Os candidatos à prefeitura de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (Psol), se enfrentaram na noite desta segunda-feira (14) no primeiro debate transmitido em TV aberta neste 2º turno, na Band TV. Realizado pelo Grupo Bandeirantes, o encontro foi mediado pelo jornalista Eduardo Oinegue.
Tanto Boulos quanto Nunes compareceram ao debate, apesar de o prefeito de São Paulo ter faltado ao evento promovido por CBN, O Globo e Valor Econômico na última quinta-feira (10). Este segundo turno da eleição paulistana chegou a ter proposta para realização de 12 debates em 16 dias, quantidade que virou discórdia entre as duas campanhas.
A falta de energia elétrica que atinge moradores de São Paulo desde a última sexta-feira (11), em decorrência das chuvas e ventos fortes, foi um dos temas centrais no evento da Band TV. Uma prévia do que seria debatido ao vivo foi concedida pelos candidatos ainda em entrevista coletiva aos jornalistas, que precedeu o debate, na qual Boulos afirmou que "algumas milhares de pessoas não vão poder assistir ao debate porque estão sem luz na sua casa há três dias", responsabilizando a concessionária Enel e o prefeito Nunes pelo ocorrido. O discurso se repetiu ao longo do primeiro bloco do debate.
Nunes, por sua vez, afirmou no pré-debate que pretendia discutir na TV o fato de que "226 mil pessoas estão sem energia, a cidade sofre bastante, a responsabilidade do governo federal com relação a esse tema", afirmando que "o contrato é muito claro" e que é o "governo federal que pode fazer de intervenção" - a fala se repetiu ao longo da discussão ao vivo entre os candidatos. Lula é um dos principais cabos eleitorais de Boulos em São Paulo.
Ainda na entrevista pré-debate, Boulos afirmou que esperava "um debate de propostas, mas também de diagnósticos" de problemas da cidade. O candidato do Psol reiterou que ele representa uma mudança para quem não está satisfeito com a cidade de São Paulo da maneira como está.
Ao longo do primeiro bloco, Boulos foi incisivo ao afirmar que a gestão de Ricardo Nunes é responsável pela falta de poda de árvores na cidade, o que na análise dele teria contribuído com a falta de energia enfrentada pelos paulistanos. Nunes respondeu então responsabilizando a Enel por não retirar as árvores que estão em contato com a fiação elétrica.
No pré-debate, Nunes disse que a estratégia é de "não cair em provocação" e repetiu o discurso de que ele representa segurança jurídica e equilíbrio, lembrando da parceria e apoio do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e da governabilidade junto à Câmara dos Vereadores de São Paulo. Durante o primeiro bloco, Nunes enumerou os feitos na cidade de São Paulo, como a quantidade de podas de árvore, o aumento da equipe responsável pelo serviço que teria sido dobrada, de acordo com o prefeito, e a cobrança que fez aos órgãos federais em relação à Enel.
Boulos questionou Nunes sobre Bolsonaro, pandemia e vacina
O candidato do Psol foi acusado pelo prefeito de ter a intenção de tirar as Organizações Sociais (OSs) da área da saúde na cidade - parcerias firmadas pelo poder público com instituições privadas. Em resposta, o candidato do Psol negou a ação e pontuou a necessidade de fiscalização do trabalho desenvolvido pelas OSs.
Já Nunes foi acusado por Boulos de ter afirmado que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) "fez tudo certo na pandemia". Em resposta a esse questionamento e ao posicionamento em relação à vacina da Covid-19, o candidato do MDB afirmou que “muita gente acertou e errou muita coisa” na pandemia e que a cidade de São Paulo se “tornou a capital mundial da vacina”, dizendo que “não faltou enfermaria, nem oxigênio para ninguém”.
Em relação à obrigatoriedade da vacina, Nunes afirmou que é contra “o passaporte da vacina” e que contrário a que as pessoas sejam cobradas a apresentar o documento ao entrar em um restaurante ou “um culto”.
Discussão sobre segurança pública teve promessa de aumento da Guarda Civil e foco no vice de Nunes
O vice de Nunes, Ricardo Mello Araújo (PL) - indicado por Bolsonaro para a campanha paulistana na aliança construída - foi alvo de acusações de Boulos ao longo do debate promovido pela Band. O candidato do Psol questionou o fato de Mello Araújo ter afirmado que pessoas de diferentes bairros precisam de tratamentos diferentes.
Em resposta, Ricardo Nunes afirmou que “obviamente tem que tratar todo mundo com respeito” e destacou que Mello Araújo tem uma trajetória de reconhecimento na corporação pelos serviços prestados, complementando que ele não responde a nenhum inquérito. “O problema dele [Guilherme Boulos] é que ele não gosta de polícia”, atacou Nunes, afirmando que o opositor do Psol “a vida inteira depredou”.
Em relação a propostas para a área segurança pública, Boulos prometeu dobrar o efetivo da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e enfatizou que é a favor do efetivo municipal armado. Nunes, por sua vez, discursou que é “tolerância zero com a criminalidade” e enumerou ações da gestão: contratação de 2 mil guardas e o programa de câmeras Smart Sampa.
Depois de ataques e defesas, debate na Band teve abraço entre Boulos e Nunes
Entre manifestações e torcidas da plateia - e consequentes pedidos de silêncio pelo jornalista mediador - o debate foi repleto de ataques e contra-ataques entre os candidatos. Boulos questionou por três vezes se Nunes aceitava abrir o sigilo bancário e, caso aceitasse, pediria a um advogado para preparar um documento com o comprometimento, a ser assinado ao final do programa.
