“Fui à delegacia fazer um BO e descobri que estava há onze anos desaparecida” – Dayanara Spring, costureira. Já aconteceu comigo.
“O Brasil é um país racista, machista, homofóbico. E o brasileiro acha que não é nada disso. O Brasil tem essa dicotomia. É hiperconservador e hiperliberal” – Antonio Tabet, publicitário. O interessante é que, mesmo com tanta polarização e contradição, ainda é impossível encontrar alguém que ria das piadas do Tabet.
“Está difícil respirar? Vai piorar. Brasileiros inalam a fumaça da mudança climática” – manchete do UOL. Já piorou: os brasileiros não só inalam a fumaça das queimadas, como certa imprensa segue exalando o mau hálito das narrativas oficiais.
“Caso X: criar esquemas contra ordens judiciais é mais grave do que descumprir leis” –Camila Bomfim, jornalista. Em nossa democracia, ficar acima das leis pode até ser tolerado, mas acima do STF, jamais.
“Eu te disse que ia vim (sic) Luan. Fui a 1ª a chegar no RiR” – cartaz de Thayane Bassetto, professora, após passar a noite na porta da Cidade do Rock para ver Luan Santana. A professora faltou à aula de português, mas não ao show do Luan Santana. Sorte dos alunos, que escaparam de desaprender naquele dia.
“Estamos juntando os cacos” – Walter Salles, herdeiro do Unibanco e cineasta, sobre fazer cinema no Brasil pós-Bolsonaro. Sempre suspeitei que o cinema nacional fosse um vaso de porcelana. Agora, Walter Salles confirma: menos pelos cacos que junta e mais pela obra que insiste em colocar dentro.
“A imprensa trabalha com a busca pela verdade e muitos desses líderes [de direita] têm como matéria-prima a mentira, então é muito fácil colocar o outro como adversário, como militante” – Daniela Lima, apresentadora de telejornal. A imprensa militante trata a verdade como se fosse petróleo: extrai, refina e vende para quem pagar mais.
“Economista chinês desaparece após comentários privados em aplicativo” – manchete do Wall Street Journal. Se continuar assim, a China vai acabar virando um Brasil.
“Ainda mais bela por dentro do que por fora” – Elon Musk, sobre a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni. Se continuar nesse ritmo, o STF só vai deixar o X voltar a operar no país se Musk e Meloni toparem participar do próximo Power Couple Brasil.
“A história é feita por gente, pessoas reais” – Laurentino Gomes, historiador. As pessoas são sempre reais; já os fatos, esses às vezes são pura ficção.
“Meu sonho era ver o discurso do Brasil na ONU e aí me arrumaram um lugarzinho aqui. Espero não estar fazendo nada de errado” – Fernanda Torres, atriz, sobre convite de Janja para representar a “cultura brasileira” na assembleia da ONU. Fernanda Torres interpreta bem qualquer papel, mas esse de menina ingênua que faz vista grossa em troca de favores do governo, já ficou muito batido.
“Eu recebo o mesmo valor pelos direitos autorais, tanto faz se você ler ou queimar meus livros” – J. K. Rowling, autora de Harry Potter, sobre protestos de fãs contra suas declarações contra a ideologia de gênero. Afinal, não é o dinheiro dela que está virando fumaça.
“A direita gosta de coisas inanimadas, como dinheiro e propriedade. A esquerda gosta de gente, de bicho, de vida” – Fernando Haddad, ministro da Fazenda. Primeiro tivemos ministro que achava que cachorro é gente, agora temos um que acha que imposto é bichinho de estimação.
“Querem te diminuir porque você está pelada demais” – Victoria de Angelis, baixista da banda italiana Måneskin. Ah, o drama dos artistas ricos... Força, Victoria!
“Randolfe Rodrigues é eleito membro da Academia Amapaense de Letras” – reporta Mônica Bergamo, jornalista. O senador teria ainda afirmado que seu próximo passo será entrar para a Academia de Palavras – e, quem sabe um dia, até para a de Frases inteiras.
“Eu tenho dinheiro, que conquistei com muito trabalho, mas eu tenho um coração maior do que o meu imposto de renda” – Sandro Mabel, candidato à prefeitura de Goiânia (União-GO). Com um coração desse tamanho, fica a dúvida: será que ele está declarando amor demais ou renda de menos?
“É um absurdo acusar o Afeganistão de discriminação de gênero. Infelizmente, existe uma campanha de desinformação saindo da boca de algumas mulheres que pintam a situação de forma errada” – Hamdullah Fitrat, porta-voz do Talibã, rebatendo acusações da atriz Meryl Streep na ONU. Em discurso – ainda fictício – no conselho de direitos humanos da ONU, o Talibã ressaltou que esse “episódio lamentável” só prova que lugar de mulher é trancada em casa e de boca fechada.
