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Artigo

Karl Marx defendia a violência e a repressão política

Túmulo de Karl Marx no Cemitério de Highgate, em Londres, Grã-Bretanha, 26 de junho de 2024.
Túmulo de Karl Marx no Cemitério de Highgate, em Londres, Grã-Bretanha, 26 de junho de 2024. (Foto: EFE/EPA/NEIL HALL)

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Recentemente, fui surpreendido por um artigo curioso no Wall Street Journal. Jacob Berger, professor de Filosofia no Lycoming College, na Pensilvânia, publicou um texto em 23 de janeiro intitulado “Por que os apoiadores de Trump deveriam ler Marx”. Nele, Berger afirma:

"Diante da história de regimes comunistas assassinos como a Rússia de Stalin, a China de Mao e o Camboja de Pol Pot, é tentador concluir que Marx incentivava a tirania. Mas Marx não defendia a violência ou a repressão política e ficaria horrorizado com as atrocidades cometidas em seu nome. Ele queria a revolução, mas imaginava que a transição ideal do capitalismo para o comunismo seria pacífica e democrática, como a Revolução de Veludo, que libertou a Tchecoslováquia do domínio soviético em 1989."

O Marx a quem o professor Berger se referia era Karl, não Groucho. Diante dessa afirmação, reli o trecho, achando que poderia ter entendido errado. Marx não defendia a violência ou a repressão política? Estranho. Já li praticamente tudo o que ele escreveu, e essa não é a impressão que tive. Marx realmente imaginava uma transição pacífica e democrática do capitalismo para o comunismo? Perdi algo em todas essas leituras? Afinal, foi o próprio Marx quem defendeu a "ditadura do proletariado". Desde quando ditaduras são pacíficas e consensuais?

Meu bom amigo e editor do Spectator, Paul Kengor, incentiva as pessoas a lerem o Manifesto Comunista. Foi lá que Marx e seu colaborador sugar daddy, Friedrich Engels, atacaram o capitalismo e esboçaram sua visão para um futuro socialista/comunista. Paul sempre cita uma piada de Ronald Reagan:

"Como você sabe se alguém é comunista? Ele leu Marx e Lenin. Como você sabe se é anticomunista? Ele entendeu Marx e Lenin."

O que me pareceu um revisionismo grosseiro no artigo do professor Berger me levou a seguir a sugestão de Paul. Li novamente O Manifesto Comunista — pela terceira ou quarta vez, e sempre como uma experiência dolorosa. E a conclusão foi inevitável: o professor Berger simplesmente não entendeu Marx.

Apesar da simpatia que Marx desperta entre acadêmicos de esquerda, um leitor atento verá que O Manifesto é um absurdo alucinante. É um jargão escrito em letras grandes, como se tivesse sido preparado por idiotas. É o tipo de coisa que se esperaria de um curandeiro que diagnostica mal o problema e então prescreve todos os medicamentos errados, que acha que o paciente que sofre de dor de dente precisa ter os pés removidos.

"O Manifesto" consiste em uma simplificação exagerada após a outra: tudo, incluindo o que e como uma pessoa pensa, se reduz à rígida "classe" econômica na qual ela nasceu. Todo mundo é um opressor ou um indefeso oprimido.

As generalizações do livro são tão abrangentes e desprovidas de evidências que chegam a ser ridículas e sem sentido, como a alegação de que se você é um empregador capitalista masculino (um "burguês" na terminologia pejorativa de Marx), você vê sua esposa como nada mais do que "um mero instrumento de produção". Ao mesmo tempo, você e seus colegas empregadores capitalistas masculinos "têm o maior prazer em seduzir as esposas uns dos outros". As pessoas são, portanto, reduzidas a caricaturas e homogeneizadas no liquidificador marxista para que nenhuma exceção possa corromper os estereótipos preconcebidos que servem à narrativa marxista.

Em um ponto, Marx e Engels balbuciam esta besteira fatídica:

"Mas o trabalho assalariado cria alguma propriedade para o trabalhador? Nem um pouco".

Isso mesmo. "Nem um pouco", proclamam os dois pseudointelectuais. Ninguém em lugar nenhum sabe de alguém trabalhando por salários que possua algo depois de receber seu salário. Ninguém nunca viu ou ouviu falar de um trabalhador que economiza e investe, abre um negócio ou melhora sua condição econômica acumulando propriedade.

Oh, pensei, tenho certeza de que Marx e Engels fizeram uma nota de rodapé sobre isso. Vou olhar no final da página para descobrir a fonte desse absurdo… Opa, sem notas de rodapé. Nenhuma! Os autores desse discurso de desabafo rotulado como "manifesto" esperam que você acredite na palavra deles. E é melhor você não discordar porque, eles afirmam com arrogância descarada, "As acusações contra o comunismo feitas de um ponto de vista religioso, filosófico e, geralmente, ideológico não merecem um exame sério".

Voltemos ao artigo do professor Berger. Ele quer nos convencer de que Marx era um pacifista. Será? Reli O Manifesto Comunista em busca de algo que indicasse oposição à violência. Encontrei o oposto — página após página.

Marx desprezava a religião, mas agia como um profeta. A história está marchando inevitavelmente em direção a um futuro comunista no qual todo governo iria magicamente “definhar” após um período de uma “ditadura do proletariado” socialista. Ele nunca explicou o que levaria alguém com poder total a proclamar de repente por sua própria vontade: “Até logo, estou dando o fora”.

