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Seinfeld ri durante entrevista com Barack Obama em 2015: outros tempos.
Seinfeld ri durante entrevista com Barack Obama em 2015: outros tempos.| Foto: Divulgação/Jerry Seinfeld

O comediante americano Jerry Seinfeld nunca aceitou fazer de sua carreira uma plataforma política — seu último lançamento é um filme sobre uma disputa entre duas fabricantes de cereais nos anos 1960.

Nascido e criado nos arredores de Nova York, onde ser conservador é fugir à regra, Seinfeld sempre transitou confortavelmente no meio progressista americano. A ponto de conseguir autorização para gravar com o presidente Barack Obama na Casa Branca em 2015, em um episódio do seu programa “Comedians in Cars Getting Coffee”.

Mas tudo tem um limite.

Nos últimos meses, Seinfeld tem dado declarações cada vez mais claras contra o que acredita ser um excesso da extrema-esquerda. Junte-se isso ao fato de ele ser um judeu que apoio as vítimas dos ataques de 7 de outubro, e fica mais fácil entender por que dezenas de estudantes deixaram a formatura da prestigiosa Universidade de Duke, no último domingo (12), em que Seinfeld foi o orador principal.

Se tivessem ficado para ouvir o discurso, talvez eles tivessem aprendido algumas lições.

Crítica à extrema-esquerda

Seinfeld, que deu o rosto e o nome a uma das séries mais populares dos anos 1990, também marcou época como um dos pioneiros do stand-up comedy. De forma discreta, ele já havia resistido à politização crescente da indústria de entretenimento americana.

Mas, agora, ele parece estar mais disposto a chamar as coisas pelo nome. Em uma entrevista concedida à New Yorker no mês passado, ele lamentou a falta de programas de humor na TV americana.

"Este é o resultado da extrema-esquerda, da porcaria do politicamente correto e das pessoas se preocuparem tanto em não ofender os outros. Quando você escreve um roteiro e ele passa pelas mãos de quatro ou cinco pessoas, comitês, grupos, ‘Isso é o que pensamos sobre essa piada’... é o fim da sua comédia”, criticou Seinfeld.

Nos últimos anos, Hollywood adotou regras com o objetivo de aumentar a “representatividade”. Para concorrer ao Oscar de Melhor Filme, por exemplo, os inscritos precisam seguir padrões de "inclusividade", como incluir um certo percentual de atores pertencentes a minorias.

O Emmy, que premia os melhores programas da televisão americana, também se adaptou aos novos tempos para se tornar mais "inclusivo".

Até mesmo o seriado Os Simpsons, conhecido por bater de frente com politicamente correto, capitulou. Em 2017, o programa praticamente aposentou o personagem Apu porque ele representava uma visão estereotipada dos imigrantes indianos. Além disso, o dublador Hank Azaria deixou de fazer a voz do personagem por não ter origem indiana.

A favor do privilégio

No discurso de formatura em Duke, Jerry Seinfeld questionou algumas das ideias frequentemente defendidas pela esquerda acadêmica nos Estados Unidos. Uma delas: a de que ter privilégios é uma razão para se envergonhar.

“Privilégio é uma palavra que tem apanhado muito ultimamente. Hoje em dia, privilégio parece ser a pior coisa que você pode ter (...). Eu digo: use o seu privilégio. Eu cresci sendo um garoto judeu em Nova York. Isso é um privilégio se você quer ser comediante”, disse. "Nós nos envergonhamos de coisas de que deveríamos ter orgulho, e temos orgulho de coisas das quais deveríamos nos envergonhar”, o comediante acrescentou.

De forma cautelosa, Seinfeld também aconselhou os formandos a não abrirem mão do senso de humor apenas para evitar ofender as sensibilidades de um certo grupo de pessoas.

“Eu admiro completamente as ambições de sua geração de criar uma sociedade mais justa e inclusiva. Também acho maravilhoso que vocês se preocupem tanto em não ferir os sentimentos de outras pessoas de um milhão de maneiras como todos nós fazemos a cada segundo de cada dia (...) Mas preciso dizer a vocês, como comediante, que não percam o senso de humor.”

Em seu discurso na Universidade de Duke, o comediante tentou desfazer algumas das ilusões dos formandos e sugeriu que eles fossem mais pragmáticos: “Eu imagino o quão cansados vocês estão de ouvirem falar para seguir a sua paixão. Eu digo: que a paixão vá para o inferno; ache algo que você consiga fazer; isso seria ótimo”.

Apesar do protesto dos estudantes pró-Palestina no início do discurso, Seinfeld foi aplaudido pela maioria dos formandos. Na cerimônia, ele também ganhou o título de doutor honoris causa de Duke, que aparece com frequência nos rankings das 10 melhores universidades dos Estados Unidos.

Visita a Israel após atentados

Os estudantes que deixaram a formatura de Duke em protesto contra a presença de Seinfeld se queixam do que entendem ser o apoio do humorista a Israel.

Seinfeld esteve no país em dezembro do ano passado e se encontrou com vítimas e familiares de vítimas dos ataques de 7 de outubro. Ele também visitou comunidades destruídas pelos terroristas do grupo Hamas.

Recentemente, a mulher dele, Jessica, doou US$ 5 mil a um grupo de estudantes judeus que protestou contra manifestações simpáticas ao Hamas no campus da Universidade da Califórnia em Los Angeles.

Nos últimos tempos, outros artistas que nunca foram vistos como conservadores também passaram a questionar de forma mais aberta a intolerância da extrema-esquerda.

Autora da série Harry Potter, a escritora JK Rowling comprou uma briga contra grupos de militantes ao criticar a presença de pessoas do sexo masculino competindo em categorias esportivas femininas. O comediante Bill Maher também tem adotado uma postura mais crítica à agenda progressista radical. E a iconoclasta humorista Amy Schumer, conhecida por suas provocações aos conservadores, tem recebido críticas de grupos de extrema-esquerda por ter declarado apoio a Israel na guerra contra o grupo terrorista Hamas.

Declarações prévias contra patrulha

Embora tenha passado a confrontar a patrulha ideológica de esquerda com mais frequência, Seinfeld já havia dado sinais de desconforto com a politização da indústria do entretenimento nos Estados Unidos.

Em 2015, em entrevista ao canal CBS, ele disse não se incomodar com a pressão para que as produções tenham mais diversidade. Seinfeld defendeu que a graça seja o único critério para avaliar o trabalho dos comediantes. "As pessoas acham que isso é o censo ou algo assim, para você precisar representar exatamente as estatísticas dos Estados Unidos. Quem liga? (...) Se você é engraçado, estou interessado. Se você não é engraçado, não estou. Não tenho qualquer interesse em gênero, raça ou qualquer coisa do tipo", declarou.

Na mesma época, Seinfeld afirmou que não se apresenta em universidades por causa da cultura do politicamente correto.

O discurso em Duke não foi exatamente uma apresentação de stand-up; mas, ao concordar em participar da cerimônia, ele talvez tenha aberto uma exceção por um motivo específico: um de seus filhos é aluno da universidade.

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