Na reunião de 1996 da Sociedade Internacional de AIDS em Vancouver, um grupo de pesquisadores apresentou os resultados de um estudo muito aguardado. Os cientistas testaram o AZT, o primeiro medicamento aprovado para combater o vírus da imunodeficiência humana (HIV), em combinação com dois medicamentos antivirais mais recentes. O HIV é uma infecção particularmente traiçoeira. Quando o AZT ou outros medicamentos antivirais eram administrados individualmente, o vírus logo encontrava uma maneira de escapar. Mas quando os três medicamentos foram prescritos juntos, algo quase milagroso aconteceu: a terapia combinada suprimiu o HIV a níveis indetectáveis, mesmo em pacientes com AIDS avançada. E o vírus não voltou.
Anthony Fauci estava sentado na plateia naquele dia. O médico nascido no Brooklyn havia ingressado nos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês) como pesquisador em 1968 e começou a se concentrar na AIDS em 1981, logo após a nova e desconcertante doença surgir entre homens gays em Nova York e Califórnia. Em 1984, quando Fauci foi nomeado diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID, uma divisão dos NIH), ele fez do desenvolvimento de medicamentos eficazes contra o HIV um dos principais objetivos da agência. Foi “uma busca longa, tortuosa e gradativa”, escreve Fauci em sua nova autobiografia, On Call: A Doctor’s Journey in Public Service ("De plantão: a jornada de um médico no serviço público", em trad. livre). Doze anos depois, “a AIDS não era mais uma pena de morte inevitável”, ele escreve.
Em retrospecto, aquele teria sido um bom momento para Fauci se aposentar de seu cargo federal. Se ele tivesse escolhido aquele momento para voltar à prática privada ou ingressar em uma escola de medicina de renome, hoje seria lembrado como um dos maiores líderes de saúde pública do século XX. As terapias contra o HIV que ele defendeu controlaram a epidemia de AIDS e salvaram dezenas de milhões de vidas em todo o mundo. Mas Fauci permaneceu em seu papel no NIAID por quase três décadas. Durante esse tempo, ele teria mais sucessos, incluindo o combate a ameaças emergentes como Ebola e Zika. Mas também acumulou mais poder institucional, presidindo vastos orçamentos de pesquisa e tornando-se cada vez mais isolado de opiniões divergentes ou críticas.
Fauci finalmente se aposentou aos 83 anos em janeiro de 2023, após cinco décadas nos NIH. Deve ter parecido um momento propício para escrever suas memórias e fazer uma procissão de despedida. A imprensa celebrou amplamente Fauci por sua liderança durante a pandemia de Covid-19. No livro, ele escreve que suas constantes aparições na mídia sobre a Covid — junto com suas bem divulgadas diferenças com o presidente Donald Trump — o transformaram “em um herói instantâneo para milhões de americanos que me viam como um médico bravamente defendendo a ciência, a verdade e a tomada de decisões racionais”. Em suma, Fauci tornou-se algo como um santo secular, pelo menos em círculos progressistas. Sua imagem logo se juntaria às de George Washington, Thomas Edison e Martin Luther King na National Portrait Gallery (Galeria Nacional de Retratos de pessoas notáveis americanas). E bonecos bobblehead (aqueles que balançam a cabeça) e colecionáveis de Fauci estavam disponíveis em lojas de presentes requintadas em toda parte.
Claro, os conservadores ainda vilificavam Fauci como o arquiteto dos lockdowns da Covid. Alguns jornalistas e cientistas continuaram investigando as conexões entre sua agência e pesquisas perigosas de ganho de função no Instituto de Virologia de Wuhan (China), onde muitos acreditam que a pandemia teve início. E o inimigo de Fauci no Capitólio, o senador do Kentucky Rand Paul, prometeu continuar realizando audiências investigando os erros e supostos acobertamentos dos últimos anos de Fauci como czar da saúde pública. Mas essas investigações pareciam destinadas a desaparecer, junto com a pandemia, permitindo ao ex-chefe do NIAID desfrutar da sombra e água fresca da aposentadoria. Fauci tinha todas as razões para pensar que sua autobiografia seria recebida com elogios gratos. E isso tem sido em grande parte o caso. (“Fauci mereceu sua corrida da vitória”, escreveu o New York Times.)