Marx sabia disso usando cartas de tarô, leitura de mãos ou um tabuleiro Ouija? Ele lia entranhas de animais? De onde veio seu conhecimento superconfiante do futuro?

Não me pergunte. Eu não acredito em bruxaria ou em adivinhações. Mas é óbvio no "Manifesto" que Marx (e seu amigo Engels) viam a violência para atingir o objetivo comunista como algo necessário. Considere este parágrafo:

"O proletariado usará sua supremacia política para arrancar, gradualmente, todo o capital da burguesia, para centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado, ou seja, do proletariado organizado como classe dominante; e para aumentar o total de forças produtivas o mais rápido possível."

A centralização de todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado pode ser alcançada pacificamente? O professor Berger pode pensar assim, mas Marx não. Continue lendo:

"É claro que, no começo, isso não pode ser efetuado exceto por meio de incursões despóticas nos direitos de propriedade e nas condições de produção burguesa; por meio de medidas, portanto, que parecem economicamente insuficientes e insustentáveis, mas que, no curso do movimento, se superam, necessitam de mais incursões na velha ordem social e são inevitáveis ​​como um meio de revolucionar completamente o modo de produção."

Isso é uma maneira rebuscada de dizer: "Teremos que usar força bruta."

O "Manifesto" afirma que "a teoria dos comunistas pode ser resumida em uma única frase: Abolição da propriedade privada". Talvez Marx de alguma forma tenha visto um futuro professor Berger pulando esta parte, então ele reforçou com esta garantia: "Vós nos censurais por pretendermos acabar com sua propriedade. Exatamente isso: é exatamente isso que pretendemos".

Marx critica os socialistas que não entendem a necessidade da violência revolucionária. Eles ingenuamente “desejam atingir seus fins por meios pacíficos” que ele diz estarem “necessariamente fadados ao fracasso”. Este parágrafo do "Manifesto" faz você pensar no Mahatma Gandhi não violento ou em um maníaco com tendências violentas?

"Em suma, os comunistas em todos os lugares apoiam todos os movimentos revolucionários contra a ordem social e política existente das coisas (...) Eles declaram abertamente que seus fins podem ser alcançados apenas pela derrubada forçada de todas as condições sociais existentes."

A “derrubada forçada” não de algumas, mas de “todas as condições sociais existentes”. Como o professor Berger alega que um homem que colocou seu nome em uma declaração tão assustadora era um pacifista?

Talvez a parte mais famosa do "Manifesto" seja a lista de declarações concisas do que os comunistas querem que seja feito — conhecidas como as “Dez Tábuas” do documento. Elas são meras dicas úteis para uma vida melhor ou são prescrições para a violência que o professor Berger nega? Vejamos apenas alguns deles:

Abolição da propriedade da terra e aplicação de todos os aluguéis de terra para fins públicos. Como essa "abolição" deve acontecer? Ou todos entregam voluntariamente seus pertences ao governo, ou o governo aparece com armas e os apreende. A primeira é coisa de conto de fadas infantil; a última é a única opção realista e dificilmente é não violenta.

Um imposto de renda progressivo ou gradualmente pesado. Experimente não pagar seus impostos. Você descobrirá se os impostos são contribuições voluntárias ou não. Você nem precisará ler "O Manifesto Comunista" para descobrir o que Marx pretendia aqui.

Abolição de todos os direitos de herança. Como você impede que mamãe e papai passem coisas para seus filhos? Dê a eles um panfleto explicando por que eles não devem? Boa sorte com isso. Acho melhor você trazer armas.

Confisco da propriedade de todos os emigrantes e rebeldes. O que pode dar errado aqui? Certamente Marx pretendia que tais confiscos fossem "principalmente pacíficos", no mínimo.

Centralização dos meios de comunicação e transporte nas mãos do Estado. Uma vez que o governo assuma o rádio, a televisão, os jornais, a Internet e todos os outros métodos pelos quais transmitimos nossos pensamentos e nossos corpos, ele nos permitirá dizer qualquer coisa e ir a qualquer lugar que quisermos. Acorde, professor Berger.

Igual responsabilidade de todos para trabalhar. Estabelecimento de exércitos industriais, especialmente para a agricultura. Quando os marxistas estão no comando, não há falta de trabalho. Pode até ser como um peão recrutado para algum grande exército agrícola.

Combinação de agricultura com indústrias de manufatura; abolição gradual de toda a distinção entre cidade e campo por uma distribuição mais equitativa da população pelo país. Lembra da cena no filme "Os Gritos do Silêncio" [sobre a ditadura comunista de Pol Pot no Camboja] de 1985, em que os comunistas cambojanos forçaram os moradores da cidade a trabalhar no campo? Eles levaram Marx a sério. Ele queria que o estado decidisse onde você mora e trabalha. Isso pode ser um exercício não violento?

Infelizmente, acho que estou me alongando no ponto. Leia "The Devil and Karl Marx", de Paul Kengor, se precisar de mais evidências de que Karl Marx não era apenas um Mr. Rogers vermelho.

E agora? Alguém no Lycoming College vai chamar Berger para uma conversa? Algum colega acadêmico vai contestá-lo? Duvido.

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©2025 FEE - Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês: Yes, Marx Advocated Violence and Political Repression

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