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Vacinas - Coronavac
Médico mineiro explica por que deixou questões políticas de lado para tomar voluntariamente a tal vacina chinesa.| Foto: Divulgação/Instituto Butantan

O médico mineiro não pode revelar seu nome antes que o teste duplo-cego seja concluído. Mas ele não esconde o orgulho de ter se voluntariado e participado do desenvolvimento da controversa Coronavac, também conhecida como “vacina do Butantan” ou “vachina”.

O desejo de fazer parte desse processo surgiu assim que apareceram as primeiras notícias de que a indústria farmacêutica tentava criar uma vacina que pusesse fim ao flagelo da Covid-19. “Queria ser voluntário, mas não sabia como. Até que um colega meu descobriu e me passou as informações. Preenchi um formulário pela Internet e entraram em contato comigo”, conta ele. Um dos requisitos para poder ser voluntário era estar exposto ao vírus.

O médico, que trabalha num dos mais renomados hospitais da capital mineira, estava em contato direto com doentes. Em agosto, quando começou a demonstrar interesse em ser voluntário, nenhuma análise política passou pela mente dele. “Não tive preconceito nenhum com o fato de a vacina ser chinesa. Nem a escolhi por causa disso. Foi simplesmente a primeira que apareceu”, diz.

Uma vez aprovado como voluntário, coube a ele contar para a família. Diante do desconhecido, talvez houvesse alguma reação de medo. Mas não. “Na hora, minha mulher ficou animada. Mas ela ficou feliz mesmo depois que soubemos que eu tinha tomado a vacina e estava imunizado”.

Consultórios em containers

No dia 11 de setembro, lá foi ele até um posto de saúde na periferia de Belo Horizonte para a primeira dose da vacina. “Era um lugar improvisado, com consultórios em containers”, descreve. O estudo, chamado Profiscov, foi realizado por meio de um convênio da UFMG com o Instituto Butantan, de São Paulo.

Antes de tomar a primeira dose, ele conta que assinou um termo de consentimento, o que é praxe nesse tipo de estudo. Depois, passou por uma avaliação e teve seu sangue colhido para que os pesquisadores pudessem se certificar de que ele não tinha sido infectado pela Covid-19.

Uma vez tomada a vacina, só lhe cabia esperar.

Ao contar aos colegas médicos que estava participando dos testes da Coronavac, o voluntário diz ter ficado surpreso com a reação de alguns. “Nenhum dos meus colegas era antivacina, mas alguns desses, os politicamente mais engajados, me disseram que desconfiavam da vacina chinesa”, diz.

Duas semanas mais tarde, no dia 25 de setembro, lá estava ele de novo para tomar a segunda dose. “É tudo muito organizado, mas também é cansativo. Porque você tem que passar a tarde inteira lá, sendo avaliado. Cheguei até a me arrepender um dia, porque estava perdendo uma tarde inteira de trabalho”, conta o voluntário, revelando um conflito comum entre o impulso altruísta e o autointeresse.

Medo da agulha

Rindo da pergunta um tanto quanto ridícula, o voluntário disse que não sentiu nenhuma dor nem teve qualquer efeito adverso. Tampouco teve medo da agulha. Tanto é assim que, durante algum tempo, ele achou que tivesse tomado o placebo. “Mas, depois de conversar com meus colegas voluntários, vi que ninguém teve efeito colateral. Daí decidi fazer um exame por conta própria, a fim de saber se eu tinha tomado a vacina”, conta. O exame que detecta anticorpos IgG, associados a uma infecção por Covid-19, funcionou como um spoiler. E hoje ele sabe que está imunizado.

Sobre o que o levou a se voluntariar para o estudo, o médico explica que foi, em primeiro lugar, um altruísmo inerente à medicina. “É interessante como a pandemia mudou a cabeça da classe médica. Alguns de nós voltamos a ter aquela relação com a medicina que vai se perdendo depois da faculdade, aquela paixão. A pandemia nos deixou muito humildes e eu pensei que queria ajudar de alguma forma”, afirma.

Mas não foi só o altruísmo recuperado dos seus anos de estudante universitário o que o levou a se voluntariar. Havia ainda o autointeresse – para usar um termo muito caro a Ludwig von Mises. “Também pensei que, se eu recebesse a vacina [e não o placebo], já estaria imunizado. Quero dizer. Se tivesse tomado o placebo, tudo bem. Tinha ajudado de alguma forma também”, diz.

O voluntário conta que o estudo não foi encerrado. “No sábado (9), me submeti a mais uma coleta de sangue. Os voluntários devem ser acompanhados ainda por muito tempo”. Importante ressaltar ainda que os voluntários que tomaram o placebo terão prioridade na hora da vacinação.

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