Projeto para a melhor idade

Arquitetura

Curitiba recebe primeira casa de repouso 5 estrelas do Brasil

Bruno Gabriel, especial para HAUS
19/10/2020 15:54
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O projeto busca preservar a identidade dos idosos, proporcionando espaço para a inserção de objetos pessoais nos quartos | Eduardo Macarios/Divulgação

Suítes individuais, biblioteca, salão de beleza, salas de jogos, cinema, piscina aquecida, pista de caminhada e restaurante. Foi em meio a ares de resort que a Região Metropolitana de Curitiba recebeu no último mês de setembro o primeiro residencial de luxo voltado para idosos no Brasil. Com 74 suítes individuais, a casa de repouso 5 estrelas conta com 6 mil m² de área construída em meio a um espaço de 296 mil m² envolto pela natureza.
O lar fica em Campina Grande do Sul, a 20 minutos do trevo do Atuba, em Curitiba
O lar fica em Campina Grande do Sul, a 20 minutos do trevo do Atuba, em Curitiba
O CEO do empreendimento, Edson Matos, explica que buscou trazer para a estrutura aspectos vistos em empreendimentos do mesmo tipo na Europa e nos Estados Unidos, que contam com espaços mais amplos e livres. “No Brasil, há muitos lares parecidos e sem alegria. Os calendários de atividades são fixos e o ambiente frio, neutro e pouco acolhedor. Todo mundo tem que tomar café e banho de sol no mesmo espaço e no mesmo momento, por exemplo”, diz.
A solução foi construir um espaço que instigasse os idosos a participarem de atividades de modo coletivo, mas dentro de uma ideia de individualidade. E a inspiração veio do ramo hoteleiro. “É possível oferecer as facilidades de um hotel, trazendo conforto e requinte, mas em uma moradia assistida", afirma Matos. O empreendimento, que recebeu o nome Elissa Village, tem mensalidades que partem de R$ 15 mil.
Entre os serviços oferecidos está o de um motorista executivo, que leva os idosos a encontros e passeios fora do estabelecimento, já marcados previamente por meio de uma concierge, também disponível no local. “Os idosos se sentem donos de si, mas contam com a assessoria dos profissionais disponíveis no local. Tudo isso, para que a biografia de cada novo morador seja mantida”, sugere Matos. A equipe multidisciplinar ainda inclui médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e arteterapeuta.
Um dos espaços externos do Elissa Village
Um dos espaços externos do Elissa Village