Leitores mais céticos, como eu, perceberão que as memórias de Fauci passam por cima dos aspectos mais sombrios de seu legado na Covid. Durante os 18 meses desde que deixou o NIAID, uma série de divulgações públicas devastadoras deixou claro como Fauci e outros altos funcionários da saúde enganaram o público, distorceram descobertas científicas, evitaram investigações legítimas e esconderam evidências importantes sobre a possível origem da Covid. Graças à investigação incansável de legisladores, pedidos de Lei de Acesso à Informação de jornalistas e pesquisadores, e estudos de cientistas céticos, a visão crítica do legado de Fauci na Covid ganhou tanto peso quanto detalhes granulares desde que ele deixou o governo e começou a trabalhar neste volume. Chame isso de má sorte.
Uma autobiografia que lidasse honestamente com as críticas legítimas à sua liderança na Covid teria sido uma leitura fascinante. Mas Fauci não escreveu esse livro. Em vez disso, às vezes ele parece estar reescrevendo sutilmente o passado para colocar a si mesmo e sua agência sob a melhor luz. Em outros pontos, ele se baseia em pesquisas duvidosas ou desacreditadas para defender suas políticas e declarações. Em relação às acusações mais sérias contra ele, Fauci opta por não dizer nada.
No entanto, para um leitor que conhece os bastidores, a autobiografia toma a forma de uma tragédia épica: como o jovem pioneiro Fauci, que lutou tão heroicamente contra a AIDS, se transformou no velho Fauci imperioso, que usou seu poder e influência para suprimir o debate científico, desacreditar cientistas céticos e implementar políticas restritivas para as quais havia pouca justificativa científica? Para os estudantes de políticas públicas, o livro levanta uma questão relacionada: como evitar que servidores públicos brilhantes e dedicados como Fauci se transformem em conspiradores maquiavélicos?
Da empatia radical à refutação devastadora
A vida de Fauci é o tipo de história de sucesso americana que adoramos — pelo menos até o ato final. Filho de imigrantes italianos (seu pai era dono de uma farmácia em Bensonhurst, área do Brooklyn, em Nova York), o jovem Anthony conciliava esportes e estudos, se destacando em ambos. Mas quando sua altura atingiu o pico de 1,70 m, o adolescente Fauci percebeu que o cérebro, e não a força, seria a chave para o sucesso. Embora o livro ofereça apenas esboços rápidos de seu caminho brilhante pela faculdade e pela escola de medicina, sua paixão tanto pelos pacientes quanto pela pesquisa científica transparece.
A narrativa de Fauci ganha vida quando ele começa a ver relatos de uma nova e misteriosa doença que parecia desmantelar o sistema imunológico humano — e que atingia homens gays. Já especialista em imunologia nos NIH, Fauci decidiu se especializar na condição desconcertante que se tornaria conhecida como AIDS. Aqui estava um mistério — e uma tragédia humana — digno de seus talentos. Depois de se tornar diretor do NIAID, Fauci também revelou seu gênio para trabalhar na máquina do governo. Hoje, o governo Reagan tem uma reputação exagerada por “ignorar” a AIDS, mas Fauci descreve como convenceu o poder executivo e o Congresso a dobrar o orçamento do NIAID para pesquisa de AIDS em 1986. (Ele também escreve com carinho sobre sua amizade com o cirurgião-geral de Reagan, C. Everett Koop, que costumava passar pelo escritório do diretor do NIAID à noite para “aprender tudo o que podia” sobre HIV/AIDS.)
Fauci, que acabaria servindo sob sete presidentes, transmite uma lição importante que aprendeu ao trabalhar com o Congresso e a Casa Branca: você não pode parecer estar “motivado por interesse próprio”, ele escreve. É “crucial ser verdadeiro e consistente ao fornecer informações baseadas puramente em evidências científicas e no melhor julgamento, e nada mais.” (Esta é uma lição que ele evidentemente esqueceu na época da Covid.) A astúcia política de Fauci rendeu dividendos. Ao longo de sua longa gestão no NIAID, o orçamento da agência aumentaria quase vinte vezes.
Em uma prévia do papel que desempenharia durante a pandemia de Covid quatro décadas depois, Fauci rapidamente se tornou o funcionário público mais visível a falar sobre a crise da AIDS. Mas, em vez de creditar ao chefe do NIAID o aumento do foco do governo na doença, os ativistas gays o culparam pela falta de bons tratamentos e pela morte de seus amigos. O dramaturgo Larry Kramer, que fundou tanto a organização Gay Men’s Health Crisis ("Crise de Saúde dos Homens Gays") quanto a mais belicosa ACT UP ("Aja" ou "Resista", em trad. livre), o criticava constantemente. Um artigo de Kramer tinha o título “Eu os chamo de assassinos: uma carta aberta para um idiota incompetente, dr. Anthony Fauci”.