“Noventa por cento da nossa eletricidade provém de fontes renováveis, como a biomassa, a hidroelétrica, a solar e a erótica (sic)” – Lula. É preciso admitir que não seria a primeira vez que a sacanagem correria solta no governo.
“Subestimamos os efeitos nocivos” – Gleisi Hoffmann, deputada federal (PT-PR), sobre regulação de ‘bets’. O plano era causar um estrago ainda maior?
Horário eleitoral (não) gratuito
“Todos os dias no meu programa, há 26 anos, venho defendendo agressores, bandidos e canalhas que agridem mulheres. Todos os dias” – José Luiz Datena, candidato à prefeitura de SP (PSDB), em ato falho durante debate no SBT. Sabe quando você passa a vida fazendo o papel de advogado do diabo, só para descobrir num deslize que o verdadeiro cliente sempre foi você?
“Não precisava daquela ambulância. Dava pra ir correndo pro hospital” – Pablo Marçal, candidato à prefeitura de SP (PRTB). A julgar pelas pesquisas, quem parece precisar de uma ambulância não é o Marçal, mas sua campanha a prefeito.
“A maior vergonha a que eu já assisti na minha longa vida pública” – Ciro Gomes, ex-candidato à presidência (PDT-CE), sobre a exclusão do senador Eduardo Girão (Novo-CE) do debate entre candidatos à prefeitura de Fortaleza. Se até o Ciro Gomes achou o episódio vergonhoso, é porque a coisa foi feia mesmo.
“A trajetória do farsante Boulos: de cosplay de Lula a cosplay de FHC” – manchete do Diário da Classe Operária. Enquanto isso, o eleitor segue fazendo cosplay de palhaço.
“Por que continuamos chamando figuras como Trump, Bolsonaro ou Marçal para debates? Estamos repetindo o erro que levou Hitler ao poder” – Leão Serva, jornalista. Eu achava que o erro que levou Hitler ao poder tinha sido manipular o judiciário para libertar um criminoso e vendê-lo como salvador da pátria, com a cumplicidade da imprensa colaboracionista.
“Sei que ainda sou visto como um imbecil” – Pablo Marçal, defendendo estratégia para “aparecer”. Se ele não avisasse ninguém ia notar.
“Ele não é psicopata, ele é picareta, mau-caráter, vigarista e sórdido. Ele não vale absolutamente nada, eu costumo chamar esse tipo de gente de 171” – Jorge Kajuru (PSB-GO), líder do governo no Senado, sobre Pablo Marçal. Como diria o saudoso Clodovil: “boi preto conhece boi preto”.
“Não é Lula nem Bolsonaro quem vai se sentar na cadeira de prefeito” – Luciano Ducci, candidato a prefeito de Curitiba (PSB). E, pelo jeito, nem o próprio Ducci...
É Verdade Esse Bilete
“Recebi uma carta do Trump falando que lamenta muito o ocorrido. O Trump é um cara que sofreu também um atentado” – Pablo Marçal, sobre o conteúdo de suposta carta de Donald Trump. Talvez na carta Trump tenha lamentado não ter perdido a orelha, pelo menos ele não teria que ouvir isso.
“O presidente Trump não enviou nenhuma carta do tipo” – Jason Miller, porta-voz de Donald Trump. A surpresa do Trump ao descobrir que não enviou a carta só não foi maior do que a nossa.
“Esperamos que entenda nosso raciocínio para examinar todas as apresentações, e seu trabalho na construção desse relacionamento é fundamental para que possamos aprovar essa parceria no futuro” – carta de Bethany Movassaghi, apoiadora de Trump, enviada a Alex Barata, amigo de Marçal. Com tanta fluência, clareza e objetividade, começo a suspeitar que uma certa ex-presidenta brasileira esteja por trás desta carta.
“Vou ver se eu consigo encaixar, se eu conseguir um buraco na agenda eu vou lá encontrar o Donald Trump” – Pablo Marçal. Não duvido que Marçal encontre um buraco na agenda para falar com Trump; difícil é Trump encontrar um motivo para querer preenchê-lo.
Kamala Rousseff Inácio da Silva
“Olhando de forma holística para a habitação, e analisando de forma holística os incentivos que o governo federal pode criar para que governos locais se envolvam no planejamento de maneira holística” – Kamala Harris, tentando explicar seus planos holísticos para a habitação. Kamala resolveu ao menos um problema de habitação: a palavra ‘holístico’ parece ter alugado um tríplex em sua mente.
“Se alguém invadir minha casa, vai levar um tiro” – Kamala Harris, candidata à presidência dos EUA, notória por sua plataforma política antiarmas. Desarmamento, sim. Mas não lá em casa.
Cantinho da Lei (de Murphy)
“Mais da metade dos 1.200 presos não aceitaram o acordo. Parece uma manifestação ideológica de permanecer preso ou ser condenado” – Luís Roberto Barroso, ministro do STF, sobre recusa de presos do 8 janeiro em aceitarem acordos de não-persecução penal. É incrível a audácia de não admitirem crimes que não cometeram.