A estrutura

A área dos quartos dentro do residencial de luxo é dividida em quatro alas, conforme aponta Matos. Duas delas no térreo e outras duas no segundo andar. Para que a divisão fosse bem interpretada pelos moradores, um jogo de texturas e cores foi estabelecido: nenhuma das alas tem a mesma cor. Mais do que isso, um papel de parede diferenciado faz parte da composição de cada um dos quatro ambientes.
As suítes do Elissa Village contam todas com 28 ou 29 m², metro diferencial que aparece no banheiro dos moradores portadores de necessidades especiais. Cores neutras, uso de madeira e uma cabeceira azul dão o toque a todos os quartos. A responsável pelo projeto de design de interiores, Flavia Ranieri, explica que suas opções foram feitas para levar aos idosos a sensação de aconchego. “Fiz questão de permitir que os moradores incluam peças próprias na decoração do quarto. Para isso, inseri prateleira fininhas, com bordas arredondadas, para que sejam colocados quadros trazidos da antiga moradia”, afirma.
Segundo a designer de interiores, houve uma busca por elementos que trouxessem referências residenciais
Segundo a designer de interiores, houve uma busca por elementos que trouxessem referências residenciais
Flavia relata que o fato de ver objetos pessoais inseridos no ambiente ajuda na identificação do espaço por parte dos idosos. “Eles conseguem vislumbrar a própria história no novo lugar em que está morando. É importante para o psicológico e para a sensação de bem-estar”, garante. Seguindo o mesmo modelo, o nicho da televisão foi feito com iluminação embutida e prateleira com espaço para porta-retrato, caixinhas e pequenos objetos.
Cada suíte tem entre 28 e 29 m²
Cada suíte tem entre 28 e 29 m²
Além disso, todas as suítes contam com luzes balizadoras que acendem quando o idoso pisa no chão do quarto escuro, piso antiderrapante sem nenhum desnível, banheiro com piso aquecido, móveis com quinas arredondadas e cabeceira da cama acolchoada que favorece o isolamento acústico.
Flavia ainda explica que o armário levou em conta a ergonomia, inserindo um cabideiro mais baixo e adaptado ao público do local. O frigobar, por sua vez, aparece mais alto. “Também fizemos teste e percebemos que as poltronas reclináveis precisavam ser elétricas nos quartos. As manuais geram desconforto na hora de voltar à posição inicial”, conta.
Um dos pontos diferenciais do empreendimento, contudo, é que alguns dos quartos foram feitos sem o mobiliário tradicional. Assim, o novo morador pode levar seus próprios móveis, caso seja de sua vontade.
Alguns dos banheiros apresentam diferenças por conta da acessibilidade
Alguns dos banheiros apresentam diferenças por conta da acessibilidade
Para as áreas de convivência, Flavia optou por mobiliários de várias alturas. “Há poltronas com assentos mais baixos, mais altos, mais firmes. Isso para evitar que tudo seja igual, pois daria caráter de sala de espera de hospital. Em casa, temos coisas mais misturadas, principalmente na casa de idosos” diz. Segundo ela, é essencial pensar que nem todos têm o mesmo peso e altura. Além disso, a questão da autonomia entra em jogo mais uma vez, afinal, um critério básico seria dar ao idoso o poder de escolha sobre onde quer se sentar.
A escolha dos materiais, contudo, não recaiu sobre os tradicionais tecidos sintéticos, usualmente empregados para facilitar a higienização dos móveis. Em seu lugar, tecidos mais naturais, de algodão ou de linho. “Usei o sintético apenas na parte interna do mobiliário (como assentos e encostos), pois nos dá a ideia de uma residência. Somente quando chegamos perto é que notamos que há um material diferente sendo usado na área de contato”, justifica Flavia.
Uma das áreas do espaço gourmet, que fica ao lado do jardim
Uma das áreas do espaço gourmet, que fica ao lado do jardim
Para a mesa de refeição do amplo refeitório, a ideia de inclusão foi a peça-chave. Fabricada especialmente para o residencial, o móvel evita que diferentes tipos de necessidades especiais gerem segregação entre os idosos. Desse modo, há espaço para cadeira de rodas, além de diferentes alturas e espaços entre os pés.
Espera-se que após a pandemia, o refeitório receba também o público externo, para propiciar a interação entre idosos e visitantes
Espera-se que após a pandemia, o refeitório receba também o público externo, para propiciar a interação entre idosos e visitantes
A ideia de união também surge na área de convivência entre as copas. Presente em cada uma das quatro alas, as copas funcionam como uma área de transição, evitando que os idosos fiquem isolados no quarto, mas também não se sintam deslocados em um ambiente tão amplo quanto o refeitório. “É um ambiente mais intimista, mais acolhedor. Conta com micro-ondas, chaleira. Dá a opção de as pessoas almoçarem na própria ala”, diz Flávia.
Na parte externa do empreendimento, o jardim oferece uma pista de caminhada regulamentada pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), além de uma horta elevada. O acesso ao centro de jardinagem é livre durante o dia. Há, ainda, um rancho com cavalos, pavão, minivaca, faisão, entre outros animais, que podem ser periodicamente visitados pelos moradores do lar.

Sistema de segurança

Um dos destaques da casa de repouso é a segurança, com mais de 100 câmeras. De acordo com o CEO Edson Matos, o empreendimento é o primeiro do país a lançar um sistema para prevenção de acidentes desse tipo. A tecnologia conta com sensores de movimento com mapa de calor, câmeras, botões com microfones e sinalização de solo em LED. As câmeras são integradas a um software com sistema de visão computacional que usa inteligência artificial e deep learning. Assim, são entregues imagens, avisos sonoros e dados em tempo real. “Esse sensor ainda gera um relatório, que é importante para a equipe para diagnosticar o idoso a partir de seus hábitos”, garante o CEO.
Nos quartos, sensores de movimento com mapa de calor permitem que relatórios sobre os idosos sejam gerados
Nos quartos, sensores de movimento com mapa de calor permitem que relatórios sobre os idosos sejam gerados
Ele ainda explica que, caso exista algum acidente, como uma
queda, o sensor automaticamente entende a existência de um evento inesperado. “A
enfermagem recebe uma notificação e consegue conversar com o idoso antes mesmo
de prestar os cuidados necessários. A equipe consegue fazer um descritivo do
evento e o sistema já manda um relatório para a família, indicando como está o
idoso no momento”, afirma Matos.

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