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O candidato à prefeitura de São Paulo João Pimenta (PCO)
Em entrevista à Gazeta do Povo, João Pimenta (PCO) apresenta propostas para São Paulo e critica o ministro Alexandre de Moraes| Foto: Divulgação/Diário Causa Operária

João Pimenta, de 27 anos, é candidato à prefeitura de São Paulo por escolha do Partido da Causa Operária (PCO), responsável também por lançar a candidatura dele a deputado federal em 2022. Filiado à sigla desde os 18 anos, João Pimenta tem uma trajetória política que remonta à família: o pai, Rui Costa Pimenta, é presidente e cofundador do PCO, e o avô, João Pimenta, de quem herdou o nome, foi um dos fundadores do Partido Comunista Brasileiro (PCB).

Paulistano de origem, João Pimenta trabalha como jornalista e redator dos veículos de comunicação do PCO. Ele chegou a cursar Letras na Universidade de São Paulo (USP), mas não se identificou e está fazendo faculdade de Audiovisual. No estúdio onde são gravados os programas do partido e onde fica parte dos 40 mil livros da biblioteca do pai dele, João Pimenta conversou com a Gazeta do Povo sobre as propostas para a cidade de São Paulo.

Durante a entrevista, ele apresentou as ideias para o município, criticou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cujas regras considera "abusivas", defendeu o impeachment de Alexandre de Moraes e o comentou o posicionamento de alguns políticos da esquerda: "boa parte dos meus colegas na esquerda, como é o caso de Guilherme Boulos, são a favor da censura porque, para eles, a liberdade não é um princípio, é um casuísmo".

Todos os candidatos à prefeitura de São Paulo foram convidados pela Gazeta do Povo para entrevista.

Confira a entrevista com o candidato João Pimenta

Como o senhor avalia essa fase da campanha eleitoral e os ataques mútuos entre os candidatos à prefeitura de São Paulo? 

Olha, eu considero o seguinte: nós temos uma eleição muito antidemocrática. As regras impedem a isonomia, ou seja, a igualdade entre os candidatos. Alguns candidatos têm tempo de televisão, outros não têm. Alguns candidatos são chamados para debates e um determinado número de entrevistas, outros não. Isso cria uma situação em que tem uma tendência de vantagem muito grande a candidatos que já estão bem posicionados, seja pela máquina partidária que detêm, ou pelo fato de serem conhecidos previamente. E eu acho que a campanha fica um pouco sufocada pelas regras abusivas do TSE. Por exemplo, você não pode colar um cartaz maior que 0,5 m² em lugar nenhum. Não pode fazer impulsionamento no YouTube, só pode fazer nas empresas do Facebook. Tem um conjunto de restrições que fazem a campanha ser concentrada nos métodos mais caros, ou seja, dificulta ainda mais para quem não tem essa estrutura.

E tem um problema que eu gostaria de registrar aqui, que o TSE tem uma atitude extremamente parcial na condução da liberação do fundo eleitoral. Alguns partidos tiveram fundo eleitoral liberado no dia 20, o nosso não foi liberado até agora. E aí você vai falar: “Mas o problema é que tem determinadas irregularidades, etc, que ensejariam isso daí.” Não, não tem decisão. Até agora, a ministra Cármen Lúcia não se deu ao trabalho de julgar. Os prazos são muito grandes, ela pede para o Ministério Público se manifestar em cinco dias, que é 10% da campanha e, sendo bem franco, é uma enrolação. Então assim, nós estamos pedindo, nesse caso, um julgamento célere. Se ela não vai fornecer, que nós achamos que está em contradição com a lei, tudo bem, mas ela tem que julgar, porque até agora não tem julgamento se vai liberar o fundo ou não, e já passou metade da eleição. Isso é o que a gente acha da situação eleitoral.

"O TSE tem uma atitude extremamente parcial na condução da liberação do fundo eleitoral"

João Pimenta, candidato à prefeitura de São Paulo pelo PCO

Sobre os ataques dos candidatos, olha, se você olhar as propostas de governo de todos os candidatos, elas são similares, com algumas variações, um pouquinho à direita, um pouquinho à esquerda. Eu considero que a brigaiada é mais ilustrativa sobre quem são os candidatos, do que se eles ficassem discutindo termos técnicos. Eu considero que, desse ponto de vista, é melhor. O Boulos acusa o Ricardo Nunes de ser apoiado pelo Bolsonaro e ser antidemocrático; o (Pablo) Marçal e o Ricardo Nunes acusam o Boulos de ser o cara do movimento social. Todo mundo acusa todo mundo de tudo quanto é tipo de coisa, e eu acho que fica mais fácil para o eleitor entender o que está acontecendo. Até porque eu acho que os programas de governo que eles apresentaram ali, nenhum deles vai se cumprir, uma vez que eles assumam o cargo.

