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ONG progressista

Fundador de página de checagem tem cargo no governo Lula e financiamento de Soros

Alexandre Brasil Fonseca ao lado de Lula: fundador de ong e diretor no MEC
Alexandre Brasil Fonseca ao lado de Lula: fundador de ong e diretor no MEC (Foto: Reprodução/Instagram)

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Não que o Brasil precisasse urgentemente de mais uma plataforma de checagem de fatos, mas os fundadores de um grupo que se classifica como “progressista” e “cristão” resolveram lançar a sua própria ferramenta mesmo assim. Agora sustentado por recursos da Open Society Foundations, o Coletivo Bereia acaba alimentando o mal que prometia combater.

O Bereia recebeu esse nome em referência a uma cidade citada no Novo Testamento, elogiada pelo apóstolo Paulo como um lugar onde os cristãos se empenharam na busca pela verdade.

A ONG se define como “uma iniciativa sem fins lucrativos, criada por um grupo de pesquisadoras/es, jornalistas, profissionais de áreas das ciências humanas e sociais e organizações dedicados à defesa do direito humano à comunicação, à informação e à liberdade de expressão e ao enfrentamento da desinformação, especificamente em espaços digitais religiosos.”

A organização nasceu em 2019 e é um produto do Instituto NUTES da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). A sigla originalmente se referia ao Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde. Hoje, o coletivo não está afiliado à universidade.

O alvo preferencial do Bereia, cujo fundador tem um cargo de diretoria no governo Lula, são figuras conservadoras. O Bereia promete “enfrentar a desinformação que circula em ambientes digitais religiosos”. Mas não é difícil encontrar casos em que a organização divulgou informações incorretas.

Desmentido impreciso

Neste mês, a página de checagem afirmou que o ministro do STF André Mendonça repetiu uma “falsidade que culpa o governo Lula pelo 8 de janeiro”.

Mas Mendonça não culpou o governo Lula pela invasão dos prédios da Praça dos Três Poderes. Ele apenas questionou o porquê de o governo não ter acionado a Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) para proteger o Palácio do Planalto quando ficou claro que a Polícia Militar não seria capaz de evitar a tomada do prédio.

Ex-ministro da Justiça, Mendonça lembrou que, durante manifestações na Esplanada dos Ministérios, havia uma equipe da Força Nacional à disposição para agir caso fosse necessário. "Eu não consigo entender, e também carece de resposta, como o Palácio do Planalto foi invadido da forma como foi invadido", afirmou o ministro.

A publicação do Bereia afirma que Mendonça mentiu porque a Força Nacional precisa ser acionada pelos governadores. Mas, no fim das contas, o próprio Bereia admite que o governo federal tem, sim, o poder de convocar a Força Nacional: “o Ministério da Justiça pode acionar a FNSP para proteger prédios públicos federais sem necessidade de autorização prévia de governos estaduais ou municipais, entretanto, apenas em situações excepcionais, e depende de autorização do presidente da República.”

Essas exceções — como mostra a própria publicação da ONG – incluem "emergências de segurança pública, quando houver riscos ou situações excepcionais que demandem reforço ao trabalho das polícias locais, como grandes eventos ou crises específicas de segurança" e "grave perturbação da ordem pública, quando houver necessidade de restaurar ou preservar a ordem pública em situações que ultrapassem a capacidade das forças de segurança locais".

Ou seja: a fala de Mendonça não culpou o governo, e tampouco se baseia em uma falsidade.

Credibilidade aos números do Hamas

Em um vídeo publicado no Instagram há três semanas, o Coletivo Bereia afirmou que Israel “matou 43 mil pessoas” desde 7 de outubro de 2023. O número não é questionado, nem atribuído a alguma fonte específica. É apenas apresentado como um fato.

“Após matar mais de 43 mil pessoas sob a justificativa de enfrentar o Hamas e o Hezbollah, o Estado de Israel tem sido acusado pela comunidade internacional de promover uma política de morte e de genocídio contra o povo palestino", diz o representante da ONG no vídeo , insinuando que o combate aos grupos terroristas é um mero pretexto.

Mas os dados são duvidosos porque vieram do Ministério da Saúde de Gaza, sob controle do Hamas.

Um relatório publicado neste mês pela Henry Jackson Society, um centro de pesquisa com sede no Reino Unido, mostrou inconsistências nesses números. Segundo o levantamento, o Ministério da Saúde de Gaza manipulou os números para colocar a opinião pública contra Israel. As inconsistências incluem homens registrados como mulheres, adultos registrados como crianças e pacientes que tiveram morte natural.

O Bereia dá mais credibilidade ao Hamas do que ao governo de Israel, eleito democraticamente em um país com liberdade de expressão.

