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Durante o 18.º Congresso Paranaense de Recursos Humanos (CONPARH), a discussão sobre inteligência artificial saiu do jargão técnico e entrou no campo da cultura e da ética. Os debates convergiram para como usar tecnologia para ampliar o que é humano no trabalho e ligar dados a propósito, liderança e bem-estar. Com o tema “Tudo que só o humano é capaz de fazer”, o evento, realizado pela ABRH-PR, reuniu cerca de 3 mil pessoas no Viasoft Experience, em Curitiba, nos dias 22 e 23 de outubro.
Fernando Moreira, executivo global e pioneiro no conceito de organizações quânticas, apresentou o conceito de “quantum leadership”, modelo que unifica a liderança transformacional e servidora e as potencializa radicalmente por meio da inteligência artificial. Segundo o especialista, as organizações que adotam essa abordagem, colocando o “humano no centro de tudo” e utilizando a IA para aprimorar processos e a própria liderança, alcançam um crescimento exponencial, em contraste com o crescimento linear das empresas tradicionais. “Quanto mais sofisticada a IA se torna, mais valiosas se tornam as competências exclusivamente humanas”, pontuou.
Na mesma direção, o pesquisador Alexandre Pellaes abordou a importância da “liderança humanizada”. Criador do conceito EXBOSS, o especialista fez um contraponto entre os modelos de liderança tradicional. Ele descreveu a liderança nociva (comando e controle, trabalho sob pressão) e a liderança empobrecida (líder ausente e distante) como heranças de um modelo de gestão clássica voltado à obediência. A mudança de paradigma, segundo ele, reside na valorização do líder interessado, definido por características como foco no desenvolvimento da equipe e construção de relações de confiança. “O futuro não é destino, mas construção diária que reposiciona a relação entre indivíduo, liderança e organização. A tecnologia entra para potencializar autonomia e sentido, não para controlar”, afirmou.
Marcia Cavalcante, executiva do mercado de capitais que atua na gestão de pessoas, defende um RH simples e justo. Com a adoção das novas tecnologias, cada etapa do processo ganha nota clara e passa por um comitê que checa fatos e evita erros. O papel da IA é o de ajudar a achar os perfis e filtrar currículos. Os “rituais” humanos, ressaltou ela, garantem respeito e decisões corretas e o RH deixa de só “processar papel” e passa a orquestrar decisões bem documentadas e explicáveis, a partir das ferramentas tecnológicas.
Diversidade e sustentabilidade

Na rotina corporativa dos colaboradores, o especialista em inovação Filipe Cassapo, diretor do LelloLab, alertou para o impacto do uso dos algoritmos quando não há uma preocupação sedimentada sobre diversidade. “Inteligência artificial é uma máquina de moer dados. Vai produzir respostas mais prováveis com base no corpo de informação que lhe foi passada”, observou.
A saída, segundo Cassapo, envolve diversidade na produção da inteligência artificial e pensamento crítico no uso. “Ninguém melhor do que a IA vai aplicar as regras. Mas ninguém pior do que a IA vai tomar uma decisão moral. Porque a IA não tem moral”, analisou, destacando que não se pode passar as decisões para a plataforma, apenas usá-la como ferramenta para qualificar dados.
Claudia Malschitzky, diretora voluntária de diversidade na ABRH-PR, disse que o tema diversidade deixou a esfera filantrópica e de “responsabilidade social” para se firmar como estratégia de negócio, integrado ao pilar de pessoas – com metas e iniciativas claras – e ao próprio pilar de resultados.
Para ela, a sociedade plural oferece mercados que se perdem quando todos pensam e agem do mesmo modo; equipes diversas ampliam perguntas, geram insights e aceleram inovação. “Empresas envelhecem quando não escutam clientes e times; diversidade, tratada como estratégia, restaura competitividade.”
O congresso destacou, ainda, diversidade como estratégia de negócio e de cultura. A programação trouxe painéis e palestras sobre pertencimento, inclusão e responsabilidade social, com nomes da gestão de pessoas e da governança. Um dos destaques foi a participação de Mirella Prosdócimo, que tratou de diversidade, inclusão e responsabilidade social como valores estruturantes, e não apenas iniciativas isoladas.
O papel da sustentabilidade no ambiente corporativo foi trazido pelo especialista Sandro Benelli. Executivo, conselheiro e consultor com mais de 30 anos de experiência, Benelli afirmou que a sustentabilidade deixou de ser apenas pauta ambiental e virou compromisso humano e cultural, decisivo para competitividade e atração de talentos.
Ele defendeu a integração do tema ao negócio, como valor transversal. “A sustentabilidade deixou de ser apenas um diferencial competitivo para se tornar um verdadeiro compromisso humano e cultural dentro das organizações”, afirmou, ao reforçar que ela não deve ficar tratada como “projeto” ou “área isolada”, mas permear toda a empresa.