Enquanto burocratas da Califórnia rejeitam mais lançamentos de foguetes da SpaceX por causa das opiniões políticas de seu fundador e chefe executivo Elon Musk, o bilionário responde com uma semana miraculosa em demonstrações de inovação.
No domingo (13), o mundo testemunhou parte de um foguete de 120 metros de comprimento da SpaceX retornando de um lançamento e pousando com precisão delicada, com “marcha à ré”, em uma plataforma no Texas. O veículo Starship é o maior e mais poderoso foguete já construído.
O módulo capaz de retornar, chamado “Super Heavy” (“Superpesado”), é um impulsionador. A nave espacial que ele levou em seu quinto voo de teste, Starship, separou-se dele e partiu para uma quase órbita. Então o módulo caiu de uma altura de 75 quilômetros, atingindo a velocidade do som, e amorteceu sua própria queda reacendendo 13 motores. Três outros motores entraram em atividade para a manobra de pouso nos braços de metal na torre de lançamento que os engenheiros da SpaceX, seguindo o bom humor do chefe, chamaram de “Mechazilla”.
O foguete pousou no mesmo ponto de onde havia partido sete minutos antes. Enquanto isso, a Starship percorreu meio planeta, reentrou na atmosfera após atingir a velocidade máxima de 26.000 km/h, resistiu à altíssima temperatura causada pelo atrito e pousou pacificamente no Oceano Índico 65 minutos depois do lançamento, também amortecendo sua queda com três motores. A meta disso tudo é mandar uma nave não tripulada para Marte até 2026.
“Este é um dia para os livros de história da engenharia”, disse Kate Tice, diretora de engenharia de sistemas de qualidade da SpaceX. O chefe executivo do Google, Sundar Pichai, confessou que viu as imagens várias vezes e chamou o feito de “incrível”.
“Um grande passo foi dado hoje na direção de tornar a vida multiplanetária”, afirmou Elon Musk.
A NASA não partilha da antipatia dos burocratas californianos: o foguete da SpaceX foi o escolhido para sua missão Artemis 3, que deve levar astronautas à Lua em setembro de 2026. A SpaceX afirmou que investiu 12 mil horas de trabalho de sua equipe só no desenvolvimento do escudo térmico da Starship.
Optimus
No mesmo dia em que os burocratas da Califórnia rejeitaram mais lançamentos da SpaceX, outro empreendimento de Elon Musk, a fabricante de carros elétricos Tesla, chamou a atenção no evento “We, Robot”, promovido em Los Angeles em um estúdio da Warner.
O evento lançou dois produtos com a pretensão de revolucionar o transporte público, o CyberCab e a Robovan, e mostrou um estado atualizado do robô humanoide Optimus.
Várias unidades do Optimus interagiram com os presentes, demonstrando novas capacidades de movimento fino e servindo bebidas. “Já quis ter o seu próprio C3PO?”, perguntou Musk no evento, fazendo referência ao robô humanoide de Star Wars. “Creio que este será o maior produto de todos os tempos. Acho que todos, dos oito bilhões de pessoas na Terra, vão querer seu amigo Optimus”.
Musk previu que um Optimus terá um preço entre R$ 113 mil e R$ 170 mil. “Ele pode ser um professor, babá para suas crianças, caminhar com seu cachorro, cortar sua grama, fazer compras, ser seu amigo, servir bebidas. O que você puder pensar, ele vai fazer”, afirmou.
Alguns dos presentes, contudo, perguntaram aos robôs que serviam as bebidas se estavam sendo ajudados por pessoas nos bastidores, e a voz que saía deles confirmou. Aqui, os principais concorrente que Musk precisa vencer são a empresa Boston Dynamics, no quesito do hardware, e a OpenAI, no software. Ambas, por enquanto, estão entregando resultados melhores.
Segundo a agência Bloomberg, pessoas envolvidas relataram que as máquinas humanoides de fato tiveram auxílio remoto de operadores humanos, mas que caminharam completamente guiadas por sua própria inteligência artificial. A estrela do evento não era para ser o Optimus, mas os novos veículos autônomos. Mas Musk quis adicioná-lo três semanas antes, disseram entrevistados pela agência. A corrida de última hora para atender o pedido foi o que levou aos operadores remotos.
O evento não foi tão empolgante quanto os investidores esperavam, e a Tesla acabou tendo sua maior queda no valor das ações em dois meses.
Robotáxi e Robovan
O CyberCab, produto central do evento, é um táxi sem motorista, sem volante e sem pedais, operado autonomamente por software. O plano da Tesla é que ele entre em produção em 2027, com preço de US$ 30 mil (R$ 170 mil na cotação atual), e custo de operação de cerca de R$ 1,40 por quilômetro. Em vez de aço, o CyberCab tem um acabamento de placas de alumínio pintadas, para reduzir o custo de produção.
A Tesla afirmou que o CyberCab será dez a 30 vezes mais seguro que carros dirigidos por humanos e que existirão centros em que os robotáxis poderão ser lavados por sistemas automáticos e recarregados por indução — ou seja, sem fio.
A Robovan, como o nome indica, é um microônibus elétrico, com capacidade para 20 passageiros, com um design ousando que lembra o movimento de estilo Art Déco de cem anos atrás. Ela pode ser adaptada para funcionar também como veículo de carga.
As escolhas da Tesla levantaram ceticismo entre alguns observadores. A falta de volante no CyberCab é uma aposta que não apenas sinaliza um grau de inovação ainda a ser demonstrado, como uma escolha em termos de segurança.
Competidores da Tesla no ramo dos veículos autônomos “estão bem mais adiantados e têm dados para demonstrar a segurança (ou falta dela) e como afetam o tráfego”, disse o analista de segurança em tecnologia britânico James Bore ao site PYMNTS. Os concorrentes também têm “controles manuais e, mesmo quando não têm motoristas humanos dentro dos veículos, com frequência têm motoristas remotos de segurança para a ocasião dos modelos autônomos de direção falharem”.
Se os sonhos de Elon Musk se concretizarem para o robotáxi e o microônibus autônomo, ele será capaz de transformar o transporte mais uma vez, como já fez com os outros produtos da Tesla, a um nível tão dramático quanto o do pouso do “Super Heavy”.
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