O Canadá está abandonando o mundo ocidental. Em termos de governo com poderes amplos, supressão aos opositores e negação dos direitos fundamentais dos cidadãos, o Canadá é hoje mais parecido com Cuba do que com quaisquer outros países livres. O Canadá até pode voltar à civilização ocidental, mas, no momento em que escrevo este texto, a maioria dos canadenses não parece interessada nisso.
De acordo com o instituto Maru Public Opinion, “dois terços (66%) dos canadenses apoiam o uso da Lei de Emergência por parte do primeiro-ministro Justin Trudeau. A maioria (56%) dos canadenses não apoia os protestos dos caminhoneiros. Essa maioria é vista em todas as províncias do país”.
Acho que muitos norte-americanos – e com certeza muita gente fora dos Estados Unidos ou do Canadá – desconhece o que exatamente o primeiro-ministro marxista está fazendo com o Canadá. Então me permita recapitular.
Na semana passada, pela segunda vez na história canadense – a primeira vez foi com o pai de Justin Trudeau, Pierre Trudeau, outro marxista a governar do Canadá – o primeiro-ministro invocou a Lei de Emergências. Essa lei permite que o primeiro-ministro suspenda direitos fundamentais e governe como ditador.
A CBC descreveu em detalhes como Trudeau está usando a Lei de Emergências para destruir a vida dos dissidentes. Leia isso com muito cuidado. Esse tipo de medida nunca foi tomada por um país ocidental contra seus próprios cidadãos (exceto nos raros casos em que os cidadãos se envolveram com terrorismo).
“Usando os poderes garantidos pela Lei de Emergências, o governo federal ordenou que bancos e outras instituições financeiras parassem de fazer negócios com pessoas associadas ao comboio contrário à obrigatoriedade das vacinas e que ocupa a capital do país.
A nova orientação governamental, chamada de 'medidas emergenciais de ordem econômica', vai além de apenas impedir que os bancos transfiram dinheiro para os organizadores do protesto. O governo quer que os bancos deixem de fazer negócio com algumas pessoas.
A ordem diz que bancos e outras instituições financeiras (como cooperativas de crédito, fundos e plataformas de criptomoedas) devem parar de 'oferecer quaisquer serviços financeiros a pessoas relacionadas aos protestos' – o que resultará no congelamento de contas, sequestro de fundos e cancelamento de cartões de crédito.
A Lei de Emergências confere às autoridades poder de congelar os fundos das pessoas relacionadas aos bloqueios e protestos, e as consequências podem se estender para além do fim das manifestações.
A definição da lei para 'suspeitos' inclui (...) qualquer pessoa que doe dinheiro em apoio a esses protestos.
Mark Blumberg é advogado na firma Blumberg Segal LLP e se especializou no direito filantrópico. Numa entrevista, ele disse que, ainda que a Lei de Emergências dê aos bancos poderes por um tempo limitado, essas instituições 'podem decidir fechar a conta da pessoa' por causa dos enormes riscos que esses bancos assumiriam ao atender esses clientes no futuro. Os bancos trabalharão juntamente com as forças policiais para decidirem quem deve ou não ser expulso do sistema bancário.
Uma autoridade do governo disse que a polícia poderia reunir nomes e as placas dos carros das pessoas que participam do protesto ou de uma reunião considerada ilegal e compartilhar essas informações com a FINTRAC [Centro de Análise e Transações Financeiras do Canadá].
Jessica Davis, ex-analista do CSIS [Serviço de Segurança e Inteligência do Canadá], disse que 'as pessoas que participam do protesto não conseguirão pagar contas de casa ou a hospedagem em hotéis. Elas também acabarão ficando sem suprimentos'.
Sem o acesso às contas bancárias, cartões de crédito e outros instrumentos financeiros, os manifestantes não conseguirão pagar as contas dos hotéis e os combustíveis para os veículos.
No longo prazo, disse David, será difícil para os caminhoneiros encontrarem trabalho porque eles não poderão pagar pelo seguro dos caminhões. 'Pagar as contas de casa, o aluguel e qualquer outro tipo de transação financeira cotidiana será impossível para as pessoas que tenham feito parte do protesto', disse ela. Também poderá haver 'consequências não intencionais', como a suspensão do pagamento de pensões alimentícias, disse David. 'Será muito difícil para essas pessoas'.
