolitanos ou pela Polícia da cidade de São Paulo?
Somos a favor. Quero trabalhar junto com o Ministério Público para que possamos ter ações transparentes na cidade de São Paulo. A Polícia da cidade de São Paulo vai fazer o uso dessa tecnologia.
O secretário de Governo e Relações Institucionais do Estado, Gilberto Kassab, apoia Ricardo Nunes e faz parte da coligação do atual prefeito. É verdade que ele tentou convencê-lo a desistir da candidatura?
Eu não tenho falado com ele nesses últimos dias. Ele nunca me pediu isso. Não sei se já pensou nisso, mas nunca falou comigo sobre isso, até porque eu não desistiria.
O senhor declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio de quase R$ 7 milhões. O senhor pretende autofinanciar a sua campanha?
Bebeto Haddad: O partido está arcando com algumas despesas da campanha. Estamos buscando amigos que possam ajudar também, fazendo algumas doações para o partido, para a campanha e para o candidato. Não vamos gastar milhões, até porque faremos uma campanha de um tostão contra um bilhão. Nosso partido tem um recurso muito pequeno em relação aos outros partidos, como, por exemplo, o partido do Bolsonaro, que tem R$ 890 milhões. Vamos fazer dentro daquilo que conseguimos, na forma mais econômica possível.
E o senhor pretende colocar dinheiro do seu próprio bolso?
Só não vamos economizar em propostas, dentro daquilo que tenho condições de fazer, eu faço, ajudando a minha campanha.
Em 2010, o senhor tentou uma vaga para deputado estadual e terminou como suplente. Por que o senhor acredita que agora terá votos suficientes para ser prefeito?
Bebeto Haddad: Toda campanha é uma campanha diferente. Se eu não tivesse condições de administrar a cidade de São Paulo, de colocar o meu nome e achar que tenho condições de ter o voto suficiente para ser eleito e administrar a cidade, eu não seria candidato. Só sou candidato porque tenho certeza de ter essa condição. Uma corrida a gente sabe como começa, mas não sabemos como termina; tudo pode acontecer.
Este momento das pesquisas em São Paulo é um momento emocional da população que está vivendo uma fase de emoção da campanha. Precisamos ver no futuro, daqui a 20 dias ou no dia da eleição, como a situação vai se comportar. A população de São Paulo vai cair na razão e saber quem tem condições de administrar a cidade de São Paulo com equilíbrio. Aqueles cinco candidatos representam um verdadeiro desequilíbrio, porque não há nenhum equilibrado ali para administrar a cidade de São Paulo. Até porque qualquer prefeito terá que conversar com 55 vereadores que pensam diferente e precisa ter equilíbrio para fazer um diálogo.
Candidato, quais são suas credenciais para ser um bom candidato à maior prefeitura do país?
Bebeto Haddad: Conheço a cidade de São Paulo, vivo aqui há mais de 50 anos. A cidade onde moro e passei por muitos perrengues, já passei por tudo e tenho condições de administrar a cidade de São Paulo porque a conheço. Como você disse, coloquei meu nome para deputado estadual naquela época que nem lembrava dessa campanha. Eu perdi a eleição, mas isso não quer dizer que vou perder todas.
Meu nome está lá, posso ganhar ou perder, como qualquer um dos 10. Se alguém dizer que vai ganhar, isso não é verdade. Essa decisão só acontece no dia 6 de outubro, pelo pelos eleitores. Tenho todas as condições para administrar a cidade de São Paulo, até porque um administrador precisa saber decidir, como político, o que é melhor para a cidade e para o cidadão.
São Paulo possui a maior população de rua da sua história, cerca de 80 mil pessoas. O senhor tem proposta para melhorar essa situação?
Bebeto Haddad: Esse é um problema sério na cidade de São Paulo, assim como a segurança e a cracolândia. É preciso ter ações que deem oportunidade a muitas dessas pessoas, porque, na situação de rua em que vivem, muitas delas são pessoas de bem, não são apenas bandidos que estão vivendo na rua. São pessoas doentes que precisam ser tratadas, cuidadas e ter uma oportunidade. A nossa administração é exatamente isso: oportunidade.
Fazer uma internação compulsória, desde que haja uma junta médica respaldando essa decisão, é essencial, pois essa pessoa já não tem mais condições de decidir por si. Isso deve ser feito junto com o Ministério Público. Devemos dar oportunidades a essas pessoas em situação de rua para que possam retomar suas vidas, buscar uma qualidade de vida melhor ou reencontrar suas famílias, um trabalho, se reciclar, fazer um curso e trabalhar. Vamos trabalhar por isso.
Infelizmente, hoje, o número de pessoas em situação de rua aumentou muito e continuará aumentando se São Paulo não fizer algo. Não é uma decisão apenas de um prefeito, na verdade, a decisão é de governo. Precisamos trabalhar todos juntos para resolver esse problema, que, infelizmente, o mundo inteiro conhece.
