O prefeito reeleito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), terá de enfrentar uma série de cobranças para dar respostas à população nos próximos quatro anos. Com 12 milhões de habitantes, a metrópole é uma das maiores do mundo e tem problemas proporcionais ao tamanho de sua população.
Apesar dos inúmeros obstáculos, a cidade desfruta de uma grande vantagem em relação à maioria dos municípios brasileiros: um orçamento robusto. Para 2025, a cidade de São Paulo tem um recorde estimado em R$ 122,7 bilhões, de acordo com o projeto de lei orçamentária anual enviado para a Câmara dos Vereadores.
Dinheiro em caixa não significa, no entanto, facilidade para resolver problemas de tão grande complexidade. Entre os principais deles estão a segurança pública, a cracolândia e a população de rua que, vinda de diferentes municípios e até de outros países, cresce na cidade. Confira os destaques listados abaixo pela Gazeta do Povo.
Milhões sem energia elétrica por dias em decorrência de temporais
Às vésperas do segundo turno das eleições à prefeitura de São Paulo, a cidade enfrentou, mais uma vez, um novo episódio de apagão em decorrência dos fortes temporais que atingiram a capital paulista - em novembro de 2023, a região já havia ficado sem luz por quatro dias.
Dessa vez, aproximadamente 3,1 milhões de imóveis ou 20% dos clientes da concessionária Enel ficaram sem energia elétrica, sendo que alguns moradores chegaram a ficar cinco dias sem acesso ao serviço da prestadora. Diversos setores tiveram o prejuízo agravado devido à perda de mercadoria refrigerada. De acordo com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), o setor de varejo e serviços chegou a um prejuízo de mais de R$ 1,6 bilhão.
Milhares de usuários também perderam o acesso à água em decorrência da interrupção do fornecimento de eletricidade que afetou o funcionamento de estações elevatórias e equipamentos que transportam a água para locais mais altos, de acordo com a Sabesp. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o prefeito Ricardo Nunes culparam a Enel e o governo federal, por meio do Ministério de Minas e Energia e da agência federal fiscalizadora do setor, a Aneel. Eles solicitam a não prorrogação do contrato de concessão, com vencimento previsto para 2028.
Durante a campanha eleitoral, Nunes afirmou que conversou "todos os dias" com o presidente da Enel, Guilherme Lancastre, e que não teve respostas satisfatórias, optando por rastrear caminhões da empresa com equipamentos da prefeitura. Durante um dos debates com o candidato Guilherme Boulos (Psol), quando acusado de não podar de maneira satisfatória as árvores da cidade, Nunes afirmou que esse serviço é de responsabilidade da Enel quando estas se encontram encostadas em fios de eletricidade, e que há uma longa fila de espera para a concessionária resolver o problema.
A ênfase em ações práticas e cobrança do poder público municipal, mais do que delegar culpas, precisam estar no rol de prioridades do prefeito reeleito, sob risco de novas ondas de prejuízos à sociedade paulistana em novas situações de eventos climáticos extremos, que têm tendência de se repetir.
Drogas a céu aberto na cracolândia é problema que se arrasta e se intensifica por mais de 30 anos em São Paulo
A situação da cracolândia é um problema crônico em São Paulo que se arrasta há mais de 30 anos na capital paulista. A situação é apontada pelos paulistanos como um dos principais problemas da cidade - e com promessas de políticos que se renovam, sem percepção prática de melhora. Pelo contrário.
O chamado “fluxo”, com dependentes químicos que consomem e compram a droga à céu aberto, desafiou cerca de 20 administrações públicas que desde a década de 1990 tentaram sem sucesso coibir as práticas realizadas. Como consequência, o problema foi apenas transferido de região, transformando o que era antes apenas uma cracolândia, localizada no centro da cidade, em dezenas delas espalhadas pela metrópole.
A situação exige atuação do poder público em diversas frentes: no tratamento aos dependentes químicos por meio de ações de assistência social integradas com a área da saúde, habitação e ocupação profissional, e no combate ao crime organizado.
Presença do crime organizado e do PCC na máquina pública de São Paulo
A facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) vem se fortalecendo no país e aumentando a uma presença velada no poder público de diversas cidades, entre elas a capital paulista. Em São Paulo, a associação do crime organizado é dita de forma recorrente no transporte público, como evidenciam investigações de diferentes forças de segurança.
