No último sábado, (26/03), o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), que já tentou transformar o Brasil em uma Albânia, completou 100 anos. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve na comemoração do centenário, e sua presença não causaria maior alarde se não fosse um detalhe compartilhado nas redes sociais: uma foto do braço de Lula ostentando um relógio Piaget com valor estimado em R$ 80 mil.
Em conversa com deputados do PSOL (outro partido apêndice do PT) nesta quarta-feira (30), Lula justificou o uso do relógio daquele jeito típico dele, misturando papo de boteco e falsa humildade. “O Stuckert [fotógrafo de Lula desde o período em que foi presidente] quer que eu sempre tire foto dos quatro dedos e ninguém presta atenção no meu relógio, só nos quatro dedos, agora prestaram atenção em outra coisa”, afirmou, acrescentando que “disseram que vale R$ 100 mil. Ótimo, já paga metade da campanha”. Só para registro, em sua última campanha presidencial, em 2006, foram gastos R$ 90 milhões, o equivalente a 1.125 relógios iguais ao que usou no sábado.
A história do Partido dos Trabalhadores com relógios é longa. Ministro da Casa Civil durante o primeiro mandato de Lula, de 2003 a 2005, José Dirceu era paparicado em Brasília com vários mimos quando era o homem mais poderoso e influente do Brasil. Um desses presentes foi um Rolex dado pelo então presidente do PTB (partido que na época se tornou aliado do PT graças ao Mensalão), José Carlos Martinez (1948-2003).
Como conta o jornalista Otávio Cabral no livro “Dirceu”, biografia lançada em 2013 pela Editora Record, o ministro “quis ficar com o presente, mas foi avisado por assessores de que o código de ética proibia mimos de valor elevado. Resolveu, então, doá-lo ao Fome Zero, programa que era a principal peça de marketing do início do governo. Meses depois, a decepção. A Caixa, que leiloaria o relógio, descobrira que era uma falsificação: ‘Martinez, te enganaram. O Rolex que você me deu de presente é falso’ — avisou por telefone, ao receber a notícia.”
Big Brother Brasil
A história se espalhou por Brasília e, em 2004, um ministro bastante agradecido pelo cargo que ganhou graças à insistência de Dirceu junto a Lula queria retribuir o favor com um presente à altura. Até pensou em repetir o presente de Martinez, mas desistiu ao lembrar do episódio do relógio falsificado. É bom lembrar que em Brasília morava a famosa “promotora de eventos” Jeany Mary Corner, que ficou conhecida como pivô da queda de outro poderoso ministro de Lula, Antônio Palocci. Ela organizava festas com garotas de programa de luxo para políticos da capital, e foi presa em 2013 acusada de vários crimes, inclusive lavagem de dinheiro. Foi nesse ambiente que surgiu a ideia do presente “perfeito”, vinda de um assessor do ministro: “Conheço uma moça em São Paulo que agencia as melhores mulheres do Brasil. Coisa de primeira, tem até Miss Brasil e atriz da Globo”, conforme conta Cabral em seu livro.
O ministro ligou para a cafetina e recebeu como resposta que havia uma participante do reality show Big Brother Brasil que havia posado nua para uma revista. Preço por uma noite: R$ 30 mil. Como o ministro interessado em presentear Dirceu era rico, além dos R$ 30 mil não serem um problema, ele enviou a modelo em um jatinho particular para Brasília, onde ficaria hospedada na suíte presidencial de um hotel de luxo. O ministro telefonou para Dirceu e passou as instruções. “Seu presente chegou. Está na suíte presidencial do Hotel Naoum. É só chegar lá e bater na porta.”
De acordo com o relato de Cabral em seu livro, “Dirceu seguiu as instruções e encontrou a inesquecível lembrança deitada na cama. Passaria as duas horas seguintes na suíte. Na saída, enquanto esperava seu motorista, telefonou ao ministro para agradecer: ‘Cara, você é maluco! Que presente foi esse? Foi a melhor coisa que eu ganhei na minha vida!’”.
Por que relembrar essa história agora? Em Brasília, presentes de vulto são uma forma de demonstrar apreço por quem está no poder. Lula quis dar a entender aos parlamentares do PSOL que o relógio de R$ 80 mil era apenas um entre vários que recebeu enquanto esteve na presidência, algo quase sem importância. A história por trás do Rolex falsificado de José Dirceu, 18 anos anos atrás, mostra que nem sempre um relógio é apenas um relógio.
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