Falando sobre a cracolândia, o problema é complexo e envolve principalmente o crime organizado, com destaque o PCC. Qual é sua proposta para resolver essa questão, considerando a força crescente dessas facções? 

O PCC é uma organização criminosa e é um problema para a sociedade. Mas eu queria falar o seguinte: o PCC não é causa da cracolândia; é efeito do fato de que os bancos e os especuladores financeiros, que são uma organização criminosa muito maior do que o PCC, levaram o país à falência, tiraram das pessoas a esperança de que, se elas trabalharem, estudarem e se esforçarem, elas vão ter uma vida digna, porque hoje em dia não é verdade, você pode se esforçar muito e não ter uma vida digna, é uma coisa que acontece. Então, o PCC simplesmente está explorando esse desespero, a pessoa não tem nada, não tem lazer, não tem moradia, não tem um emprego, ou, se tem um emprego, ganha muito mal, aí vai cair nas drogas, e o PCC explora isso daí.

João Pimenta atribui o problema da cracolândia aos especuladores financeiros, que considera "pior que o PCC".

Nós temos duas propostas fundamentais para combater o crime organizado na questão das drogas. Uma, que não compete só ao município, mas a gente vai defender, é a legalização de todas as drogas. Porque, ao defender a legalização, acaba com a violência. O PCC, vamos supor, vai se legalizar e aí já não precisa mais de metralhadora, de violência, nada, e o Estado pode interferir nisso daí de alguma forma. A segunda questão é que nós precisamos arranjar emprego, moradia, acesso à cultura e educação, porque a pessoa precisa ter um motivo para parar de usar droga. Se ela usa droga é porque a vida dela é muito ruim, minha opinião é essa, eu não considero que é falta de caráter de ninguém. Então você tem que resolver esse problema, senão não adianta ficar discutindo se vai fazer internação compulsória, como é o caso do Guilherme Boulos. Ele finge que é de esquerda e agora está falando: “vou defender a internação compulsória”, que é uma coisa de extrema direita. Não vou fazer demagogia aqui, o problema todo é social e tem a ver com a situação calamitosa da vida do trabalhador e da população pobre na cidade.

Uma das propostas do senhor é o passe livre no transporte público todos os dias. Como o senhor pretende viabilizar essa medida em termos orçamentários, e qual seria o impacto disso nas finanças públicas? 

Olha, os outros candidatos, inclusive os da esquerda, como é o caso do Boulos, vão falar que o município está cheio de dinheiro e que o problema é que é mal aplicado. Eu vou falar uma coisa: o dinheiro é mal aplicado, mas o município está falido. Por que está falido? Porque todo o dinheiro que é recolhido nessa cidade, seja de impostos federais, impostos estaduais ou impostos municipais, é enviado para os governos estadual e federal, e esses governos gastam uma boa parte do orçamento com o pagamento da dívida pública para os barões do mercado financeiro, que são verdadeiros criminosos. Mais de 50% do orçamento é gasto com o serviço da dívida, e com isso você vai ver: a saúde recebe menos de 10%; a educação, se não me engano, menos de 5%. Nessas condições, não tem dinheiro. Nós temos que colocar aqui, e a nossa candidatura coloca isso abertamente, que temos de pegar de volta o orçamento que foi roubado pelos bancos, que aí vai ter dinheiro.

Por exemplo, o estado de São Paulo manda R$ 400 bilhões para o governo federal e voltam R$ 4 bilhões. E não é culpa do Lula, o Lula é refém dessa situação. Cinquenta e tantos por cento do orçamento dele vai para os bancos, R$ 1,7 trilhão. Nessas condições, quem falar que vai resolver o negócio nos marcos desse orçamento aqui está mentindo, e está mentindo porque não quer enfrentar o mercado financeiro e a Faria Lima.

A questão sobre o passe livre e o impacto orçamentário, que tem que ser visto também, isso é uma coisa importante: eu sou contra que o passe livre seja feito em convênio com as empresas privadas, porque seria a distribuição de dinheiro para elas. Eu acho que o transporte tem que ser estatizado e aí o passe livre feito nos marcos dessa estatização.