Empresas suspeitas de envolvimento com o PCC estão sendo apuradas pela polícia, em processos que estão sob segredo de justiça. Eles envolvem a Transcap, a Transunião e a UPBus, companhias que têm contrato com a prefeitura de São Paulo e cujos membros são investigados por envolvimento com criminosos em esquemas que existem desde a década de 2000.
A presença do crime organizado no transporte público se dá, principalmente, para a lavagem de dinheiro. O mesmo ocorre em diversos municípios do estado de São Paulo. Uma investigação da Polícia Civil e do Ministério Público de São Paulo (MPSP) apontou fraude em documentos e licitações, envolvendo agentes públicos, em editais públicos.
Segurança pública está no topo das preocupações dos paulistanos
Na pré-campanha à prefeitura de São Paulo, a segurança pública despontou como um dos principais temas dos discursos dos candidatos, tendo pautado até mesmo candidaturas como a do vice de Ricardo Nunes, o coronel Mello Araújo (PL), ex-comandante da Rota, e de José Luiz Datena (PSDB), conhecedor do tema pelo trabalho como apresentador de televisão.
A sensação de insegurança está entre as principais preocupações do paulistano, que convive com furtos e roubos principalmente de celular praticamente diariamente em algumas regiões da cidade.
Apesar de o tema não ser de responsabilidade direta da prefeitura, e sim do governo do Estado, a segurança pública entrou na pauta dos candidatos através de propostas como a ampliação e o fortalecimento da Guarda Civil Metropolitana, e o trabalho de inteligência através de câmeras de monitoramento no entorno de escolas públicas.
Situação de pessoas em situação de rua ainda é superior ao número de vagas em abrigos
O número de pessoas em situação de rua na cidade de São Paulo cresceu principalmente após a pandemia de Covid-19. Por se tratar de uma grande metrópole, com serviços, comércio e dinheiro em circulação abundantes, muitas pessoas em situação de vulnerabilidade social, de outras cidades e até mesmo de outros países, buscam as ruas da capital paulista como abrigo seguro.
Apesar da constante criação de vagas em equipamentos públicos, elas não são suficientes para suprir a demanda de uma população que já ultrapassa 85 mil pessoas de acordo com dados do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) divulgados pela Comissão Arns.
Robson Mendonça, ex-morador de rua que fundou em 2000 o Movimento Estadual da População de Rua, falou à Gazeta do Povo que os equipamentos de acolhimento precisam ser aperfeiçoados. "Às vezes, a pessoa está muito chapada e não pode ser acolhida porque pode causar problema para si mesmo ou para outras pessoas, precisaria de uma estrutura para essas pessoas", diz ele. "Os albergues muitas vezes não têm armários para pertences ou ainda faltam vagas para famílias inteiras", acrescentou.
Tanto Ricardo Nunes quanto Guilherme Boulos fizeram propostas para a população de rua de São Paulo que incluem atendimento humanizado, inclusão no mercado de trabalho e ampliação de vagas. Esse será um dos principais desafios para o próximo prefeito da cidade.
Fila para exames e procedimentos na rede municipal de saúde
Outro grande desafio para o gestor da cidade de São Paulo é diminuir as filas para a realização de exames e procedimentos na rede municipal de saúde. Ainda que a gestão de Bruno Covas e Ricardo Nunes tenha ampliado o número de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e contratado mais especialistas, a demanda cresce em função de uma demanda reprimida.
Reportagem realizada pela Rede Globo em janeiro com base na Lei de Acesso a Informações Públicas apontou que o número de pessoas aguardando por uma endoscopia era de 97 mil, alta de 72% em relação ao ano anterior. Os exames de cardiologia cresceram 194% em comparação a 2022, para 70.853, enquanto os relacionados à saúde feminina tiram alta de 83%, para 83.101 pessoas.
Ainda assim, a capital paulista está bem posicionado entre os municípios brasileiros no tema saúde. De acordo com um ranking realizado pela Gazeta do Povo sobre as melhores cidades para se morar, São Paulo tem nota 6,01 no quesito saúde e ocupa a 245ª posição entre todas as 5.500 cidades brasileiras.
Já em relação à saúde mental a cidade vai mal. Em se tratando do índice de suicídio, São Paulo ocupa a 3.495ª posição do ranking, com uma nota de 2,90 em um índice de 0 a 10.
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