Aos bancos foi dada imunidade de qualquer ação legal no caso de disputas jurídicas. 'Sob a Lei de Emergências, nenhuma ação jurídica poderá ser tomada contra as entidades que cumprirem a Lei', diz a legislação”.
Nenhuma dessas medidas destruidoras e que desafiam o devido processo legal são necessárias. As manifestações dos caminhoneiros poderiam ter terminado com a prisão daqueles que insistissem em não mover os caminhões ou com a simples remoção das máquinas. O objetivo dessa legislação é destruir os dissidentes e intimidar futuros movimentos de oposição. Numa palavra, é arruinar a vida dos que desobedecem Trudeau.
Como alguém que acompanha a vida dos canadenses há décadas – já dei aula em nove das dez províncias do Canadá – a decadência moral do país é deprimente, mas não surpreende.
Desde meus tempos de faculdade, nos anos 1970, viajei para o exterior anualmente, menos em 2020. Visitei cerca de 130 países. Não me interessava apenas pelos países que visitava, mas também pelos turistas que os visitavam. Lembro-me bem de ver muitos jovens canadenses que costuravam a bandeira do Canadá em suas mochilas. Como quase nenhum turista de outro país fazia isso, perguntei aos canadenses por que eles ostentavam a bandeira. A justificativa era a de que eles não queriam ser confundidos com norte-americanos.
Não sou o primeiro a observar que uma parte importante da identidade canadense – sobretudo entre as elites – está no fato de eles não serem norte-americanos. Muitos canadenses se identificam por oposição aos norte-americanos. Fora isso, não há muitos outros elementos de identidade entre os canadenses. E, quando uma nação não se identifica com basicamente nada, coisas ruins acontecem – porque o nada geralmente é preenchido ou substituído pelo mal.
No meu programa de rádio, certa vez perguntei a Charles Krauthammer, um dos mais inteligentes analistas de sua época, qual a maior diferença entre o Canadá, sua terra natal, e o país que ele escolheu para morar, os Estados Unidos. Sem hesitar, ele disse que, nos Estados Unidos, o mote nacional é “vida, liberdade e a busca da felicidade”, enquanto no Canadá é “paz, ordem e bom governo”. O primeiro mote inspira um país; o segundo, não.
Quando da morte de Fidel Castro, Trudeau fez a melhor e mais positiva avaliação do tirano cubano. Vale citá-la na totalidade porque as palavras de Trudeau demonstram o amor dele ao comunismo e porque Trudeau está transformando o Canadá numa Cuba.
“É com muita tristeza que fiquei sabendo hoje da morte do presidente mais longevo de Cuba. Fidel Castro foi um grande líder que ajudou seu povo durante mais de meio século. Revolucionário e orador lendário, Castro melhorou significativamente a educação e o sistema de saúde da nação insular.
Apesar de ter sido um personagem controverso, tanto os apoiadores quanto os detratores de Castro reconhecem a dedicação e o amor dele pelo povo cubano, que nutre uma profunda e duradoura afeição por ‘el Comandante’.
Sei que meu pai tinha muito orgulho de chamá-lo de amigo e tive oportunidade de conhecer Fidel quando do falecimento do meu pai. Também foi uma honra ter conhecido os três filhos e o irmão dele, o presidente Raul Castro, durante minha visita a Cuba.
Em nome de todos os canadenses, eu e Sophie oferecemos nossas profundas condolências à família, amigos e aos muitos admiradores de Castro. Juntamente com o povo de Cuba, sofremos hoje a perda desse líder notável”.
Ainda há uma grande diferença entre o Canadá e Cuba. Poucos cubanos apoiam seus líderes marxistas, enquanto muitos canadenses apoiam os líderes marxistas deles. Eles não sabem onde estão se metendo.
Dennis Prager é colunista do Daily Signal, radialista e criador da PragerU.
© 2022 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura
Deixe sua opinião