O partido defende o cancelamento de leis consideradas absurdas e que retiram a “liberdade de expressão e outros direitos democráticos”. Poderia dar um exemplo disso na cidade de São Paulo?

Nós temos a Lei Cidade Limpa, que restringe a comunicação visual na cidade, em benefício dos grandes capitalistas. Isso aparece como um problema comercial, principalmente, porque o pequeno negócio não consegue fazer propaganda de si mesmo, mas também tem implicações políticas. No Brasil, em São Paulo, não tem um outdoor que você pode pegar um partido, um sindicato, colocar uma imagem ali para divulgar uma greve, um acordo, uma proposta, você não pode fazer nada, isso é uma restrição dos direitos individuais. Você tem uma invasão da prefeitura sobre o funcionamento dos comércios e outras questões muito grandes. Você tem que ter regras para construir um banheiro, tem regra para tudo quanto é tipo de coisa, e isso é uma violação das liberdades.

Nós temos também um conjunto de regulamentações, por exemplo, você não pode fazer barulho a partir de um determinado horário. Acaba que, a partir das leis municipais, estaduais e federais, o ambiente vira um verdadeiro presídio. Tudo o que você vai fazer, então, se você quer ser um sindicalista, quer colar um cartaz num poste para divulgar a assembleia, é crime, você pode ir preso. É uma ditadura para todos os efeitos e propósitos. Então nós somos a favor de cancelar todas essas leis, e tem coisas menores também que são relevantes.

O programa do PCO menciona que os municípios estão estrangulados pela falta de orçamento e que a dívida pública é o maior entrave. O senhor já falou sobre isso, mas quais seriam suas primeiras ações, caso eleito, para garantir recursos para a cidade?

Primeira questão é que nós teríamos que mobilizar a população e estabelecer uma campanha para unificar tanto os trabalhadores dessas cidades como de todas as cidades do Brasil para pressionar o governo federal e os capitalistas especuladores, porque nós precisamos resolver isso. Aí você vai falar: “ah, mas isso não é competência do município.” Olha, resolver o problema é competência do município. Se o problema está fora do que a Câmara de Vereadores tem que fazer, você tem que ir para Brasília resolver e você vai para Brasília resolver. Segundo, o nosso programa é pela diminuição radical de impostos sobre o trabalhador e a população pobre, e a classe média. Nós somos a favor que os ricos paguem a conta, naquilo que compete aos impostos municipais, naturalmente.

Uma das propostas do partido é justamente aumentar impostos para os ricos e isentar os mais pobres de pagar IPTU. Como essa política pode ser implementada de forma a evitar a fuga de empresas e investidores da cidade?

São Paulo tem um mercado muito grande e esse mercado tem que ser ocupado por alguém. Se os capitalistas se recusam a estabelecer negócios aqui porque não querem pagar impostos, vou falar que isso aí não é fuga de capitais, isso é extorsão. Se o cidadão não quer contribuir com o bem-estar social, então ele vai lá e organiza o que é uma verdadeira sanção contra o município, eu não considero que a cidade pode ser extorquida. Se começar um vácuo porque as empresas estão saindo, acho que o Estado tem que ocupar esse vácuo.

Vamos supor que o Carrefour decide que não vai mais trabalhar em São Paulo - o que eu acho que não vai acontecer, mas tudo bem - aí eu acho que a prefeitura tem que reunir capital, montar uma rede de mercados e ocupar o espaço dela. Se a iniciativa privada não vai fazer, o Estado tem que fazer. E eu sou contra que o capitalista exija que funcione um sistema de trabalho escravo, quer dizer, ele lucra bilhões e você não pode cobrar imposto dele, porque senão ele vai embora? Não, nós não vamos trabalhar assim.

O senhor defende a estatização total do sistema de transporte e a gratuidade do transporte público. Como seria esse processo e como garantiria a eficiência do serviço?

Em relação às empresas de ônibus e à estatização, preferencialmente, esse processo deveria se dar pelo simples confisco das empresas. Elas têm um lucro extraordinário, a passagem é cara e o município ainda dá dinheiro para os capitalistas para que eles façam o favor de manter a passagem a R$ 5. Isso daí é uma situação absurda, eles [as empresas] já lucraram várias vezes o que eles [a prefeitura] pagaram para comprar essas empresas.