São Paulo, apesar de ser a cidade mais rica do país, não atingiu a meta de 6,2 no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e ainda registrou uma ligeira queda para 5,6 nos anos iniciais do ensino fundamental. Como o senhor pretende melhorar esse cenário?
Bebeto Haddad: Infelizmente, o fracasso dessa administração levou São Paulo a isso, a perder essas posições. São Paulo poderia ter uma educação mais bem posicionada e de maior qualidade. Vamos fazer um diagnóstico escola por escola para saber exatamente por que o aluno não está aprendendo e por que o professor não está conseguindo ensinar. Vamos identificar o problema do aluno e corrigi-lo. Se o professor não estiver qualificado, vamos oferecer cursos de qualificação para que esses professores tenham condições de ensinar as crianças. Vamos fazer isso e prestigiar os professores dedicados, que querem dar o melhor, mas muitas vezes não têm condições porque não tiveram oportunidade de acessar novos cursos.
O senhor tem dito que irá aumentar o salário dos professores na capital paulista, mas não diz como vai fazer isso e nem de quanto será esse aumento. Pode explicar, por favor?
Quanto será, não tenho condições hoje de falar exatamente, mas vamos garantir um salário digno para os professores, com certeza. Vamos prestigiar aqueles professores que realmente querem ensinar e que se reciclarem, que se prepararem para poder dar um ensino de qualidade.
Caso eleito, como seria sua relação com o governador Tarcísio e o presidente Lula?
A cidade de São Paulo é tão importante para o mundo e para o Brasil que qualquer governador e presidente deve se relacionar com ela. Não importa se o prefeito eleito pensa de maneira diferente, ele precisa conversar com o presidente e o governador. Não teria a menor dificuldade em conversar com o governador Tarcísio e também com o presidente Lula, sempre em benefício da cidade de São Paulo. A gente fala com quem precisar falar, sempre usando o peso da cidade.
Em um eventual segundo turno entre Nunes e Boulos, ou entre Marçal e Boulos, para qual lado o candidato iria?
Não penso nesse cenário, porque vou estar no segundo turno, então não posso responder a essa pergunta.
As Unidades de Pronto Atendimento e as Unidades Básicas de Saúde têm sido alvo de reclamações da população por falta de médicos e demora para marcar um exame ou uma consulta. O senhor tem proposta para esse tema?
Bebeto Haddad: Esse é um outro tema que vamos abordar também, unidade por unidade. Muitas dessas unidades de saúde da cidade são hoje administradas por organizações sociais (OSs), e muitas delas não têm condições técnicas de administrar esse bem público. Primeiro, porque eles são responsáveis pela contratação dos médicos, enfermeiros e pessoal de apoio. E esse pessoal de apoio, muitas vezes, não tem o menor preparo, assim como alguns médicos e enfermeiros que trabalham para essas organizações sociais, que, em diversos locais, não têm condições de prestar um bom serviço.
Por isso, há uma fila de mais de 400 mil pessoas esperando para passar por um especialista ou simplesmente para fazer um exame, e essa fila nunca vai diminuir, vai crescer cada vez mais. Portanto, vamos, unidade por unidade, saber exatamente o que está acontecendo. Se for identificada qualquer organização social que não esteja prestando um bom serviço, essa organização social precisará mudar ou deixará de administrar a unidade. Buscaremos formas de contratação fora do serviço público para diminuir emergencialmente essa fila e, depois, prestar serviços de qualidade.
O senhor pretende realizar privatizações ou parcerias público-privadas?
Não sou contra privatizações e também não sou contra as PPPs. É caso a caso. Temos que identificar aquilo que pode ser administrado pela iniciativa privada. Sou absolutamente contra a possibilidade de uma organização social administrar uma escola municipal.
Em alguns serviços em que a iniciativa privada possa participar, tanto pelas PPPs como também por privatizações, vamos estudar. Não somos contra. Somos contra, por exemplo, que o ensino seja administrado por uma organização social que já está tendo problemas na área da saúde. Se estendermos isso à educação, também teremos dificuldades nessa área.
Bebeto Haddad é contra OSs administrando escolas.
São Paulo tem 35 secretarias municipais. O senhor pretende aumentar, diminuir ou manter esse número?
Bebeto Haddad: Essa questão de definir o número de secretarias, quando assumirmos a prefeitura de São Paulo, vamos poder analisar com uma visão estratégica. Vamos tentar fazer com que a cidade de São Paulo economize recursos e otimize serviços, mas faremos isso depois que estivermos na administração.
Moraes retira sigilo de inquérito que indiciou Bolsonaro e mais 36
Juristas dizem ao STF que mudança no Marco Civil da Internet deveria partir do Congresso
Idade mínima para militares é insuficiente e benefício integral tem de acabar, diz CLP
Processo contra Van Hattem é “perseguição política”, diz Procuradoria da Câmara
Deixe sua opinião