“A ameaça de cassação de vistos ou de proibição de entrada nos EUA é absolutamente intolerável” – Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça, sobre carta do Congresso americano propondo punições a ministros do STF em razão do banimento do X no Brasil. Intolerável! Imaginem só nossos ilustríssimos ministros trocando a toga por um poncho e pedindo favores a cartéis mexicanos para poder cruzar a fronteira com os EUA.
“Dino está para as queimadas como Alexandre de Moraes para o golpe: líder da resistência” – Eliane Cantanhêde, no Estadão. O problema é que a resistência queimou, não tem garantia e qualquer peça de reposição vem com superfaturamento de fábrica.
“Recuo do X dá ao STF oportunidade de arrefecer ânimos. Firmeza foi necessária para Musk ceder, mas todos ganhariam se a plataforma voltasse a operar no Brasil” – editorial d’O Globo. Para algumas pessoas, a sanha censória do STF pode ser controlada; basta todo mundo pedir com jeitinho.
“Para ser honesto, não sei do que as autoridades brasileiras estão falando” – Matthew Prince, CEO da CloudFare, sobre suposta colaboração com autoridades brasileira para bloquear o X. Nem ele, nem nós, nem ninguém. No Brasil, o mistério é a única certeza.
“Sou contra o Corinthians vender o Memphis para pagar essa dívida. Para tranquilizar o coração de Vossa Excelência” – Flávio Dino, ministro do STF, em julgamento de recurso do Corinthians sobre contribuição previdenciária dos clubes de futebol. “Haverá uma conta para pagamento do PIX, e todos os corintianos pagarão e vai sobrar dinheiro” – Alexandre de Moraes, ministro do STF, em resposta. Se o STF quer mesmo ser visto como mesa de bar, precisa melhorar muito a qualidade da sua freguesia.
Cantinho da Diplomacia
“Você está comprando equipamento sensível de um país acusado de genocídio pela Corte Internacional” – Celso Amorim, assessor-chefe da Assessoria Especial do Presidente da República, sobre compra de tanques israelenses pelo exército brasileiro. Já pensou se o Amorim se preocupasse tanto com os pagers iranianos quanto se preocupa com os tanques israelenses? Talvez tivesse preservado algumas amizades.
“O que acontece em Gaza é um genocídio. Hoje está transitado em julgado” – José Dirceu, ex-presidente do PT e ex-presidiário. De “transitado em julgado”, ele entende.
“Se Zelensky fosse esperto, ele diria que a solução é diplomática, e não militar” – Lula. Esperto é o Lula, que, diferente do Zelensky, segue o conselho do Garrincha e sempre combina com os russos antes.
“Talvez alguém queira um Prêmio Nobel por sua biografia, por uma trégua passageira, em vez da paz duradoura. Mas o único prêmio que Putin lhe dará será mais sofrimento” – Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, mandando indireta para Lula em discurso na Assembleia da ONU. Será que alguém está querendo receber cartinha do STF dando 48 horas para se explicar?
“O Hezbollah é o vencedor” – aiatolá Ali Khamenei, ditador iraniano. Muito cordial, Benjamin Netanyahu teria se oferecido para entregar uns pagers como troféus aos "vencedores".
Cantinho bolivariano
“Estou preocupado devido aos relatos de violência pós-eleitoral e violações de direitos humanos” – António Guterres, secretário-geral da ONU, sobre a situação na Venezuela. Dizem os boatos que ele só chegou a essa dura conclusão após longa conversa com Rubens Barrichello.
“Expus a ele a luta que estamos travando contra o fascismo. Que ninguém suavize as expressões de intolerância e perseguição próprias dos projetos fascistas” – Nicolás Maduro, ditador venezuelano, sobre conversa com Guterres. Que orgulho ver Brasil, Venezuela, Irã e Rússia juntos pela democracia e na luta contra o fascismo.
Cantinho das Salsichas Bipolares
“Peço novamente um cessar-fogo em Gaza e a liberação imediata das salsichas” – Keir Starmer, primeiro-ministro britânico, confundindo ‘hostages’ (reféns) com ‘sausages’ (salsichas). Quem mandou sequestrar as salsichas do rei?
“Nós estamos em bipolares opostos” – Michael E. Dyson, professor da Universidade de Princeton, sobre discussão de com a deputada republicana Nancy Mace. O debate anda tão polarizado, que socializaram até a esquizofrenia.
Ari Fusevick é brasileiro não-praticante, escreve sobre filosofia, economia e política, na margem entre o inconcebível e o indesejável. Colabora com a Gazeta do Povo, Newsmax e New York Post. Autor da newsletter "Livre Arbítrio" e do livro "Primavera Brasileira".
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Deputados da base governista pressionam Lira a arquivar anistia após indiciamento de Bolsonaro
A gestão pública, um pouco menos engessada
Deixe sua opinião