Segundo, para garantir a eficiência, na minha opinião, a administração das empresas estatais não pode ser feita por um burocrata da prefeitura. Tem que ser feita por pessoas que sejam escolhidas entre os funcionários da empresa, que sabem como ela funciona e defendem o interesse social e dos usuários. Isso daí vai aumentar a eficiência. A redução do parasita capitalista vai liberar o orçamento para melhorar a situação do transporte e, na minha opinião, nós vamos conseguir estabelecer a gratuidade, melhorar o serviço e pagar os trabalhadores de forma digna, porque o que acontece hoje é absurdo.

Quando o senhor fala “o confisco das empresas”, seria o que exatamente?

A estatização sem indenização. A depender da situação, você pode até discutir, mas eu não vejo que há necessidade de indenizar pessoas que já lucraram várias e várias vezes o que eles pagaram numa concessão. E sem nenhum benefício social, isso é importante dizer também.

O senhor propõe a criação de conselhos populares deliberativos nos bairros, que substituiriam a Câmara de Vereadores. Como seria a implementação dessa estrutura e sua legalidade dentro do sistema atual?

A questão é a seguinte, o problema da legalidade, como todo mundo já deve ter notado no Brasil, é sempre um problema político, a lei se dobra para cima e para baixo, de acordo com as necessidades políticas do momento. Para nós, a questão é a seguinte: quem tem que tomar as decisões sobre o que acontece no município são as pessoas. O pessoal elege um vereador e fica quatro anos sem ouvir falar dele.

Na nossa opinião, você tem que ter um bairro, faz uma assembleia, escolhe delegados, toma decisões sobre a administração daquele bairro, etc. A Câmara poderia, se ela fosse um órgão democrático, cooperar e simplesmente passar aquilo que foi decidido pelo povo. Se ela não quiser, aí vai se estabelecer um conflito e nós vamos ter que encontrar uma solução para isso.

O problema da legalidade, como todo mundo já deve ter notado no Brasil, é sempre um problema político: a lei se dobra para cima e para baixo, de acordo com as necessidades políticas do momento.

João Pimenta, candidato à prefeitura de São Paulo pelo PCO

Eu não sou advogado, acho que a forma jurídica da solução tem que ser resolvida pelos advogados, o meu trabalho aqui é encontrar uma solução política. E assim, um grande problema que nós temos é que a Câmara de Vereadores é uma organização mafiosa. Você vê pela maneira como eles conduzem a cidade, ela está abandonada. Isso daí, muitas vezes, é difícil negociar com gente assim que não está preocupada com o bem comum, está preocupada com encher o bolso de dinheiro e favorecer interesses capitalistas escusos.

No que diz respeito à saúde, o PCO defende a estatização completa do SUS e o fim das Organizações Sociais (OSs). Como viabilizar esse modelo em São Paulo, onde muitas unidades de saúde já funcionam por meio de OSs?

Nós teríamos que retirar os convênios, e se houver necessidade de estatização de infraestrutura etc., temos que fazer. O formato que isso daí vai tomar precisaria ser considerado caso a caso. Uma questão fundamental é a seguinte: as OSs pagam pior seus funcionários, é uma espécie de terceirização. O cidadão trabalha na saúde, ganha menos, não tem estabilidade, é uma sabotagem com pessoas que são consideradas profissionais essenciais, e o problema do Brasil é que todo mundo é considerado essencial, só que na hora de pagar o cidadão, ele não é essencial.

Segundo, perde-se dinheiro nisso, porque você tem que pagar as OSs. Terceiro, você não tem controle sobre o funcionamento geral do serviço, e a tendência é que isso daí vai evoluir para uma privatização completa. Então nós somos a favor, da mesma forma que com o transporte, de estatizar, colocar sob controle das pessoas que usam o SUS e dos funcionários que sabem o que é preciso, e isso daí vai aumentar a eficiência.

Eu, por exemplo, fui no hospital público um tempo atrás com uma dor no ombro gigante, fiquei quatro horas na fila e não consegui ser atendido. Como já eram 3h da manhã, eu já olhei assim e falei: prefiro ficar com minha dor aqui, ver se passa, do que aguentar mais um pouco disso daí. É um negócio desumano, o funcionamento burocrático é desumano, trata muito mal o cidadão. Os funcionários e a população organizariam a coisa de forma a melhorar isso daí, porque justamente são eles que usufruem do serviço, são interessados em fazer o negócio funcionar, não em economizar dinheiro.

