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Joice Hasselmann: "A população não está preparada para votar naquilo que é bom, bonito e agradável"
Joice Hasselmann: “A população não está preparada para votar naquilo que é bom, bonito e agradável”| Foto: Balão de diálogo adicionado sobre foto de Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

“Ele não é o monstro que dizem” – Janice Combs, mãe do rapper americano P. Diddy, preso por acusações de abuso sexual. O azar do rapper é não morar no Brasil, onde artista que faz “arte” com menor não só não é monstro, como vira gênio e tesouro nacional. 
 
“Ser de esquerda no Brasil de hoje virou uma marca ruim” – Joel Pinheiro, comentarista da GloboNews. Não via uma traição de garoto-propaganda tão grande desde que o Baixinho da Kaiser apareceu bebendo outra cerveja. 
 
“É tarde demais para salvar a Grã-Bretanha do superaquecimento” – Jim Skea, presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU. Claro, segundo alguns cientistas, o mundo já acabou há uns dez anos. Só me espanta a falta de pontualidade dos britânicos. 
 
“Quem alimenta o voto na extrema-direita são os homens” – Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva. Ele deve se sentir uma ilha de sensibilidade em um mar de testosterona. 
 
“A esquerda precisa entender logo que o caminho pra o (sic) que a gente quer não é eleição” – Tiago Santineli, comediante de extrema-esquerda. Taí o rascunho da próxima cartinha pela democracia. 
 
“Houve agora uma licitação, venceram os judeus, o povo de Israel. Estamos com a licitação pronta, mas, por questões ideológicas, não pudemos aprovar” – José Múcio, ministro da Defesa. Uma questão de ideologia de gênero: o gênero duvidoso de nossa diplomacia. 
 
“Lutar por liberdade no Brasil é como pregar o evangelho durante uma festa do P. Diddy” – Danilo Gentili, comediante. O problema é que tem quem pregue contra a festa, mas não quer que ela acabe. 
 
“O gordola é muito machão quando um menino o chama de gordola. Mas é extremamente maricas quando um velho pinguço ex-presidiário o chama da mesma coisa” – Danilo Gentili, sobre decisão judicial decretando prisão do youtuber Monark por ofensas a Flávio Dino. Só para esclarecer, eu acho o Flávio Dino tão magro quanto ele é ético. 
 
“Eu vou dizer para vocês, pensei muito na minha vida. Pensei em você [Boulos]” – Lula, sobre o que lhe passou pela cabeça durante pane de avião no México. Ele provavelmente pensou: “Será que eu tranquei o Sítio de Atibaia direitinho? Vai que a turma do Boulos resolve aparecer por lá...” 
 
“A origem da mudança [climática] é a humanidade quando se trata do homem ‘ocidental’ branco, cristão e heterossexual” – texto de curso da Universidade de Liège, na Bélgica. Tenho um amigo que diz estar fazendo sua parte para salvar o clima: não anda de carro às segundas, não come carne às quartas e flui o gênero às sextas-feiras. 
 
“Fiquei chateado, não pelo que falaram, porque era um bando de imbecis, boçais, pessoas pelas quais não tenho o menor respeito” – Drauzio Varela, médico e apresentador de TV, sobre repercussão do caso em que abraçou criminoso que matou e estuprou uma criança em 2020. Por via das dúvidas, prefiro estar no time dos que o Drauzio despreza do que no dos que ele abraça. Seja dentro ou fora da cadeia. 
 
“Estou feliz em compartilhar que estou começando em meu novo emprego como detento no Centro de Detenção de Cumberland!” – Ryan Salame, ex-CEO da empresa FTX, preso por fraude bilionária envolvendo criptomoedas, em anúncio no LinkedIn. A segurança do presídio pode ser mínima, mas a fanfarronice é máxima. 
 
“Sim, eles podem controlar o clima” – Marjorie Taylor Greene, deputada americana, sobre suposta influência humana nos furacões que castigam a Flórida. Uma certa ex-presidenta diria que é simples controlar os furacões: basta estocar o vento ao contrário. 

Cantinho do Twitter Descensurado 

“Além da tentativa de não se submeter ao Poder Judiciário para instituir um ambiente de terra sem lei nas redes sociais, inclusive durante as eleições municipais de 2024” – Alexandre de Moraes, ministro do STF, em decisão que desbloqueou o X no Brasil. Terra sem lei? Por aqui, a Lei tem nome, sobrenome e gabinete em Brasília. Só não tem muito cabelo. 
 
“Voltaram o X e a dúvida: Musk se comporta até quando? 10, 9, 8...” – Josias de Souza, colunista do UOL. No Brasil, a imprensa não só comemora a censura, como faz contagem regressiva. Só falta soltar fogos. 
 
“Em vitória de Moraes e do STF, Musk engole humilhação e cede” – Leonardo Sakamoto, jornalista. Fontes fictícias afirmam que o jornalista teve que ser contido ao ameaçar subir na mesa para cantar “Aqui tem um bando de louco, louco por ti, STF!”. 
 
