A marca chinesa BYD lançou nesta quarta-feira (28) o carro elétrico Dolphin Mini no Brasil. A expectativa do mercado era de que o modelo custasse menos de R$ 100 mil, mas o valor oficial anunciado pela marca ficou um tanto acima disso: a partir de R$ 115,8 mil. Versões mais simples do modelo são esperadas e podem ter preço mais próximo dos R$ 100 mil.
Mais do que aposta para expandir as importações de veículos da China e depois produzi-los localmente, na fábrica em construção na Bahia, o novo modelo faz parte da estratégia da empresa em popularizar a tecnologia no Brasil. A ideia é que o país seja o "hub" da marca na América Latina e Central.
Dentre todos os desafios no mercado elétrico, como baterias, logística e desvalorização dos carros, o maior deles talvez ainda seja superar a desconfiança do consumidor.
“É uma mudança de cultura”, reconhece Alexandre Baldy, conselheiro especial da BYD no Brasil, em entrevista à Gazeta do Povo. Porta-voz da marca chinesa no país, Baldy foi ministro das Cidades do governo de Michel Temer (MDB) entre 2017 e 2018 e secretário estadual de Transportes Metropolitanos de São Paulo entre 2019 e 2021.
Por isso, para além do carro mais acessível entre os elétricos, a expansão da companhia inclui um centro de pesquisas e o desenvolvimento de novos produtos e negócios. Ou seja, não se concentra somente em vender carros, mas preparar a chegada deles. Exemplo disso são os investimentos em infraestrutura, como a instalação de 600 pontos de recarga em parceria com a Raízen.
Os planos incluem uma mina de lítio – principal matéria-prima das baterias – em Minas Gerais, e a produção local de peças. Baldy diz que projetos de investimento na cadeia de produção estão em andamento e que o foco agora é colocar a planta baiana em pé e começar a fabricar carros elétricos brasileiros.
Segundo Baldy, a empresa pretende dar início às obras da fábrica na próxima semana e mantém o plano de produzir no país ainda em 2024.
A fábrica fica em Camaçari, no local da antiga Ford, e produzirá inicialmente os modelos Dolphin, Dolphin Mini e a SUV híbrida Song Plus, num total de 150 mil unidades por ano.
Confira a seguir os principais trechos da entrevista de Baldy à Gazeta do Povo:
Gazeta do Povo: Como estão as obras da fábrica? Já tem data para ela começar a funcionar?
Alexandre Baldy: Nós estamos concluindo os projetos e obtendo as licenças com os órgãos necessários. Nossa perspectiva é de iniciar as obras na semana que vem. E continuamos com o objetivo de iniciar a operação em dezembro.
Quais são os modelos que serão produzidos no Brasil?
Inicialmente, nós produziremos três modelos: O BYD Song [SUV híbrido], o BYD Dolphin e BYD Dolphin Mini [lançado nesta quarta-feira].
Haverá modelos produzidos e desenvolvidos para o Brasil?
Todos que forem produzidos aqui serão desenvolvidos no Brasil. Aí ter conteúdo local é uma revolução ano a ano que vai tornando o carro cada vez mais nacionalizado. O centro de pesquisa e desenvolvimento, que será em Salvador, será um investimento no Polo Tecnológico na Bahia, e certamente terão desenvolvimentos de acordo com a necessidade.
Agora, a BYD tem como filosofia a internalização da sua produção. Isso é natural. Começou a produzir o carro aqui, ela internaliza a produção de partes e peças. Ela faz isso por várias razões, principalmente pela segurança da uniformidade de fornecimento e também do controle de custo.
Vocês dobraram a quantidade de funcionários para 10 mil. A produção também vai dobrar?
Não tem essa informação sobre a dobra. O objetivo é a primeira etapa de 150 mil unidades por ano. Essa correlação teremos de forma mais assertiva quando a gente começar de fato.
O consumidor brasileiro tem alguma preferência em carros elétricos? E como isso influencia a estratégia da empresa?
Nesse momento é difícil falar porque corremos atrás dos objetivos que temos, de botar a planta de pé, começar a produção local e investir no centro de desenvolvimento e pesquisa. Mas é natural que, com toda a estrutura local, teremos condição de avaliar o mercado global e ele na solução local.
