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Cancelaram o apocalipse: o pânico climático perde força até entre a esquerda

Bill Gates, um dos principais financiadores de projetos ambientais, agora critica o que chama de “visão apocalíptica” sobre a mudança climática
Bill Gates, um dos principais financiadores de projetos ambientais, agora critica o que chama de “visão apocalíptica” sobre a mudança climática (Foto: EFE/EPA/Olivier Matthys)

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Estaria a esquerda americana finalmente despertando de seu longo torpor marcado pelo catastrofismo climático?

Durante anos, o alarmismo ambiental funcionou como um verdadeiro catecismo político: o planeta estaria em combustão e apenas ações drásticas — desindustrialização, regulamentações rígidas e até a escolha de não ter filhos — poderiam evitar um colapso iminente.

Agora, contudo, começam a surgir sinais de que tanto o público em geral quanto vozes progressistas influentes vêm recuando desse cenário de espanto e pessimismo permanente.

Pesquisas recentes ajudam a ilustrar essa mudança.

Um relatório de julho do Programa de Comunicação sobre Mudanças Climáticas da Universidade de Yale mostra que, embora a maioria dos americanos (69%) ainda acredite que o aquecimento global está ocorrendo, apenas 60% consideram que ele é “majoritariamente causado pelo homem”. Cerca de 28% atribuem o fenômeno a variações naturais do meio ambiente.

Um estudo semelhante, publicado em outubro pelo Instituto de Política Energética da Universidade de Chicago, identificou que a “crença na mudança climática provocada por ações humanas diminuiu de forma consistente” desde 2017. Curiosamente, essa queda foi observada sobretudo entre democratas e eleitores independentes — e não entre republicanos.

Contra mundaças radicais

A disposição da população para aceitar sacrifícios pessoais em nome de políticas climáticas também parece enfraquecer.

Uma pesquisa anterior, do Pew Research Center (instituto americano de estudos sociais e estatísticos), realizada em outubro de 2024, mostrou que apenas 45% dos entrevistados consideravam que a atividade humana contribui “em grande medida” para a mudança climática. Outros 29% acreditavam que ela contribui “um pouco”, enquanto um quarto dos americanos afirmava que a influência humana seria mínima ou nula.

O pânico moral está, aos poucos, perdendo força. Milhões de americanos continuam a considerar que o aquecimento global é real, mas cada vez menos o enxergam como uma ameaça existencial imediata — e ainda menos aceitam mudanças radicais na política energética ou em seus estilos de vida.

Até tu, Gates?

Esse declínio no consenso entre cidadãos coincide com um sinal ainda mais marcante vindo das elites globais.

Em 28 de outubro, ninguém menos que Bill Gates — por anos um dos mais visíveis defensores do combate às mudanças climáticas — publicou um texto surpreendente em seu blog, direcionado aos líderes presentes na COP30, a conferência anual da ONU sobre clima.

No texto, Gates criticou duramente o que chamou de “visão apocalíptica da mudança climática”, afirmando que tal perspectiva está simplesmente “errada”.

Embora reconheça riscos relevantes para países mais pobres, Gates argumentou que a humanidade continuará a “viver e prosperar na maioria dos lugares da Terra num futuro próximo”. Acrescentou ainda que “usar mais energia é algo positivo, porque está intimamente ligado ao crescimento econômico”.

Para muitos, essa mudança de tom soou como um verdadeiro choque.

Dados inconsistentes

Outro abalo importante para o catastrofismo climático veio com a retratação formal, em 2024, de um estudo de grande repercussão publicado na revista Nature, uma das mais prestigiosas do mundo acadêmico.

O estudo previa um declínio dramático — de 62% — na produção econômica global até 2100 caso as emissões de carbono não diminuíssem de forma significativa. O trabalho havia sido amplamente utilizado por organismos multilaterais e por ativistas progressistas como justificativa para políticas de descarbonização agressiva.

Entretanto, após uma revisão, descobriu-se que dados inconsistentes haviam inflado o resultado. Sem esses dados, o impacto projetado cairia para cerca de 23%.

O começo do fim (de uma era)

A engrenagem do alarmismo climático — movida por uma combinação de pânico moral e homogeneidade de pensamento — começa a falhar.

Quando a opinião pública se torna mais cética, bilionários ligados à filantropia tecnológica questionam consensos estabelecidos e projeções científicas antes tidas como indiscutíveis são revistas, é um sinal de que a era inaugurada por Uma Verdade Inconveniente, o célebre documentário de Al Gore, e pelas viagens diplomáticas de John Kerry como “enviado presidencial especial para o clima”, pode estar chegando ao fim.

No fim das contas, ninguém deve se beneficiar mais desse movimento inicial rumo a uma visão mais pragmática sobre o clima do que o próprio povo americano. Em tempos em que o otimismo se tornou um bem escasso, a promessa insistente de um apocalipse ambiental iminente não ajuda em nada.

Pior: reforça a noção de que qualquer pessoa que viaje de avião com a família ou — que horror! — deseje ter mais filhos seria uma “negacionista” do clima. E num momento em que os americanos estão sobretudo preocupados com o custo de vida e com a acessibilidade da energia, políticas que incentivem mais, e não menos, produção de hidrocarbonetos ganham força renovada.

Há sinais de que os progressistas e as elites acadêmicas podem estar, lentamente — e talvez a contragosto — abandonando o catastrofismo climático que abraçaram por tanto tempo. No sistema bipartidário dos EUA, isso talvez retire dos republicanos uma pauta eleitoral poderosa contra democratas considerados desconectados da realidade e obcecados pela agenda climática.

Mas, em nome da boa governança, da formulação de políticas públicas sólidas e da prosperidade do cidadão médio, essa mudança de rumo talvez seja a melhor notícia da última década.

©2025 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês: The Welcome Demise of Climate Change Catastrophism

Conteúdo editado por: Omar Godoy

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