Em resposta, Nunes afirmou que os dados dele são abertos e que não tem “nenhuma investigação” contra ele, acusando Boulos de ter fugido por seis anos de um oficial de Justiça até a ação prescrever. “Nunca fui condenado. Nunca fugi da Justiça igual você, que ficou seis anos fugindo do oficial de Justiça naquela ação de depredação do Pinheirinho, jogou pedra na viatura, foi preso”, disse o prefeito.
Boulos se aproximava de Nunes em posição de enfrentamento enquanto o adversário falava e, em determinado momento, o candidato do MDB interrompeu o discurso e questionou: “Você está bem?”, com Boulos respondendo: “Eu estou bem, e você?”. Nunes então abraçou Boulos e os dois riram. “Você não vai me intimidar, sabe por quê? Eu vim da periferia do Parque Santo Antônio, não tenho medo de nada, rapaz”, disse Nunes.
Acusação utilizada em embates anteriores, a nomeação de um ex-cunhado de Marcola - chefe da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) - para a Secretaria de Obras em São Paulo foi novamente trazida à tona por Boulos. Em resposta, Nunes afirmou que trata-se de “um funcionário que entrou em 1968 [na prefeitura] por concurso, a irmã dele morreu há 22 anos”.
Candidatos revivem acusações de debates anteriores
Boulos voltou a evidenciar a investigação da Polícia Federal (PF) que envolveria Nunes no suposto esquema da "máfia das creches" e questionou reiteradamente se o candidato do MDB recebeu um cheque “na sua conta e na da sua mulher”.Em resposta, Nunes falou da trajetória como empresário, tendo começado em "uma salinha dois por dois que foi crescendo" e que “presta 2 mil serviços ao dia”.
O prefeito acrescentou então: “Todo serviço que minha empresa prestou foi correto. Vai querer invadir a minha moral, você não tem moral para isso, me desculpe, mas você não tem”, rebateu.
E, ainda durante o embate que focou no mais recente episódio de falta de luz em São Paulo, Nunes questionou Boulos sobre as ações na Câmara dos Deputados, voltando com o tema da rachadinha do deputado federal André Janones (Avante). “Você fez o que como deputado? Só fez passar pano na rachadinha do Janones e passar pano na Enel”, criticou Nunes.
Boulos respondeu que não ia “deixar passar” e completou: “Rachadinha pra mim é crime, sendo do Janones ou do Flávio Bolsonaro, que é teu amigo. Eu nunca fiz rachadinha, você fez a rachadinha das creches”, rebateu o candidato do Psol.
Regras do debate da Band em São Paulo envolveram gestão do próprio tempo
O debate desta segunda-feira entre os candidatos que concorrem à prefeitura de São Paulo foi transmitido simultaneamente pela BandNews TV, pelas rádios Bandeirantes e BandNews FM e pelo canal Band Jornalismo, no YouTube. Pelas regras estabelecidas previamente, os políticos tinham dois minutos para responder a uma mesma questão feita pela produção no início do evento. Na sequência, cada um tinha 12 minutos para conduzir o embate direto, da maneira que achasse melhor.
Era permitido circular pelo cenário, mas quem não estivesse com a fala precisava evitar gestos ou reações que tirassem a concentração do oponente. No segundo bloco, quatro jornalistas do Grupo Bandeirantes fizeram perguntas e, para a resposta e a réplica, os candidatos tiveram um total de três minutos.
No último bloco, os candidatos voltaram a se enfrentar diretamente, com 12 minutos cada. Ao final, Nunes e Boulos tiveram dois minutos cada para as considerações finais, sendo colocados a eles os cinco assuntos mais pesquisados ao longo da disputa, de acordo com a Sala Digital Band Google.
Primeiro turno em São Paulo foi o mais disputado desde a redemocratização
Com a disputa mais acirrada desde a redemocratização, o resultado do primeiro turno das eleições à prefeitura de São Paulo foi definido apenas após 99% das urnas apuradas. No total, Nunes recebeu 1.801.139 votos (29,48% dos votos válidos), enquanto Boulos teve 1.776.127 votos (29,07%). Pablo Marçal (PRTB), com 1.719.274 votos (28,14%), ficou fora da disputa do segundo turno.
No maior colégio eleitoral do país, a disputa no segundo turno reflete a polarização nacional entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apoiadores, respectivamente, de Nunes e de Boulos.
Ricardo Nunes (MDB), de 57 anos, iniciou a carreira política como vereador na cidade de São Paulo e foi eleito como vice de Bruno Covas na prefeitura de São Paulo. Ele assumiu o cargo de prefeito após o falecimento de Covas em decorrência de um câncer, em 2021. Com perfil discreto, Nunes era pouco conhecido pelos paulistanos no início da gestão e apostou em políticas de maior popularidade.
Guilherme Boulos (Psol), de 41 anos, é deputado federal e uma figura central do Psol. A carreira política se destaca pelo foco em movimentos sociais e pela defesa dos direitos de moradia. Desde 2020, quando se candidatou à prefeitura de São Paulo, ele se consolidou como uma das principais vozes da esquerda paulistana, buscando expandir a influência no cenário municipal.
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