Esse parece ser o padrão do Bereia: embora se apresente como cristã, a organização prioriza a agenda ideológica da esquerda. 

A entidade atua pela legalização do aborto e diz que não se deve empregar o termo "cristofobia" porque ele é "utilizado como estratégia retórica por políticos para reafirmar a supremacia da maioria cristã e justificar a perseguição contra as minorias sociais".

A publicação também faz checagens difíceis de entender. Por exemplo: quando a senadora Damares Alves afirmou ter investido R$ 3,6 milhões em uma obra no Distrito Federal, o Bereia a desmentiu, alertando que o texto “pode levar seguidores a acreditar que o valor é um investimento pessoal”, já que “apenas no final da legenda Damares esclarece que o montante é oriundo de uma emenda parlamentar individual.”

Não há qualquer checagem semelhante envolvendo anúncios de investimento por parte do governo Lula para explicar que, na verdade, os recursos não sairão do bolso do presidente.

Audiência nula, mas dinheiro na conta

O Coletivo Bereia tem um público reduzido na internet. O perfil da organização tem menos de 6 mil seguidores no Instagram. No X, são 3,4 mil. No YouTube, menos de 500. Somados, os últimos quatro vídeos da organização na plataforma tiveram 129 visualizações.

Mas a influência do Bereia se dá de outra forma. O grupo fez parte do Projeto Comprova, que reuniu agências de checagem e já foi endossado pelo Supremo Tribunal Federal como uma ferramenta de combate à desinformação.

A entidade também é

membro fundador da Rede Nacional de Combate à Desinformação (RNCD), que reúne
quase 200 coletivos, iniciativas desenvolvidas dentro de universidades, agências, redes de
comunicação, revistas, projetos sociais, projetos de comunicação educativa para a mídia e
redes sociais, aplicativos de monitoramento de desinformação, observatórios, projetos de fact
checking, projetos de pesquisa, instituições científicas, revistas científicas, dentre outros, para
o enfrentamento da desinformação.
Bereia já realizou parcerias específicas em atividades de checagem e educativas com o Projeto
Comprova, o projeto Coronavírus em Xeque (Universidade Federal de Pernambuco), a Rede
Signis de Rádio, a Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito-MG e o Laboratório de
Antropologia da Religião (Universidade de Campinas).

O Bereia não precisa de audiência para sobreviver e manter uma equipe de 13 pessoas (remuneradas). O dinheiro vem, em grande parte, da Open Society, do megainvestidor George Soros. 

A organização de Soros, que financia causas de esquerda e progressistas mundo afora, financiou as atividades de checagem do Bereia no biênio 2023-2024.

O repasse foi feito por meio do ISER (Instituto de Estudos da Religião), com sede no Rio de Janeiro. Em 2023, a entidade obteve US$ 530 mil dólares (aproximadamente com R$ 3,2 milhões no câmbio atual) da Open Society com a justificativa de financiar "a checagem de fatos", além de "um centro teológico" e de atividades de "pesquisa".

O Bereia também afirma ser financiado pelo obscuro Instituto Incube — que, como revelou a Gazeta do Povo, é um dos maiores beneficiados pela Open Society no Brasil e tem o seu presidente investigado por desvio de recursos.

Fundador lulista 

O fundador do Bereia, o sociólogo carioca Alexandre Brasil Fonseca, fez carreira como ativista de esquerda, professor universitário e ocupante de cargos comissionados em governos do PT.

Já em 1995, ele aparecia nas páginas do Jornal do Brasil como um integrante de uma "ONG da esquerda evangélica", a Koinonia. 

Além de fazer campanha para o PT e frequentar congressos do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) — atividades registradas por ele mesmo em sua página no Instagram —, Alexandre participou de gestões petistas em Brasília.

No governo de Dilma Rousseff, ele trabalhou na Secretaria Geral da Presidência da República. No terceiro mandato de Lula, ele foi nomeado Diretor de Políticas e Programas de Educação Superior no Ministério da Educação.

A resposta do Bereia

Procurado pela Gazeta do Povo, o Coletivo Bereia afirmou não se considera uma organização de esquerda, e que tampouco a participação de Alexandre Brasil Duarte nos governos petistas afeta a isenção da ONG.

Ainda segundo a organização, os recursos recebidos do Brasil e do exterior "são resultantes de parcerias e do apoio de agências que atuam na defesa de direitos humanos (entre eles o da informação)". De acordo com o Bereia, "todos os aportes são
empregados na infraestrutura, na manutenção e melhoria dos serviços", "voltados
sempre ao enfrentamento da desinformação".

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