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Escritor, doutor em Ciência Política, mestre em sociologia e bacharel em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo, Jorge Caldeira foi eleito para a cadeira número 16 na Academia Brasileira de Letras em julho deste ano. Autor de mais de 20 livros como "Mauá: Empresário do Império" e "História da riqueza no Brasil", suas descobertas enquanto pesquisador têm o potencial de mudar bastante a forma como nós enxergamos a formação e, portanto, o futuro do nosso país.

Com base em estudos realizados por meio de tecnologias mais acuradas do que as utilizadas pelos historiadores que moldaram os currículos escolares, Caldeira defende, por exemplo, a ousada tese de que a produção e distribuição riqueza no Brasil, ao contrário do que se alardeia, não são mero resultado de séculos de exploração sistemática.

"Temos censos dos século XVII e XVIII que nunca haviam sido tabulados. Com o computador, isso foi possível. As descobertas que vieram com essa nova metodologia de fazer história econômica foram de grande porte, no sentido de ter que mudar todo o jeito que a gente fazia história até então", explica Caldeira.

"Descobriu-se, por exemplo, que por volta de 1800 a economia do Brasil era do tamanho da dos Estados Unidos. O conhecimento tradicional que se tinha antes dessa pesquisa era o de que toda a riqueza foi para fora, que os monopólios portugueses eram feitos para explorar, etc. Com as estatísticas, descobrimos que a economia brasileira era, na verdade, quase o dobro da de Portugal. Ao invés de a riqueza ir para fora, era o Brasil que atraia empreendedores portugueses", diz o escritor.

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Outra das descobertas relevantes do sociólogo que continua a passar "batida" entre seus pares é a de que os povos indígenas foram parte significativa da economia nacional durante os primeiros séculos. "Os indígenas tinham uma ideia de economia bastante clara e produtiva, que incluía a preservação da floresta. Eles trabalhavam pouco mas, ainda assim, tinham muito excedente de produção alimentar", explica o historiador.

Trata-se, portanto, de uma reviravolta na conhecida narrativa de que os índios não produziam riqueza alguma e eram sistematicamente explorados pelos portugueses. "Como os índios estocavam o alimento excedente, conseguiam trocar algodão, milho, tabaco, redes e outras mercadorias por ferro. O que estou descrevendo é que os tupi-guaranis eram parte do setor produtivo da economia colonial brasileira desde 1500. E eles gostavam desse contato. A gente sempre olha para o fluxo do português para o índio e pensa: 'lá vai o português esperto e o índio tontalhão'. Ninguém olha o fluxo contrário. Para entender a economia da colônia, é preciso entender que as trocas eram viáveis para os dois lados. Tinha violência? Tinha. Mas também havia negócios".

A entrevista disponível abaixo é exclusiva para assinantes da Gazeta do Povo.

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