Aqui, Fauci fez algo notável: em vez de denunciar os ativistas ou tentar excluí-los do diálogo sobre a AIDS, ele respondeu com uma espécie de empatia radical. Mesmo quando manifestantes carregavam cartazes dizendo “F***-se Fauci,” ele tentava entender seu pânico e angústia. Em relação aos ataques de Kramer, ele escreve: “Se eu estivesse na posição dele, teria ficado tão zangado quanto ele.” Fauci começou a se reunir com grupos de ativistas e convidou Kramer para visitá-lo na sede do NIAID. (Sua liderança na AIDS não foi perfeita. Como apontou o membro sênior do Manhattan Institute, o jornalista científico John Tierney, Fauci foi um dos primeiros defensores da alegação extremamente exagerada de que o HIV poderia ser disseminado pelo “contato próximo de rotina.” Este foi um exemplo inicial do tipo de “mentira nobre” que Fauci frequentemente contava durante a pandemia de Covid, esperando influenciar o público a adotar o que ele considerava um comportamento adequado.)
No final dos anos 1980, uma série de novos medicamentos contra a AIDS estava na linha de testes, mas só estava disponível para o pequeno número de pacientes em programas de ensaios clínicos. O ACT UP e outros ativistas queriam uma “pista paralela”, na qual pacientes doentes pudessem ter acesso a medicamentos ainda não aprovados para uso geral pela Administração de Alimentos e Drogas (FDA, uma agência sanitária). Esta não é a forma como a ciência farmacêutica normalmente funciona. Mas depois de passar tanto tempo com ativistas, Fauci aderiu à sua visão. Muitos pacientes tinham apenas meses de vida; não havia muito mal — e poderia haver algum benefício — em deixá-los tentar medicamentos não comprovados. Ele anunciou sua mudança de opinião em uma conferência de 1989, surpreendendo a administração de George H. W. Bush e a FDA (sobre a qual ele não tinha autoridade). Mas o presidente o apoiou, a FDA aceitou e logo a pista paralela se tornou um protocolo padrão para a AIDS e, com o tempo, outras doenças graves. Em uma reunião subsequente, Larry Kramer se levantou e bradou, “Tony, eu costumava chamá-lo de assassino, mas agora você é meu herói.”
Fauci escreve que sua “decisão de abrir as portas para a comunidade ativista foi uma das melhores decisões administrativas que já tomei.” Que contraste com sua abordagem arrogante e isolada durante a pandemia de Covid. Quando o professor de saúde pública e médico de Stanford Jay Bhattacharya, junto com dois colegas, publicou a Declaração de Great Barrington, que defendia um recuo parcial dos lockdowns, Fauci não convidou os especialistas dissidentes para seu escritório ou tentou entender seus pontos de vista. Em vez disso, ele e o diretor dos Institutos Nacionais de Saúde, Francis Collins, discutiram a necessidade de “uma refutação rápida e devastadora” de suas ideias. Logo, o governo Biden estava pressionando o Google, Twitter e outras plataformas para censurar as declarações de Bhattacharya. Fauci e seus colegas adotaram a mesma postura de não dar trégua aos defensores da teoria de que o vírus vazou de laboratório, céticos em relação às vacinas generalizadas e outros críticos.
O Fauci da era da AIDS estava disposto a falar e aprender com seus oponentes mais ferozes. Quando a Covid chegou, Fauci havia decidido que seus críticos não estavam apenas errados, mas eram “perigosos.” Quando as pessoas o criticavam, ele fez uma declaração famosa ao programa Face the Nation em 2021, “eles estão realmente criticando a ciência, porque eu represento a ciência.”
Aquilo que corrompe absolutamente
O que explica essa evolução? Poder, por exemplo. Mesmo antes do 11 de setembro, o vice-presidente Dick Cheney e outros funcionários do governo George W. Bush estavam preocupados com os riscos do bioterrorismo e das pandemias naturais. Então vieram os ataques e, nas semanas seguintes, a ainda misteriosa série de cartas contendo esporos mortais de antraz enviadas a figuras públicas. A administração queria uma agência única e poderosa encarregada de pesquisar possíveis ameaças de bioterrorismo. Cheney recorreu a Fauci e ao NIAID para liderar esse esforço. “Com a canetada de Cheney, todos os esforços de biodefesa dos EUA, sigilosos ou não, foram colocados sob a égide de Anthony Fauci,” escreveu Ashley Rindsberg em 2022.