O PCO defende a expropriação de imóveis abandonados para resolver o problema da moradia. Como o senhor lidaria com possíveis resistências jurídicas e a oposição de setores privados?

Primeiro, um esclarecimento: nós consideramos que os imóveis estão sendo utilizados para especulação financeira e que, portanto, ninguém nunca vai morar naquilo ali, ou que só em casos excepcionais, e que estão abandonados, ambos esses daí precisariam ser colocados em função da moradia para os trabalhadores. Você perguntou “como você vai lidar com a resistência?”. Bom, vamos ter que ver que nível de resistência que vai ter.

João Pimenta defende que a prefeitura apoie a ocupação por movimentos sociais de imóveis não utilizados

Eu gostaria que os interesses privados multimilionários entendessem que não dá para destruir o país e depois querer exigir ainda que você não dê nem teto para as pessoas. Só que, se não houver acordo nesse sentido, vai se estabelecer um conflito que a prefeitura vai ter que ver como resolver, que os sindicatos e os movimentos sociais vão ter que ver como resolver. Na minha opinião, se não quiserem fazer por bem, eu defendo que os movimentos sociais ocupem os prédios, e aí, se depender da prefeitura, nós vamos dar toda a documentação necessária para legalizar essas ocupações.

Nós não vamos pedir reintegração de posse, nós vamos fazer o possível e o impossível para garantir que essas pessoas não sejam retiradas de lá. Porque tudo no Brasil está funcionando assim: o rico quer um negócio, se não vai por bem, vai por mal, então eu acho que virou um vale-tudo. O trabalhador tem o direito também de pedir para ir por bem, já pediu faz muito tempo, não está indo, então vai por mal.

Nessa questão dos imóveis, a gente tem hoje vários imóveis que pertencem à Caixa Econômica Federal que estão desocupados, mas eles integram o fundo de pensão dos aposentados. Então, o senhor é favorável também a ocupar esses imóveis? Como ficaria o fundo de pensão?

Isso aí precisaria ser visto. Primeiro, se está desocupado, a gente vê o que vamos fazer. Segundo, temos que conversar com o governo federal e com a administração da Caixa para ver o que pode ser feito. Eu acho que é possível encontrar uma solução quando se trata de uma questão que é de interesse social, não é para enriquecer meia dúzia de pessoas que estão vivendo às custas do resto da população. Aí você pode encontrar uma forma de coexistir ou precisa ver se para a Caixa é realmente necessário. Como eu falei, tem que ver caso a caso.

O senhor critica duramente a chamada "indústria da multa" e propõe o fim dos radares em São Paulo. Considerando que as multas são aplicadas somente a quem não respeita regras de trânsito bem sinalizadas, como a existência de um semáforo ou o limite de velocidade, e que essas regras estão estipuladas no Código de Trânsito Brasileiro, como garantir a segurança no trânsito sem a aplicação de multas?

Todo mundo fala do semáforo e do limite de velocidade, mas em São Paulo você tem multa por uma quantidade enorme de coisas. Você desrespeitou a zona azul? Multa. O rodízio de veículos? Multa. Se a gente for listar o número de multas que a pessoa leva, esses casos são os menores. Aí você vai falar assim: “você é a favor, então, de abolir a multa para o cara que passa no vermelho?” Não, eu acho que tem que ser uma coisa razoável. Mas, por exemplo, tem radar em São Paulo, que você tem uma rua lá que [o limite] é 30 km/h, tem um radar na descida. Isso daí não tem a ver com impedir infração, é criação de um segundo imposto.

A prefeitura acaba arrecadando R$ 1 bilhão nessa brincadeira e não está contendo acidentes que vão matar pessoas, em grande medida são coisas idiotas que fazem com que o cidadão pague um segundo IPVA na prática. Nós precisamos acabar com a indústria da multa, e a multa deveria se restringir a coisas que realmente importam para a segurança do trabalhador. Mas você perguntou para mim, “como é que você vai fazer em relação ao Código de Trânsito?" Olha, isso daí, como eu falei, é um problema legal que a gente tem que ver, mas eu considero que uma boa parte das ferramentas de fiscalização que garantem a indústria da multa teria que desaparecer. O governo tem que gastar dinheiro com o povo e não gastar dinheiro para arrancar dinheiro do povo.

O senhor falou que os acidentes continuam, mas quando foram diminuídos os limites de velocidade nas marginais o número de acidentes diminuiu proporcionalmente.

