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No programa Última Análise desta segunda-feira (28), o tema foi a corrupção no Brasil e o que a prisão do ex-presidente Fernando Collor, bem como a fraude no INSS, revelam a respeito. O ex-procurador da Lava Jato e colunista da Gazeta do Povo, Deltan Dallagonol, critica a atuação do STF, que inventou uma espécie de "Lava Jato relativa". Ainda que a maioria das condenações da operação tenha sido anulada, a prisão de Collor se fundamentou na operação. Ou seja, "quando eles querem, ela vale", sublinha Deltan.
O mesmo duplo padrão de julgamento é identificado por Dallagnol no caso dos condenados pelos atos do 8 de Janeiro. O ex-procurador questiona a participação do ministro Alexandre de Moraes no julgamento dos supostos crimes de atentado contra o Estado democrático de Direito, golpe de Estado e tentativa de homicídio. "Quando uma coisa absorve a outra, ela fica dentro. Ora se existir um crime ali dentro contra o Morais ele jamais poderia estar julgando esses crimes. Porque um crime está dentro do outro. Então, se ele é vítima de um, ele é vítima do outro também", pondera.
O "esquizofrênico" combate à corrupção
Em relação à prisão de Fernando Collor, o jornalista André Marsiglia considerou "absurdo" e "ridículo" tratar de forma diversa dos outros casos da Lava Jato, pois a origem é a mesma. Marsiglia classifica a situação como uma maneira de "relativizar a arbitrariedade".
Para Guilherme Kilter, a prisão do ex-presidente é "mais uma evidência das condenações políticas do Supremo". Kilter lembra de outros políticos condenados pela Lava Jato mas que o STF decidiu soltar, como Sérgio Cabral, Antonio Palocci e José Dirceu. E indaga: "Por que pegar o caso do Collor?".
Já em relação ao escândalo bilionário do INSS, Marsiglia aponta a "perversidade" do episódio, por envolver o roubo de dinheiro de aposentados e pensionistas, que já ganham pouco e precisam dos recursos para atender minimamente suas necessidades essenciais. Ele discute a responsabilidade criminal do ministro Carlos Lupi, afirmando que o fato de ele saber da fraude e não agir para impedi-la constitui um "ilícito por omissão".
Kilter, ao refletir sobre como se manifesta a corrupção brasileira, afirma que ela é "particular", e que a cultura do "jeitinho brasileiro" se espalha para políticos e até juízes. Dallagnol, porém, ressalta que, na base da pirâmide social brasileira, os índices de corrupção são baixos e são mais altos nas esferas de poder.
Marsiglia ainda aponta alguns fenômenos problemáticos, para além do citado "jeitinho", como a "desculpabilização", ou seja, a ideia de que "todo mundo faz" e o "patrimonialismo", que trata o público como privado. Segundo ele, ambos contribuem para essa cultura permissiva.
O programa Última Análise faz parte do conteúdo jornalístico ao vivo da Gazeta do Povo, no YouTube. O horário de exibição é das 19h às 20h30, de segunda a quinta-feira. A proposta é discutir com mais reflexão, e menos paixão, os grandes temas desafiadores para o futuro do país.