“Elon Musk aprendeu que Brasil não é ‘republiqueta de bananas’” – Valdo Cruz, colunista do G1, relatando o que teria ouvido de pessoas próximas a Moraes. “Republiqueta”? Nós somos um verdadeiro Império de Bananas. 
 
“Viram? Ninguém morreu de abstinência em 38 dias necessários para se cumprir a lei” – Dora Kramer, jornalista. Ninguém morreu, é verdade, mas teve quem entrou em coma moral irreversível. 
 
“Para que qualquer empresa atue no Brasil, precisa cumprir leis e respeitar a Constituição” – perfil do STF no X. Isso vale para empresas. Tráfico, máfias e milícias, desde que devidamente representados junto às autoridades competentes, estão isentos. 
 
“Elon Musk tentou dar um balão, desafiando as bases concretas da nossa democracia, que é o Sistema Judiciário” – Camila Bomfim, comentarista da GloboNews. Quando o Judiciário é a base concreta da democracia, seu voto vira uma mera abstração. 
 
“Estou na dúvida sobre o que fazer. Mando um e-mail agradecendo que ele tenha permitido que eu, um mero mortal, possa usar uma rede social?” – Claudio Branchieri, deputado federal (Pode-RS), reagindo ao desbloqueio do X. E-mail, jamais! Nessas ocasiões, recomenda-se o sacrifício ritual de um deputado de médio porte para agradecer a benevolência dos deuses supremos do Olimpo. 
 
“Bom dia, Democracia. Continuamos aqui, na luta, para garantir sua soberania” – Rosana Hermann, humorista, em seu primeiro tweet após volta do X. A democracia respondeu com um breve sorriso amarelo, já que o banho de sol costuma ser curto e a sombra da censura é longa. 
 
“Vim ver como tá a qualidade do ar aqui” – Bic Müller, influenciadora digital, voltando ao Twitter após declarar que voltar seria “síndrome de Estocolmo”. Tirando o cheiro recente de hipocrisia, a qualidade do ar no cativeiro até que estava boa. 
 
“Acredito que essa rede deve ser mantida sob a mais severa vigilância da Justiça, pois o histórico é de desobediência e desrespeito” – Gleisi Hoffmann, sobre a volta do X. E para a rede com histórico de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e golpe em aposentados, qual é a severidade da vigilância? 

Cantinho das Decisões Monocráticas 

“[São] PECs que são consideradas revanche do Congresso em cima do STF, nessa briga que a extrema-direita está com o STF” – Ana Flor, comentarista da GloboNews, sobre a PEC que limitaria decisões monocráticas do STF. Na democracia relativa, o Congresso não legisla; se vinga. E a extrema-direita se caracteriza por uma estranha obsessão em separar os três poderes. 
 
“A Democracia quer cassar onze ministros. Se decidirem sobre uma questão, o Congresso vai e pode cassar o voto dos onze ministros. Isso é uma aberração” – Octávio Guedes, jornalista e historiador amador. Já onze ministros, que não receberam nem um voto, cassarem a escolha de milhões de eleitores virou a coisa mais normal do mundo. 
 
“É algo que vai além do AI-5. Esta PEC é o AI-6 deste país” – Octávio Guedes. Detalhes talvez irrelevantes: já tivemos um AI-6, em 1969, e o AI-5 foi editado após o Congresso se recusar a quebrar a imunidade parlamentar de um deputado – uma brincadeira de criança para o regime atual. 
 
“Não se mexe em instituições que estão funcionando” – Luís Roberto Barroso, ministro do STF. Surpreendente mesmo é o Barroso ter pudor de dizer simplesmente que “em time que está ganhando, não se mexe”. 
 
“Este tribunal não fez nada mais nada menos do que o seu dever de defender a democracia” – Gilmar Mendes, ministro do STF. O problema do STF é amar demais a democracia. E amor demais às vezes sufoca. 

Fim do 1º Soturno 

“Me apaixonei pelo homem do globo da morte e fui embora com o circo” – Moana Nara, esteticista, em entrevista ao UOL. Um dia na vida de assessor do Pablo Marçal. 
 
“Eu recebi e publiquei. Quem emitiu que tem que falar” – Pablo Marçal, sobre laudo falso contra Guilherme Boulos, publicado em suas redes sociais. Só fiz a receptação, conferir o número do chassi não é problema meu. 
 
“Eu não desafiaria o STF” – Pablo Marçal, negando ter acessado pessoalmente seu perfil no X durante bloqueio para publicar o laudo. Claro que não, ele só desafia a nossa inteligência — e o pior é que quase sai ganhando. 
 
“Ninguém pode negar que ele é inteligente, mas usa a cabeça para questões não corretas. Fica fazendo besteira” – Jair Bolsonaro, sobre Pablo Marçal. Ou seja, ainda falta um pouco de burrice estratégica para se firmar na política nacional. 
 
“Quem conta mentira deve ser punido” – Lula, sobre laudo médico falso divulgado por Pablo Marçal. E qual seria a punição adequada, amputar o dedo mindinho? 
 
“Postura de Marçal é uma ameaça à democracia” – Tarcísio Gomes de Freitas, governador de SP (Republicanos). Se nossa democracia anda tão frágil assim, talvez seja hora de certos líderes tomarem posturas mais firmes. 
 