Vamos falar o que é verdade, antes, ninguém falava que o trânsito era seguro e, se você perguntar agora, ninguém vai falar que o trânsito é seguro também. Você pode ter uma variação estatística, mas eu não considero que fez um mundo de diferença. Na minha opinião, a principal questão para diminuir os problemas no trânsito é melhorar o transporte público. Se o transporte público funcionar bem, muita gente que hoje está indo de carro, porque o transporte é muito ruim, vai optar por ir de ônibus, vai ser mais barato e mais cômodo. Diminuindo a quantidade de carros e fazendo uma coisa que a prefeitura não faz, que é garantir a infraestrutura das ruas e avenidas, você vai diminuir a quantidade de acidentes. Essa loucura toda é o principal responsável pelos acidentes.

No começo da nossa conversa, o senhor fez críticas ao TSE. Nós vivemos agora o pedido do impeachment do Alexandre de Moraes. Qual é a sua opinião sobre isso?

Eu considero que o ministro Alexandre de Moraes violou liberdades democráticas fundamentais durante o inquérito das fake news e o inquérito das milícias digitais, desde o direito ao devido processo legal, a imunidade parlamentar, a liberdade de expressão, o direito da pessoa à liberdade antes que ela seja condenada etc. Nós vivemos aí cinco anos de coisas verdadeiramente absurdas.

O bloqueio do X, na minha opinião, é a gota d’água. Ele bloqueou uma rede social porque a rede social não queria cumprir ordens totalmente ilegais e secretas. Aí forçou uma situação e agora bloqueou um meio de comunicação para 20 milhões de pessoas por uma decisão dele. Ele merece sofrer impeachment sim. Eu considero que uma boa parte dos meus colegas na esquerda, como é o caso do Guilherme Boulos,se opõem a isso daí, são a favor da censura porque, para eles, o problema a liberdade não é um princípio, é um problema de casuísmo. Se fosse o Sergio Moro, eles seriam a favor de ferrar o Moro, mas como é o Xandão e ele está ferrando os bolsonaristas, eles são contra. E, no fim, mostra que não têm compromisso com a liberdade.

O senhor é a favor da anistia aos presos do 8 de janeiro?

Eu considero que eles não deveriam ser julgados por nada que não seja concreto. Atentado contra o Estado Democrático de Direito? Não vejo que se encaixa. O cara quebrou um relógio lá no Palácio do Planalto, uma vidraça, tudo bem, responda por isso. Mas não sou a favor de nenhum exagero. Até porque daqui a dois anos, se o MST for lá e fizer uma ocupação nos Três Poderes, vai todo mundo preso por atentado ao Estado Democrático de Direito, o que é absurdo. Então considero que não deveria ser assim.

Quem que o senhor pretende apoiar no segundo turno?

Olha, se nós estivermos no segundo turno, vamos apoiar nós mesmos. Se nós não estivermos no segundo turno, vamos supor que vai ser o Boulos e o Marçal, ou o Boulos e o Nunes, ou o Nunes e o Marçal, nós não vamos apoiar nenhum desses. Aí você vai falar: “não, mas você é de esquerda e o Boulos é de esquerda”. Olha, eu primeiro não considero que o Boulos é um verdadeiro candidato de esquerda. Em segundo e mais importante, eu não acho que as pessoas deveriam apoiar ninguém em quem elas não acreditam. Você tem que votar por aquilo que você acredita, não pelo que é o menos pior, o menos pior nos fez chegar nessa situação aqui onde só tem candidato que ninguém gosta.

Todo mundo está infeliz com as escolhas, até as pesquisas mostram isso daí, que o cara está votando no candidato não porque ele é bom, mas porque ele é o melhor disponível no momento. Nessas condições, nós acreditamos que o país só vai mudar na hora que o trabalhador falar: “eu voto em quem me representa e quem faz aquilo que eu acredito”. Se ele vai ter 0,1% dos votos ou 100% dos votos, não é da minha conta, eu voto de acordo com a minha consciência.

Eu não posso, pessoalmente, falar que vou apoiar o Boulos porque seria uma traição à minha própria consciência. Agora, o partido vai decidir isso aí democraticamente após o primeiro turno. Então estou falando aqui a minha opinião privada, se o partido decidir por outro caminho, irei seguir o caminho que foi decidido pelo partido.

