O ex-instrutor do Bope (Batalhão de Operações Especiais) do Rio de Janeiro e consultor do filme Tropa de Elite, Paulo Storani, falou na última sexta-feira (28) sobre segurança pública com Edson Vismona, presidente executivo do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco). A conversa foi mediada pelo jornalista Fernando Martins direto de São Paulo, no estúdio Cubo Itaú.
Storani foi consultor dos filmes Tropa de Elite e Tropa de Elite II e foi umas das pessoas em quem o ator Wagner Moura se inspirou para fazer o personagem Capitão Nascimento. Também foi consultor de Operações Especiais e preparador dos atores policiais dos filmes.
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No bate-papo, Vismona e Storani falaram sobre a dimensão que o crime organizado alcançou no Brasil. Também debateram sobre o comportamento dos consumidores que compram produtos no mercado ilegal e, às vezes sem saber, financiam atividades criminosas. Ainda, discutiram sugestões sobre como resolver esse problema e comentaram a respeito de projetos já em processo de implantação no Brasil, como o Centro Integrado de Operações de Fronteiras.
“A atuação das organizações criminosas no nosso país chegou numa dimensão que ninguém pode mais ignorar. Vamos atrás do dinheiro: está no mercado ilícito, que financia essas organizações. Estamos vivendo um momento cada vez mais evidente de ameaça ao estado democrático de direito, porque o crime organizado desconhece a existência da autoridade”, apontou Vismona.
Mercado ilegal
Já Storani ressaltou o apoio involuntário que o consumidor acaba dando ao crime organizado: “O criminoso existe porque alguém está consumindo o produto que ele oferta. Pessoas que quando compram um produto não têm a mínima noção de que a compra daquele produto pirata, daquele cigarro contrabandeado do Paraguai ou falsificado aqui dentro do território nacional, aquela droga vendida pelo traficante está financiando todo um sistema”, ressaltou.
O ex-capitão do Bope também lembrou que, enquanto a educação não avançar a ponto de minimizar esse problema, o Brasil continuará dependendo da repressão policial. “Como resolver o problema do narcotráfico? Informando as pessoas para que elas deixem de usar a droga. Mas isso não vai acontecer de uma hora para outra. Então, vamos continuar com o mesmo remédio: polícia. Atuar na consequência e não na causa”, afirmou.
Políticas públicas
Storani também sugeriu foco em políticas públicas. “Precisa sim de fiscalização de fronteira. Mas é uma medida dentro de um conjunto de ações em que o grande protagonista é o governo federal, que vai induzir políticas públicas nos estados, e que vão terminar nos municípios. Não envolvendo só fiscalização, mas educação nas escolas sobre o mal que isso faz, educação da população através das organizações sociais, da imprensa, de debates”, concluiu.
Para Vismona, outra questão complexa, que é a extensão das fronteiras brasileiras, tem que ser resolvida com inteligência. “O desafio é imenso. São 17 mil quilômetros de fronteira. Nos Estados Unidos com o México são 3 mil [quilômetros]. A maior potência militar do mundo não controla 3 mil quilômetros de fronteiras. Temos oito tríplices fronteiras. Há um projeto da Marinha para monitoramento do lado de Itaipu. Vamos investir nisso! Colocar inteligência, com pronta resposta. É por isso que essa medida do ministro Sergio Moro é importante: centros integrados de operações de fronteira. É um primeiro passo”, defendeu.