O prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), tem enfrentado dificuldades para dialogar com o eleitorado de direita. Segundo aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ouvidos pela Gazeta do Povo, o problema surge da própria postura de Nunes, que se apresenta como um candidato de centro, evitando temas ideológicos.
Em dezembro de 2022, Nunes declarou ser um político de centro. "Sempre fui transparente ao afirmar que é importante unir o centro, que é o campo em que eu atuo, com a direita para derrotar a extrema-esquerda", disse o prefeito em setembro de 2023. No mesmo mês, Nunes afirmou que Bolsonaro não era o seu “padrinho político”, mas que gostaria do apoio do ex-presidente.
Já em meio à campanha municipal deste ano, Bolsonaro chegou a declarar que Nunes não era o "candidato dos sonhos”. O ex-presidente nunca escondeu a preferência pelo nome do deputado federal Ricardo Salles (Novo-SP) na disputa à maior prefeitura do país, mas acatou a decisão de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, de apoiar a reeleição de Nunes.
Pablo Marçal, candidato do PRTB à prefeitura, tem se beneficiado do distanciamento entre Nunes e uma ala da direita, posicionando-se abertamente como o candidato desse espectro político, mesmo sem o apoio oficial de Bolsonaro e Tarcísio.
Na tentativa de ganhar a aprovação da direita, o prefeito de São Paulo ironizou o apoio de Joice Hasselmann (Podemos), candidata à Câmara de Vereadores da capital que migrou para o lado de Marçal. No Instagram, Nunes escreveu: “já vai tarde, agora está no lado certo”, depois que ele mesmo havia feito um vídeo declarando apoio à ex-deputada federal.
O vídeo foi motivo para o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) criticar o prefeito: "É inacreditável como Nunes cava a própria sepultura ao apoiar a maior traidora do bolsonarismo. Ele tem o apoio do PL, mas falha nos acenos, nessa tentativa de se posicionar ao centro. Nesse vácuo, Marçal tem crescido, alinhando-se com o eleitorado fiel aos nossos valores", declarou o parlamentar.
Após esse episódio, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) articulou um apoio mais explícito de Bolsonaro a Nunes, resultando em um vídeo do ex-presidente confirmando Nunes como seu candidato em São Paulo. Segundo apuração da Gazeta do Povo, Aliados de Bolsonaro esperam que Nunes adote uma postura "mais enérgica" na manifestação de 7 de setembro na Avenida Paulista.
Campanha de Nunes ressalta que prefeito é de centro
A campanha de Ricardo Nunes reafirma em nota que o prefeito é um candidato de centro. “O prefeito pretende ser ele mesmo, até o fim. Trata-se de um candidato de centro, que sempre foi filiado a um único partido (MDB) e que tem suas convicções e bandeiras bem definidas, assim como posicionamentos. Não é de ideologia que a cidade precisa, ou de rinha entre partidos”.
Quanto à estratégia para conquistar os eleitores de Bolsonaro e Tarcísio, a campanha sustenta que Nunes é o único capaz de derrotar a esquerda. “Na convenção do MDB, ficou claro que o candidato a prefeito de São Paulo que tem o apoio do Bolsonaro e do Tarcísio é Ricardo Nunes. No dia a dia, assim como nas pesquisas de intenção de voto, também fica claro que o candidato que pode derrotar a extrema esquerda é Nunes. Esse diagnóstico também tende a ser trabalhado no decorrer da campanha e, naturalmente, vai fidelizar o voto do centro e da direita”.
Questionada sobre a possibilidade de Nunes perder votos para Pablo Marçal, a campanha do prefeito criticou o empresário. “O candidato do PRTB ameaça à democracia com seus métodos pouco republicanos. Trata-se de alguém repleto de acusações graves, que já foi preso, condenado e que inspira cuidados em razão de suposta ligação com o crime organizado. A direita de São Paulo jamais vai apoiar alguém com a ficha corrida de Marçal”.
Pesquisa Quaest mostra que Nunes pode crescer com o eleitor de Bolsonaro e Tarcísio
No último dia 28, a Quaest divulgou uma pesquisa sobre o cenário eleitoral para a prefeitura de São Paulo nas eleições municipais de 2024. O levantamento questionou os entrevistados sobre o alinhamento político que preferem para o futuro prefeito de São Paulo e se votariam em um candidato indicado pelo ex-presidente Bolsonaro ou pelo governador Tarcísio. A pergunta era: Você votaria em um candidato apoiado por:
Bolsonaro
- Não: 74%
- Sim: 21%
- Não sabe / não respondeu: 5%
Tarcísio
- Não: 66%
- Sim: 26%
- Não sabe / não respondeu: 8%
Esses dados indicam que o Nunes tem espaço para crescer entre os eleitores de direita. Na pesquisa estimulada, quando os nomes dos candidatos são apresentados previamente para escolha do eleitor, Nunes aparece com 19%, empatado com Marçal, também com 19% - e também com Guilherme Boulos, do Sol, com 22%.
Estimulada
- Guilherme Boulos (Psol): 22%
- Pablo Marçal (PRTB): 19%
- Ricardo Nunes (MDB): 19%
- Datena (PSDB): 12%
- Tabata Amaral (PSB): 8%
- Marina Helena (Novo): 3%
- Bebeto Haddad (DC): 2%
- João Pimenta (PCO): 0%
- Ricardo Senese (UP): 0%
- Altino Prazeres (PSTU): 0%
- Branco/nulo/não vai votar: 7%
- Indecisos: 8%
Metodologia da pesquisa: 1.200 entrevistados pela Quaest em São Paulo entre os dias 25 e 27 de agosto de 2024. A pesquisa foi contratada pela Globo Comunicação e Participações SA/TV/Rede/Canais/G2C+Globo Globo.com Globoplay. Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Registro no TSE nº SP-08379/2024.
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