O senhor acha que tem chance de apoiarem o Boulos, pelo histórico do partido? Seria apoiar o Boulos e o PT, que está na chapa dele com a Marta Suplicy.

A Marta ser do PT é uma coisa que é um mero acaso do destino.

Como assim?

Ela saiu do PT, votou o impeachment da Dilma, virou uma pessoa de direita, estava na administração do Nunes, ela entrou no PT agora para ser candidata a vice. O dia de amanhã ninguém sabe, então não considero que tem nenhum petista nessa chapa. E, detalhe, fez uma administração tenebrosa na cidade de São Paulo. Eu não considero que o meu partido não vai ter nenhuma divergência sobre isso, acho difícil que o PCO apoie o Boulos.

Qual é a opinião do senhor sobre a descriminalização do aborto? E caso o senhor seja a favor, não estaria impedindo uma pessoa de decidir se quer viver ou não?

Nossa posição sobre a descriminalização do aborto é simples. Independentemente da nossa opinião, da minha, da sua ou de qualquer um sobre o aborto, eu pessoalmente acho que é uma coisa ruim, que a mulher é levada a isso por circunstâncias difíceis. Mas o problema é o seguinte: eu acredito na liberdade individual, o corpo da pessoa é inviolável e o feto está dentro desse corpo.

Então o senhor não considera que o feto é um corpo?

Eu considero que, a partir do momento que ele está dentro do corpo da mulher, a decisão cabe a ela. A gente pode achar que ele está vivo, pode achar que não, você pode discutir semântica e critério de quando a vida é estabelecida, mas, para mim, é um problema legal. Se a pessoa está dentro do corpo da pessoa, você não pode obrigá-la a fazer tratamento médico que ela não quer, você não pode obrigá-la a carregar nenhum ser vivo que ela não queira, ela tem que tomar as decisões sobre o próprio corpo, porque senão nós entramos num mundo absurdo onde tudo pode acontecer.

Eu estava tendo um debate com o deputado Paulo Bilynskyj outro dia e eu perguntei para ele: “mas se você tem que controlar a situação do feto dentro do corpo da mulher, se ela tomar uma cachaça, tropeçar, cair e perder o bebê, tem que ir presa por homicídio culposo?” Aí ele falou “sim”, o que, na minha opinião, [a resposta] é coerente com a visão dele sobre o plano do aborto. Eu considero que o corpo da mulher é inviolável, se ela quiser fazer, ela faz. Da mesma forma que eu acredito que uma pessoa beber cândida é direito dela, ela é um idiota de fazer isso, mas é direito dela. Então, assim, a pessoa faz o que achar melhor com o próprio corpo. A gente pode gostar ou não gostar, mas, na minha opinião, não é da conta do Estado.

Caso o senhor seja eleito, como seria a composição das suas secretarias?

A nossa opinião sobre as secretarias é a seguinte: elas têm que ser loteadas pelos movimentos populares e representantes dos trabalhadores. Por exemplo, na Secretaria da Habitação, tem que colocar alguém do movimento de habitação, por exemplo da CMP [Central de Movimentos Populares]. No pessoal que vai lidar com Educação, tem que colocar um professor sindicalista lá. Em questões ligadas diretamente ao trabalho, vamos pôr um cara da CUT [Central Única dos Trabalhadores] lá. Isso significa que um eventual governo nosso não é do PCO, mas tem que ser um governo dos trabalhadores, onde as pessoas decidem, não eu. O PCO não quer governar de acordo com apenas a nossa opinião, se temos uma tarefa nessa eleição, é mostrar para as pessoas que elas precisam governar e nós temos que ser um veículo dessa vontade.

Por que o senhor acredita que Boulos não é de esquerda?

Formalmente ele é de esquerda, agora eu não sei no que ele acredita e, na minha opinião, ninguém sabe. Ele era a favor da legalização do aborto e das drogas, agora ele é contra. Ele já falou que era a favor da Venezuela, agora já acha que é uma ditadura. Ele já foi super crítico da presidenta Dilma, falando que o governo era indefensável etc., agora ele está lá apresentando a entrega do Minha Casa, Minha Vida, que foi feito pela Dilma, como se fosse ele que entregou. Hoje ele diz que é de esquerda, mas nós temos o exemplo do Gabriel Boric [presidente do Chile], que subiu ao governo falando que era de esquerda e agora é um governo de direita. Eu vejo que ninguém tem motivo nenhum para confiar nele.

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