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"Faça do seu jeito" não é mais um slogan restrito a redes de fast-food que vendem hambúrgueres.
Agora, aplica-se também aos bebês.
A Orchid, empresa que se apresenta como a detentora da tecnologia de "rastreio de genoma completo mais avançado do mundo para embriões durante a fertilização in vitro", foi tema de reportagem recente no New York Times sob o título "Este bebê foi cuidadosamente selecionado como embrião".
Segundo a jornalista Anna Louie Sussman, a Orchid "analisa o DNA dos embriões em busca de centenas de condições" e oferece ainda o chamado rastreamento poligênico — uma tecnologia que fornece aos pais um perfil de risco para cada embrião em relação a doenças como cardiopatias.
Os pais que optam pelo serviço recebem uma análise detalhada dos riscos de seus embriões desenvolverem diversas condições de saúde, entre elas (mas não somente) autismo, obesidade grave, Alzheimer, doenças inflamatórias intestinais, esquizofrenia, diabetes e câncer de mama.
Em um vídeo de 2024, a fundadora da Orchid, Noor Siddiqui, compara o rastreamento de dois de seus 16 embriões. O embrião 2 e o embrião 3, explica Siddiqui, são ambos "cromossomicamente normais". No entanto, o embrião 3 apresenta um risco elevado de câncer de mama, enquanto o embrião 2 possui maior propensão à doença celíaca.
Ainda não se sabe qual dos dois terá a oportunidade de se desenvolver.
Bem-vindos ao nosso admirável mundo novo.
“A última coisa que eu gostaria é: ‘Sabíamos que essa doença genética existia, mas... bem... eu simplesmente não me preocupei em ver se isso afetaria meu futuro filho’”, diz Siddiqui, com sinceridade, no vídeo.
“Acho que, basicamente, sexo é para diversão e rastreamento de embriões é para fazer bebês”, acrescenta. “Acredito que, em breve, será impensável não realizar esse tipo de rastreamento.”
Insano?
O lado sombrio da Orchid é que, ao fazer o rastreamento embrionário, você já está lidando com um ser humano.
Não acredite apenas em mim. Veja o exemplo de Leah Culver, mãe de Japhy, o primeiro bebê nascido após rastreamento pela Orchid. No vídeo, Culver mostra ao filho, então com três meses de idade, uma foto dele ainda em estágio embrionário.
"É você, querido", murmura ela. "É você quando tinha, tipo, cinco células... cinco dias de vida."
O sortudo Japhy: seus riscos genéticos não foram altos o suficiente para condená-lo a permanecer indefinidamente congelado, sem jamais ter a chance de crescer e se desenvolver, por medo de eventuais problemas como obesidade ou distúrbios digestivos.
A Orchid não está sozinha nesse mercado. Uma concorrente, a Genome Prediction, oferece serviços semelhantes, permitindo que os pais avaliem o risco de seus embriões desenvolverem doenças como asma e melanoma (um tipo de câncer de pele).
É compreensível que os pais, idealmente, queiram filhos saudáveis. Ninguém deseja ver seus filhos sofrerem.
Siddiqui cita a doença de sua mãe — retinite pigmentosa, uma condição que causa cegueira — como inspiração para fundar a Orchid. Sem dúvida, a experiência de sua mãe foi dolorosa.
Mas será que sua mãe teria preferido jamais nascer a viver com a cegueira?
E, afinal, o objetivo dos pais deveria ser garantir que seus filhos sofram o mínimo possível?
É evidente que ninguém deve buscar o sofrimento para seus filhos. Contudo, o sofrimento pode ser essencial para a formação de certos tipos de grandes almas. Essa visão não é popular em nossa cultura hedonista — nem fácil de aceitar. Ainda assim, embora devamos rejeitar a imposição deliberada de sofrimento, também deveríamos hesitar em afirmar que a vida só vale a pena se for isenta de dor.
Além disso, essas empresas não podem oferecer garantias.
Mesmo que os pais escolham o embrião de menor risco, isso não significa controle total. Nada assegura que a criança não perderá um ente querido em um acidente ou que não enfrentará períodos de turbulência política ou violência. Tampouco há garantia de que ela não acordará, no meio da madrugada, tomada por um pesadelo ou por uma sensação inexplicável de angústia.
Outra possibilidade preocupante é o uso desse tipo de rastreamento para além da saúde.
Considere o caso de Malcolm e Simone Collins, defensores públicos de famílias numerosas. O casal produziu mais de 40 embriões, alguns dos quais foram rastreados.
Relatando sua experiência, Anna Louie Sussman menciona que Simone Collins afirma que, "anedoticamente, o poder preditivo dos testes para características comportamentais — uma das métricas que orientaram a escolha dos dois embriões que se tornaram suas filhas — parece ser forte".
“Os Collins disseram que buscavam filhas ‘pouco estressantes’, e, no fim das contas, segundo a Sra. Collins, ‘nossas duas filhas são extremamente tranquilas e brilhantes’”, escreve Sussman.
Que maravilha.
Não é isso que a paternidade deveria ser? Escolher a criança que melhor se encaixa em suas preferências e descartar o restante?
Por que a paternidade deveria envolver o desafio de criar filhos com personalidades distintas das dos pais?
Se personalidades específicas são desejáveis, por que não simplesmente selecionar crianças sob medida, como quem escolhe casas, carros ou locais para casamento?
É fácil prever como essa tecnologia pode fomentar uma cultura na qual os filhos se tornam apenas mais uma extensão das preferências pessoais dos pais, como se fossem objetos de consumo.
Isso contrasta fortemente com a visão judaico-cristã, que considera os filhos como bênçãos divinas — dons recebidos, não produtos customizados para atender às nossas expectativas.
O rastreamento embrionário também ilustra uma perspectiva sombria sobre o futuro tecnológico da humanidade. Avançamos imensamente na medicina no último século. Quem pode afirmar que não haverá tratamentos ou curas para condições como câncer de mama ou Alzheimer quando essas crianças atingirem a idade de risco?
Somos melhores do que isso — ou deveríamos ser.
Todos os embriões, todas as crianças, merecem amor e a oportunidade de crescer, independentemente do risco de obesidade, esquizofrenia, câncer ou doenças digestivas. Essa afirmação não deveria ser polêmica. Mas, em nossos tempos sombrios, parece que é.
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©2025 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês: Should Parents Discard Embryos at High Risk for Becoming Fat?