“Se o Brasil fosse um país sério, Marçal ia preso” – Tarcísio Gomes de Freitas, reagindo à publicação do laudo falso por Marçal. Cuidado, que se ficar sério demais, talvez tenha gente no seu próprio governo que vá junto. 
 
“Se Pablo Marçal não for preso depois dessa, não há esperança mais para esse país. O neofascismo vai dominar tudo a menos que seja impedido” – Felipe Neto, youtuber. Se não prenderem todo mundo que o Felipe Neto não gosta, há o risco de o Brasil descambar para o fascismo. Se prenderem, daí é garantido. 
 
“Vamos caminhar juntos, atentos, sem hostilidades nem desalentos insuperáveis” – Cármen Lúcia, presidenta do TSE, convocando os brasileiros às urnas. Nada de votar errado, hein? Não queremos causar qualquer “desalento insuperável” na nossa ministra. 
 
“Alta rejeição a Boulos surpreende” – Tales Faria, colunista do UOL. Boatos não confirmados dão conta que, mais tarde, o colunista chegou em casa, abriu uma lata de sardinhas e ficou surpreso ao encontrar sardinhas dentro. 
 
“Vai ter que pegar fralda e uma caixa de lenços” – Atila Jacomussi, candidato a prefeito de Mauá-SP (União), respondendo como o rival Marcelo Oliveira (PT), deveria acompanhar a apuração. É um bom conselho. Nunca se sabe o que pode sair das nossas urnas.

“A população não está preparada para votar naquilo que é bom, bonito e agradável”

Joice Hasselmann, jornalista, anunciando sua aposentadoria da política. Pelo visto, também não estávamos preparados para votar no completo oposto.

“Após resultado do 1º turno, Lula vai intensificar eventos em cidades-chave” – manchete do UOL. Se você mora em uma das cidades-chave, é melhor trancar portas e janelas e só sair de casa se for estritamente necessário — antes que os eventos comecem a se intensificar. 
 
“A gente não foi para o 2º turno porque o campo de energia que eu precisava chegar, que era 21 ondas, eu não consegui bater. A gente chegou em 18 e não conseguimos entrar em outra onda. É assim que funciona” – Pablo Marçal, explicando sua performance eleitoral. Talvez não funcione assim em São Paulo, mas em São Tomé das Letras ele seria eleito no 1º turno. 
 
“Converso com todo mundo” – Ronaldo Caiado, governador de GO, sobre possibilidade de negociar apoio do PT no 2º turno das eleições para Sandro Mabel, candidato de seu partido a prefeito de Goiânia. Sabemos que Goiás é a terra do agronegócio, mas conversa pra boi dormir tem limite. 
 
“Um prefeito ausente. Um prefeito que estará ausente no dia a dia das comunidades” – Evandro Leitão, candidato a prefeito de Fortaleza-CE (PT), em um ato falho, respondendo o que seus eleitores podem esperar no primeiro mês de seu mandato. Finalmente um político que promete o que sabe que pode cumprir. 
 
“Votos de Nunes vieram do meu pai, e não do Tarcísio” – Carlos Bolsonaro, vereador (PL-RJ), sobre influência de Jair Bolsonaro na corrida pela prefeitura de SP. E os eleitores bolsonaristas respiram aliviados, pensando: “Votei no Nunes, mas não fui eu!”  
 
“Bolsonaro foi covarde, omisso. Que porcaria de líder é esse?” – Silas Malafaia, pastor, criticando alianças de Jair Bolsonaro no 1º turno das eleições. Bolsonaro teria prometido mostrar a Malafaia quem é omisso... assim que o Kassab autorizar. 
 
“A história da direita passa por Bolsonaro. Antigamente a direita era uma prostituta” – Silas Malafaia. Verdade seja dita, ainda tem gente que se diz de direita, mas topa tudo por dinheiro. 
 
“Ninguém critica mulher feia” – Jair Bolsonaro, sobre críticas recebidas de Silas Malafaia. Olha, eu lembro de um deputado do baixo clero que fez carreira criticando a Dilma e a Maria do Rosário. Dizem que chegou até a ser presidente.

Memória 

“Você é o Sergio Cabral que não está preso” – Guilherme Boulos falando para Geraldo Alckmin, durante debate presidencial de 2018. Nunca ter sido preso, normalmente algo positivo, é considerado uma falha de caráter gravíssima em certos círculos. 
 
“Sempre trabalhei, não sou desocupado, não invadi propriedades" – Geraldo Alckmin, respondeu a Boulos na ocasião; hoje Alckmin declara apoio a Boulos no 2º turno das eleições para prefeito de SP. O Boulos saiu dessa de invadir prédio alheio. Agora ele quer tomar posse direto na planta.

Ari Fusevick é brasileiro não-praticante, escreve sobre filosofia, economia e política, na margem entre o inconcebível e o indesejável. Colabora com a Gazeta do Povo, Newsmax e New York Post. Autor da newsletter "Livre Arbítrio" e do livro "Primavera Brasileira".

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