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As ideias perigosas de Yuval Harari, o autor favorito da elite global

Yuval Harari participou de painel com Luciano Huck em novembro deste ano.
Yuval Harari participou de painel com Luciano Huck em novembro deste ano. (Foto: Dantas Jr/Fronteiras do Pensamento)

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Poucos autores são tão celebrados pela elite global quanto Yuval Harari.

O cientista político israelense, doutor em História pela Universidade de Oxford, viaja o mundo participando de conferências com as pessoas mais poderosas do planeta.

O best-seller Sapiens, obra mais conhecida de Harari, ganhou o endosso de Bill Gates na capa. O autor já participou de debates com algumas das mentes mais importantes do mundo — incluindo Mark Zuckerberg, criador do Facebook, e Klaus Schwab, o fundador do Fórum Econômico Mundial.

Em novembro, ex-ministro Luís Roberto Barroso posou, sorridente, ao lado do Harari, que estava em visita ao Brasil e também participou de uma conversa com Luciano Huck durante um evento do Fronteiras do Pensamento.

Barroso não escondeu o entusiasmo.

"Saí do meu auto-recolhimento desses dias para um encontro com um dos grandes intelectuais globais da atualidade, Yuval Noah Harari", ele escreveu em seu perfil no Instagram, poucos dias após ter deixado o cargo de ministro do STF.

Na publicação, Barroso recomenda os livros de Harari — inclusive Sapiens, lançado em 2011 em hebreu e em 2014 em inglês. A obra vendeu mais de 25 milhões de cópias e foi traduzida para 65 idiomas.

Mas a verdade é que as ideias de Harari são perigosas. E é ainda mais perigoso perceber que figuras como Gates, Schwab e Barroso as levam a sério.

Direitos humanos não existem

O ponto de partida de Harari é o materialismo evolucionista. Ou seja: a premissa de que não existe Deus, e o processo de seleção natural é a única forma de compreender o mundo.

Para o autor israelense, muitas coisas que os seres humanos acreditam ser reais na verdade são fruto da imaginação coletiva. Entre eles, países, o dinheiro e — aqui entra a parte mais perigosa — os direitos naturais.

Autores como John Locke, além de toda a tradição cristã, afirmam que cada ser humano tem direitos inerentes, naturais, apenas por existir. A ideia de direitos humanos vem exatamente disso.

Harari, entretanto, afirma que esses direitos são fictícios. Uma ficção conveniente, mas ainda assim uma ficção.

“Nenhuma dessas coisas existe fora das histórias que as pessoas inventam e contam umas às outras. Não há deuses no universo, nem nações, nem dinheiro, nem direitos humanos, nem leis, nem justiça fora da imaginação coletiva dos seres humanos”, ele escreve, em Sapiens.

Depois de apresentar seu argumento destrutivo, ele tenta manter as coisas no lugar: diz que esses exercícios de imaginação coletiva são importantes e que, mesmo que a elite saiba da realidade por trás das aparências, as massas devem continuar acreditando nelas.

Para isso, ele cita uma frase do pensador francês Voltaire: “Deus não existe, mas não

conte isso ao meu servo, para que ele não me mate durante a noite”.

Harari apresenta sua própria versão: “O Homo sapiens não tem direitos naturais, assim como

aranhas, hienas e chimpanzés não têm direitos naturais. Mas não conte isso aos

nossos servos, para que eles não nos matem durante a noite”.

Harari, que costuma dar entrevistas e palestras demonstrando preocupação com o futuro da democracia, no fim das contas acredita que a democracia é uma ficção sustentada apenas por objetivos utilitaristas. Em outras palavras, ele pede que as pessoas acreditem em uma mentira porque a mentira é útil.

“Acreditamos em uma ordem em particular não porque seja objetivamente verdadeira, mas porque acreditar nela nos permite cooperar de maneira eficaz e construir uma sociedade melhor”, afirma Harari.

O que ele não explica é o sentido de “melhor” neste contexto. Se “bom” e “mau” não têm um significado objetivo, não faz sentido defender uma “sociedade melhor”.

Tudo é natural?

Um segundo aspecto problemático de Sapiens é a rejeição completa do conceito de natureza humana, que tem sido objeto de filósofos pelo menos desde Platão. Na visão de Harari, o termo “natural” não tem caráter normativo. Simplesmente não existe uma natureza humana que possa ser usada como régua para distinguir entre comportamentos louváveis e condenáveis.

“Tudo o que é possível é, por definição, também natural. Um comportamento verdadeiramente não natural, que vá contra as leis da natureza, simplesmente não teria como existir”, ele escreve.

Harari utiliza isso para afirmar, por exemplo, que não faz sentido tratar certos comportamentos sexuais como “anti-naturais”. A distinção entre “natural” e “anti-natural”, diz ele, vem da teologia cristã, não da biologia. 

Mas se natural é simplesmente qualquer coisa que exista alguma vez na natureza, as maiores atrocidades precisam ser tratadas como naturais — inclusive o estupro e o infanticídio. Harari não percebe, ou finge não perceber, as consequências das próprias ideias.

A filosofia de Harari não tem espaço para uma moralidade real. Apenas a imaginária, que ele na visão do autor não passa de uma ficção conveniente.

Não está claro se Barroso se inspirou no autor que ele julga “um dos grandes intelectuais globais da atualidade”. Mas, se este for o caso, fica mais fácil entender algumas das decisões tomadas pelo ministro do STF.

Não conte isso aos servos.

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