Sem dúvida nenhuma, várias possibilidades poderão ser feitas, inclusive o desenvolvimento de tecnologias e soluções, de acessórios, de resultados que sejam convergentes com hábito e gosto do brasileiro. Assim como é o carro híbrido, por exemplo. O flex-fuel, em que se pode abastecer com gasolina, etanol ou carregamento elétrico, é uma realidade que só vai acontecer no Brasil.
Na China é uma estratégia da BYD comprar outras empresas da cadeia. No Brasil a empresa estava interessada na compra de uma mina de lítio em Minas Gerais. Vocês compraram?
Esse é um assunto que tem estado em andamento, mas por termos de confidencialidade não temos mais detalhes para poder compartilhar.
A BYD quando chegou ao Brasil anunciou planos de abrir três fábricas. Como estão estes projetos?
Em andamento, todas elas. Estamos fazendo projeto para começar a obra civil, não tem nada de detalhe para poder comentar.
Há algumas reclamações na internet referentes aos atrasos nas entregas e falta de peças de reposição...
Isso são coisas esporádicas. Temos um volume surpreendente armazenado aqui no mercado para que não haja nenhum problema de peças e atendimento ao consumidor.
Hoje estas peças vêm da China?
Extamente, assim como os carros.
E depois virão do Brasil mesmo?
Certamente.
A BYD tem plano de exportar? Para onde?
Também. O Brasil será o hub na América Latina, de atender países como Mexico, Argentina, Uruguai, e Latina América.
A empresa fez parceria com a Raízen para instalar 600 pontos de recarga. Há outras parcerias?
Com certeza. Trabalharemos com cada vez mais empresas que nos procurarem e que queiram ajudar a investir na expansão da infraestrutura.
Estamos apoiando parceiros que queiram investir em infraestrutura para que ela seja ampliada. É uma mudança de cultura sair de casa com bateria carregada para que não precise mais de postos de combustíveis e não fique suscetível a aumentos, como tem ocorrido ultimamente nos preços dos combustíveis, como gasolina.
Entre as questões dos potenciais consumidores, são levantadas dúvidas sobre a vida útil das baterias, custo para reposição de peças e desvalorização dos carros elétricos. Como veem esses desafios?
Com naturalidade. Temos uma indústria que tem preocupação e engajamento muito forte com meio ambiente e nós temos aí um plano muito sério de sustentabilidade. A BYD tem a sua frase mestra mundial como redução de um grau celsius de temperatura do planeta, então, não tenha dúvida que dentro cadeia produtiva vai ser bastante foco da empresa, e sobretudo a logística reversa, para que a gente possa ter esse comprometimento com o meio ambiente. Nós apresentaremos muitas soluções ao mercado.
Eu estou mais preocupado com o que consumidor vai gostar do meu produto e chegar até o conhecimento dele, de elucidar as informações de híbridos e elétricos do que qualquer outra preocupação. O comprometimento é de levar carros de elevada qualidade, conforto, padrão de tecnologia e inovação com preço extremamente acessível.
O que o senhor acha da taxação de elétricos e afins importados? Como isso afeta a BYD?
Nós acreditamos na política de desenvolvimento e fomento à indústria e estamos investindo para ter uma fábrica no Brasil, e que aqueles que importarem que venham investir no Brasil para ter também produção local.
O programa federal Mover (Mobilidade Verde e Inovação), que concede incentivos a determinados carros a combustão (a etanol, por exemplo, mesmo que híbridos) preocupa a empresa?
Pelo contrário. Estamos atendidos e abrangidos pelo Mover. O projeto atende o mercado de novas tecnologias, não só carros elétricos e híbridos, atende as duas tencologias.
Mas como ajuda vocês? Não favorece os carros a combustão?
Ele (Mover) visa reduzir a emissão de gás carbônico e a descarbonização.
A primeira versão desta reportagem afirmava em seu título que a BYD lançaria nesta quarta-feira (28) um carro elétrico de "menos de R$ 100 mil", o Dolphin Mini. Essa era a expectativa no mercado de automóveis. Porém, ao fazer ao anúncio, a companhia informou que, na verdade, o veículo custará a partir de R$ 115,8 mil.
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