Vai governo, vem escândalo, volta governo e a usina nuclear Angra 3, no Estado do Rio de Janeiro, continua em construção há quase 40 anos. Inaugurada na década de 1980, teve apenas 65% das suas obras concluídas até agora.
O problema é que, como diz o dito popular: “se correr o bicho pega; se ficar o bicho come”. Não tem saída fácil e barata. Para finalizar o projeto a estimativa é gastar ainda mais cerca de R$ 20 bilhões. Mas em caso de desistência, o prejuízo é de uns R$ 26,5 bilhões, segundo a Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan).
O montante do abandono considera gastos com encerramentos de contratos e desmanche do que já foi construído, perda de receita anual e de receita com pegada de carbono, além de valores já aplicados. Os riscos jurídicos com a quebra dos contratos são considerados como incalculáveis - e, claro, possíveis desvios de corrupção como suspeito no passado são imensuráveis, mas elevariam a despesa significativamente.
Angra 3 é a terceira usina da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA) e é chamada de gêmea de Angra 2 por terem a mesma tecnologia alemã. O complexo que as abriga fica em Angra dos Reis e leva este nome em homenagem ao militar e cientista que foi um dos principais articuladores do programa nuclear brasileiro.
No complexo também está Angra 1. Por ora, apenas 1 e 2 funcionam. Todas são operadas pela Eletronuclear, subsidiária da ENBPar, estatal criada para gerir Itaipu e Eletronuclear após a privatização da Eletrobras.
Angra 2 é a maior em funcionamento no país e opera com potência de 1.350 megawatts (MW). Angra 3 terá capacidade de 1.405 MW, o suficiente para atender 4,5 milhões de pessoas, que é o equivalente a 60% do consumo do estado do Rio e 3% do consumo do Brasil.
Durante estas quatro décadas de desdobramento, a novela Angra 3 já passou por vários capítulos, como licitação e restrições orçamentárias. A grande reviravolta foi em 2015, quando o projeto caiu nas investigações da Operação Lava Jato.
As obras foram paralisadas e voltaram em 2022 com o consórcio Agis, formado por Ferreira Guedes, Matricial e ADtranz, no âmbito do Plano de Aceleração da Linha Crítica da unidade. No primeiro semestre de 2024 será realizada outra licitação para contratar a empresa, ou o consórcio, que vai finalizar as obras civis e a montagem eletromecânica da usina.
Celso Cunha, presidente da Abdan, explica que a obra não está totalmente parada: “Há empresas que continuam fazendo a parte de tecnologia, software, equipamentos, contratos continuam sendo licitados. Isso vem de investimentos anteriores que já existem”.
Sobre as obras da chamada Linha Crítica (realizadas pelo consórcio), no dia 12 de dezembro, a área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU), constatou que elas estão em “ritmo bastante reduzido”, com possíveis impactos sobre o cronograma de conclusão do empreendimento.
Segundo Cunha, hoje seria inviável desativar Angra 3: “Teria um impacto imenso nas ações da ENBPar. Desativar Angra 3 custa mais caro do que concluir (a obra) porque você teria que pagar todos os contratos, os fornecedores, desativar, descomissionar. Quando se soma tudo isso é mais caro do que concluir”, avalia.
A previsão da Eletronuclear é que Angra 3 entre em operação no final de 2028, mas, diz Cunha, pela sua experiência, acredita que isso só deva acontecer lá por 2030.
Segundo a Eletronuclear, no pico da obra serão gerados 7 mil empregos diretos, além de um número muito maior de empregos indiretos. No momento, há cerca de 1.000 trabalhadores no canteiro de obras.
Enquanto isso, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está fazendo um trabalho de estruturação e modelagem técnica, financeira e jurídica do projeto de retomada da Usina Nuclear de Angra 3 com consultorias contratadas pelo Banco e a Eletronuclear.
De acordo com o BNDES, o cronograma do projeto está sendo revisado e passará pelo processo de validação nas instâncias de governança do projeto, incluindo o alinhamento com a nova direção da Eletronuclear.
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