Na visão do NIAID, programas de pesquisa contra armas bioterroristas e aqueles que visam doenças naturais andavam de mãos dadas. Os orçamentos para ambos os tipos de projetos dispararam. O mesmo aconteceu com a independência e a autoridade de Fauci. “Fauci agora tinha uma espécie de carta branca para não apenas aprovar, mas planejar e administrar os tipos de projetos de pesquisa que ele procurava,” escreveu Rindsberg, “e podia fazer isso sem uma estrutura de supervisão acima dele.”
Ao longo dos anos seguintes, o NIAID enfrentaria uma série de novas doenças ameaçadoras, incluindo SARS, gripe suína, Ebola e MERS. Mas nenhuma teve o tipo de surto em massa que ameaçaria a sociedade americana como um todo — até a Covid. A pandemia iminente levou às primeiras interações prolongadas de Fauci com o presidente Trump. (Trump começou uma reunião dizendo ao líder do NIAID, “Anthony, você é um cara realmente famoso.” O retrato meio perplexo de Fauci pintado por Trump soa verdadeiro.) A ameaça da Covid também levou Fauci — mais uma vez — de volta aos olhos do público. “Tornei-me o rosto público de fato da batalha do país contra a doença,” ele escreve. Isso levou ao que ele chama de “percepção grosseira (...) de que eu estava no comando da maioria ou até de toda a resposta do governo federal ao coronavírus.”
Aqui começa a ação de retaguarda de Fauci para proteger sua reputação. Ele quer que os leitores lhe deem crédito por decisões sábias, como lançar as bases para o impressionantemente bem-sucedido programa de vacinas Operation Warp Speed (algo como "Operação Velocidade da Luz"). Mas ele simultaneamente tenta se desviar da culpa pelas decisões controversas do governo, incluindo lockdowns e fechamentos de escolas intermináveis, obrigatoriedades pesadas de vacinas e muito mais. “Eu não tinha poder para decretar ou controlar nada,” ele insiste. É verdade que Fauci não tinha autoridade direta sobre os CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças) ou a FDA. Mas ele era, para o bem ou para o mal, o rosto da política de Covid do governo. Cidades, estados e outras agências federais seguiram seu exemplo. Além disso, ele teve a atenção dos dois presidentes na pandemia. (Vale lembrar que Trump, apesar de suas declarações barulhentas, seguiu principalmente os conselhos do médico.) Em qualquer momento, Fauci poderia ter ajudado a moderar as políticas exageradas de Covid nos EUA com apenas algumas palavras.
Em vez disso, Fauci defendeu vigorosamente essas políticas em suas muitas aparições públicas, e ele reavalia os debates neste livro. Manter as escolas fechadas fazia sentido, ele escreve, porque as crianças “quase certamente desempenhavam um papel na transmissão comunitária.” (Essa afirmação é contestada, para dizer o mínimo. Uma revisão de 40 artigos de pesquisa encontrou “evidências limitadas de transmissão no ambiente escolar ou de creche” e aconselhou contra o fechamento de escolas.) A Declaração de Great Barrington “desde então foi amplamente desacreditada,” continua Fauci. (Novamente, debatível. Outra revisão de publicações descobriu que os lockdowns tiveram benefícios mínimos e, nas palavras de um autor, constituíram “o maior erro de política pública dos tempos modernos.”) A lista de afirmações tendenciosas de Fauci continua.
A autobiografia adota uma abordagem especialmente descuidada para a questão da origem da Covid. Por exemplo, não há menção à famosa videoconferência de 1º de fevereiro de 2020, na qual Fauci, o chefe dos NIH Francis Collins e um grupo de virologistas de destaque discutiram a tempestade que se aproximava. Alguns dos cientistas naquela ligação suspeitavam que o vírus poderia ter vazado do Instituto de Virologia de Wuhan. No entanto, um grupo deles concordou em coescrever um artigo científico afirmando categoricamente que nenhum “tipo de cenário baseado em laboratório é plausível.” Eles alegaram que o vírus deve ter passado para a população humana de algum hospedeiro animal.
