O Brasil tem mais a ganhar com veículos híbridos do que com os carros totalmente elétricos. É o que aponta um estudo conduzido pela LCA Consultores e MTempo Capital, que estima os impactos econômicos das duas vertentes sobre Produto Interno Bruto (PIB), produção, emprego e arrecadação de impostos entre 2020 e 2050.
O levantamento mostra que na descarbonização puxada por motores movidos a combustão e baterias – os híbridos –, o país pode ter ganhos de aproximadamente R$ 2,3 trilhões até 2050. Por outro lado, se o rumo tender para elétricos puros, a estimativa é de perda de cerca de R$ 5 trilhões no mesmo período.
Os números se referem à produção total, mas há perda também para outras áreas. Na prevalência de híbridos, os efeitos de descarbonização são positivos para empregos, com soma acima de R$ 1 trilhão para empregos, R$ 877 bilhões ao PIB e R$ 318 bilhões em impostos.
Os veículos elétricos puros, por outro lado, convergem todos em perdas nesses aspectos. Em empregos, R$ 597 bilhões, e em impostos, R$ 678 bilhões. No PIB, o impacto ultrapassa a casa do R$ 1,8 bilhão (além dos R$ 5 trilhões na produção).
Isso acontece principalmente porque, mesmo que veículos elétricos sejam, em média, mais caros, não agregam tanto no ciclo de produção. A pesquisa destaca que falta uma cadeia produtiva para fabricação das baterias e equipamentos intensivos em insumos básicos, componentes, partes e peças nacionais.
No caso dos híbridos, é justamente a alta demanda de conteúdo local que agrega novos componentes em várias etapas da cadeia produtiva e acaba por aquecer a economia. No entanto, no futuro, é possível que a eventual nacionalização da produção de insumos e componentes da bateria reduza o impacto econômico negativo dos veículos totalmente elétricos.
Luciano Coutinho, sócio da MTempo Capital, ressaltou que em todos os aspectos o híbrido tem melhores resultados, mas ponderou que a pesquisa considera a cadeia de suprimentos e tecnologia atual. Ele apresentou o estudo em evento do grupo Esfera Brasil, em Brasília, nesta semana.
“Do ponto de vista de emprego, renda e valor agregado no país, a rota de híbridos prevalece claramente superior. Obviamente, essas rotas e cálculos projetam a fotografia atual e, certamente, a mudança tecnológica e os avanços de processo poderão mudar”, disse o executivo, que também é ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A pesquisa analisou ainda as emissões de carbono desde a exploração de minerais para a produção das baterias e de outras peças do veículo até o descarte dos materiais embarcados. A conclusão foi de que os híbridos geram menos CO2.
No mesmo evento, o presidente BNDES, Aloizio Mercadante, disse que a rota promissora de eletrificação no Brasil é a de carros híbridos, e defendeu a decisão do governo, no ano passado, de voltar a taxar a importação de carros elétricos.
Esses veículos eram isentos de Imposto de Importação desde 2015. Em 2023, o governo decidiu voltar com a taxação de formal gradual a partir deste ano, podendo chegar até 35% em 2026.
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