Esse artigo, “A origem proximal do vírus SARS-CoV-2,” foi apenas um dos muitos esforços para pressionar o público — e a comunidade científica — a abandonar quaisquer perguntas sobre o laboratório de Wuhan. O Comitê de Supervisão da Câmara, liderado pelo deputado James Comer, do Kentucky, concluiu no ano passado que Fauci, Collins e outros “tenderam a agir mais como políticos do que como cientistas.” Essa tendência piorou à medida que a pandemia progredia.
Quando surgiram perguntas sobre o relacionamento do governo dos EUA com o laboratório de Wuhan, Fauci e seus colegas as dispensaram. Hoje, ele defende os estudos duvidosos financiados por sua agência, argumentando que eles não envolviam tecnicamente pesquisas de “ganho de função”, nas quais as características potencialmente perigosas de um vírus são aprimoradas. Mas isso de acordo com a própria definição absurdamente estreita de ganho de função de Fauci. Segundo a definição usada pela maioria dos virologistas, a pesquisa de Wuhan financiada pelo NIAID envolvia, sem dúvida, técnicas de ganho de função.
Se a pesquisa apoiada pelos EUA provar-se ou não ter sido ligada ao surgimento posterior da Covid-19, ela era inerentemente arriscada. E é totalmente provável que os cientistas de Wuhan, seguindo os caminhos propostos por pesquisadores americanos, continuaram a mexer com vírus cada vez mais perigosos até que um escapou do laboratório. Hoje, Fauci insiste que o financiamento de sua agência para a pesquisa de vírus era seguro e acima de qualquer suspeita. No entanto, ele e seus assessores passaram anos obstruindo investigações, enganando o Congresso e evitando pedidos da Lei de Acesso à Informação. A autobiografia nunca explica o porquê.
Quanto à teoria do vazamento em laboratório, Fauci afirma com indiferença, “como eu já disse publicamente, devemos manter a mente aberta sobre a origem da Covid.” Ele não menciona sua longa campanha para rotular os defensores da teoria do vazamento do laboratório como “teóricos da conspiração”, nem se desculpa pelos esforços secretos do governo para suprimir suas vozes nas redes sociais. Alegações de mente aberta à parte, Fauci admite inclinar-se fortemente para a teoria de que a Covid surgiu “como um transbordamento natural a partir de animais infectados trazidos ilegalmente para o [mercado de Wuhan].” Para sustentar essa alegação, ele cita artigos de “virologistas evolutivos experientes em todo o mundo.” Mas os artigos que Fauci cita foram fortemente contestados — alguns diriam desmentidos — por outros cientistas de renome. As evidências de uma fonte natural da Covid continuam insignificantes. Fauci é, ou pelo menos era, um cientista disciplinado o suficiente para saber disso. Ele insulta os leitores ao fingir o contrário.
Um legado contaminado e vícios institucionais
Anthony Fauci, cuja carreira inicial fez muito para melhorar a saúde humana, deixa um legado manchado. Ele e seus colegas abusaram de sua autoridade, exageraram nos lockdowns e nas políticas de vacinas e enganaram sobre a pesquisa perigosa que sua agência financiou. A reação populista a esses excessos ainda está crescendo. A crescente desconfiança do público em relação aos especialistas médicos — e o novo ceticismo em relação a todas as vacinas — é uma bomba-relógio para a saúde pública.
É tentador atribuir os lapsos de final de carreira de Fauci a alguma deficiência moral pessoal. Acho que essa é a abordagem errada. As deficiências éticas de Fauci não eram pessoais, mas institucionais; ele havia recebido uma autoridade enorme enquanto estava quase completamente isolado da supervisão política. Nem mesmo o presidente poderia demiti-lo facilmente. E seu controle centralizado sobre orçamentos de pesquisa maciços significava que poucos cientistas estavam dispostos a desafiar suas afirmações ou políticas.
Ao longo das décadas, Fauci passou a se ver como infalível. Ele representava “a ciência.” Em vez de acolher pontos de vista contrários, como fazia durante os anos da AIDS, o Fauci mais velho, mais sensível (e mais entrincheirado institucionalmente) ressentia-se das críticas e tentava silenciar a dissidência. Se não fosse pela resistência persistente de alguns cientistas, jornalistas e legisladores ousados, ele poderia ter conseguido encerrar debates cruciais completamente. Nenhum funcionário federal deveria ter tanto poder, com tão pouca responsabilidade, por tanto tempo.
James B. Meigs é membro sênior do Manhattan Institute, editor contribuinte do City Journal e ex-editor da revista Popular Mechanics.
©2024 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês.
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